Microbiota: você é o que você come
Tudo que ingerimos é transformado ao longo do trato gastrointestinal, um complexo sistema responsável por processar alimentos, absorver nutrientes e eliminar o que não é aproveitado pelo organismo. Interligado por órgãos e glândulas, ele precisa da ajuda essencial de uma grande quantidade de bactérias, vírus e fungos que habitam essa região do corpo, a chamada microbiota intestinal.
Esses microorganismos são benéficos e estão relacionados a várias funções importantes, como a síntese de vitaminas, absorção de nutrientes e a integridade da mucosa intestinal, que permite controlar a proliferação de bactérias patogênicas – causadoras de doenças. Por tudo isso, a microbiota intestinal tem ganhado atenção crescente de pesquisadores e médicos.
“Entender nosso microbioma pode transformar nossa compreensão sobre como corpos saudáveis se tornam doentes, como o envelhecimento leva à enfermidade e como alteramos nossos ecossistemas internos para prevenir e tratar uma vasta gama de condições”, afirmou a reitora da Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard, Michelle Williams, em recente reportagem publicada pela instituição.
Da mesma forma que nenhuma impressão digital é igual, os estudos mostram que cada indivíduo tem seu próprio padrão de microbiota, estabelecido até os dois anos de idade a partir dos microorganismos presentes, por exemplo, na alimentação e nas pessoas com quem o bebê tem contato, como a mãe. Depois dessa fase, a microbiota se adapta ao longo do tempo em resposta ao ambiente, dieta e estilo de vida da pessoa.
Quem tem animais de estimação, por exemplo, tende a ter uma microbiota mais diversificada, pela quantidade de organismos trazidos por esses bichos. Acredita-se, porém, que ao longo do século passado, houve uma diminuição na diversidade do microbioma humano, possivelmente por causa do saneamento e da medicina moderna.
Estilo de vida
Entre os fatores ligados ao estilo de vida, um dos que mais afeta a microbiota é a dieta. Nesse sentido, a ingestão de alimentos saudáveis, variados e ricos em fibras favorece a diversidade e a quantidade de microorganismos presentes no trato gastrointestinal. Embora nosso sistema digestivo não decomponha fibras, elas são um alimento essencial para a microbiota.
Por outro lado, uma dieta baseada em alimentos processados e ultraprocessados, ou seja, rica em gordura, açúcares e aditivos químicos, predispõe à disbiose – alteração nos tipos e na quantidade de microorganismos. Esse desequilíbrio também é favorecido pelo consumo de bebidas alcoólicas e cigarro, por estresse, sedentarismo e pelo uso de antibióticos, porque estes eliminam do corpo tanto as bactérias más quanto as boas.
A disbiose pode levar a distúrbios gastrintestinais com sintomas como diarreia, dor abdominal, flatulência e constipação. Além disso, ela está associada a quadros inflamatórios, alergias e ao desenvolvimento de doenças crônicas e autoimunes.
- Testes com probióticos (bactérias boas) e prebióticos (fibras) mostraram ser possível modular o crescimento e alterar as características da flora intestinal com o objetivo de prevenir e tratar obesidade, doenças inflamatórias, infecciosas, degenerativas e até transtornos psiquiátricos – explica o oncologista Drauzio Varella em seu portal eletrônico sobre saúde.
Cuide da sua microbiota
Um estilo de vida saudável garante as condições para o bem-estar geral de uma pessoa e também tem impacto direto sobre seu ambiente intestinal.
- coma bem: alimentos saudáveis e ricos em fibras são os favoritos da microbiota. Inclua frutas, vegetais, leguminosas e grãos integrais no seu dia a dia.
- mexa-se: pesquisas indicam que a atividade física influencia o apetite, a maneira como o corpo processa os alimentos ingeridos e a velocidade com que esses alimentos se movem pelo sistema gastrointestinal.
- probióticos: as boas bactérias, conhecidas como probióticos, contribuem para a diversidade da microbiota e podem ser ingeridas na forma de pílulas ou pós, conforme indicação de profissional de saúde. Mas elas também são naturalmente encontradas em alimentos fermentados, como iogurte, chucrute e kefir.