Desatenção, inquietude e impulsividade são sintomas clássicos do TDAH
Começou nessa segunda-feira (29) a Semana Nacional de Conscientização sobre o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). Instituída pela Lei nº 14.420/2022, ela visa promover a conscientização sobre a importância do diagnóstico e tratamento precoces em indivíduos com esta neurodivergência.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta que ao menos 3% da população mundial tenha TDAH, mas há uma diferença grande das taxas de diagnóstico de país a país. De acordo com a Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA), o número de casos varia entre 5% e 8% a nível mundial. Estima-se que 70% das crianças com essa neurodivergência apresentam outra comorbidade e pelo menos 10% apresentam três ou mais comorbidades.
Os sintomas mais conhecidos são desatenção, inquietude e impulsividade. Mas o transtorno pode trazer muitos outros sintomas e, ainda na escola, a criança sofre na tentativa de se adequar ao comportamento social esperado.
De acordo com o médico neurologista da Coordenação de Atenção à Saúde do Servidor (Coasas), Pedro Henrique Lopes da Silva, embora em alguns casos o paciente tenha o predomínio da hiperatividade e em outros da desatenção, o diagnóstico de TDAH vem quando a presença desses dois fatores causam disfunção na esfera social, no desempenho acadêmico e no desenvolvimento cognitivo.
— Quanto antes a criança ou adolescente com TDAH for identificado, mais cedo o tratamento, seja farmacológico ou terapêutico, começa a surtir efeito e melhora o desenvolvimento deste indivíduo — explica.
Segundo o médico, os primeiros sinais surgem antes dos 12 anos. É importante que os pais busquem uma avaliação médica se perceberem sintomas persistentes. O diagnóstico correto e preciso do TDAH só pode ser feito através de uma longa anamnese (entrevista) com um profissional médico especializado.
Pedro reforça que é muito importante o diagnóstico precoce para evitar o escalonamento dos sintomas que podem levar a outros quadros, como ansiedade e depressão.
— É um transtorno muito complexo, que requer uma abordagem multidisciplinar, uma vez que o paciente vai ter outras comorbidades. Uma avaliação neuropsicológica vai servir para entender quais são os pontos de vulnerabilidade da criança para que haja uma abordagem mais específica — orienta.
Observação e acolhimento
Ana Lucia Geaquinto dos Santos, aposentada da Casa, observou que, quando o filho Vitor tinha 14 anos, uma mudança de escola gerou consequências inesperadas.
— Ele ficou mais introspectivo, tímido, o rendimento acadêmico caiu, ele relatou que estudava e não conseguia reter os conteúdos, e resolvemos investigar a questão — lembra.
Depois de ser encaminhado para uma avaliação neuropsicológica, com vários testes e questionários, a neuropsicóloga diagnosticou Vitor com TDAH.
— Foi crucial para entender que não é preguiça ou desleixo, mas que é da condição dele. Foi fundamental a terapia, os remédios e a compreensão da escola neste sentido. É necessário um ambiente mais inclusivo e compreensivo para pessoas com TDAH, por isso é tão importante a conscientização — relata.
Com a acolhida e o tratamento, Vitor reverteu o quadro e hoje tira boas notas, consegue manter o foco nos estudos e se prepara para o vestibular.
— Hoje ele se sente à vontade para falar abertamente sobre isso e tem empatia por colegas que descrevem situações similares — conta.
Vida adulta
Desde a infância, a webdesigner no Serviço de Arquitetura da Informação e Design (Seaind), Luciana Farias, recorda-se de conviver com um sentimento de inadequação.
— Eu sentia que tinha alguma coisa diferente, sempre era chamada de desligada, esquecida e desatenta, e eu carreguei isso para a vida adulta sem me dar conta de que podia existir alguma questão por trás — relembra.
Foi na leitura do livro Mentes Inquietas, obra da psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva que desmitifica o TDAH, que Luciana despertou para a possibilidade de ter a neurodivergência.
— Eu não tenho alguns traços de agitação, mas existem outras características que, quando li, me identifiquei e me descobri. O livro fala sobre estratégias de como lidar com pessoas com TDAH, o que me ajudou a lidar comigo mesma e ser mais compassiva com os sintomas — explica.
Após buscar testes e acompanhamento psicológico, Luciana relata que pôde compreender melhor, olhando em retrospecto, dificuldades e desafios que viveu ao longo da vida.
— O diagnóstico foi importante para buscar estratégias e acompanhamento, o que diminuiu a agitação mental — conta.
Sobre a Semana Nacional de Conscientização sobre o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade, ela reconhece a importância de se falar sobre o tema de forma aberta.
— É fundamental ter esse momento de conscientização tanto para as pessoas com TDAH quanto quem está ao redor, para entender melhor e promover uma convivência mais harmoniosa — conclui.