Má-formação cardíaca deve ser diagnosticada ainda no útero

Cardiopatias congênitas são um conjunto de defeitos na estrutura ou no funcionamento do coração.
12/06/2021 11h40

sangue azulUma em cada cem crianças nascidas no Brasil apresenta alguma má-formação no músculo cardíaco, o que faz problemas do coração serem o defeito congênito mais comum nos recém nascidos. De acordo com o Ministério da Saúde, cerca de 8% das mortes de bebês são causadas por eles, sendo que 30% dos pacientes, casos mais graves, não sobrevivem ao sétimo dia. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que cerca de 130 milhões de crianças tenham algum tipo de cardiopatia congênita.

A boa notícia é que um pré-natal bem feito e o planejamento de como tratar cada caso salva muitas vidas. Dependendo da cardiopatia congênita, ela pode ser detectada ainda no útero materno, durante as ultrassonografias, e, nos casos graves, os médicos já planejam intervenções logo após o parto. De acordo com o Hospital Sírio-libanês, alguns procedimentos para alargar as artérias são feitos no bebê via cateterismo. Na maioria das vezes, as cardiopatias congênitas exigem o uso de medicamentos, cirurgia ou até transplante cardíaco.

O cardiologista Ivan Penna, do SIS, explica que o melhor exame para suspeitas levantadas no pré-natal é o ecocardiograma fetal, entre 21 e 28 semanas de gestação.

– O diagnóstico precoce pode ser muito útil para que o tratamento ocorra no momento adequado e ele vai variar de acordo com o tipo de cardiopatia. Por outro lado, o diagnóstico às vezes é tardio, podendo inclusive acontecer na idade adulta. Nesses casos, pode ocorrer evolução irreversível da cardiopatia, impossibilitando inclusive seu tratamento cirúrgico adequado.

Tipos

O Hospital da Criança da Universidade de Stanford, na Califórnia, sintetiza os problemas causados por cardiopatias em três grandes áreas: pouco sangue no corpo, por má-formação das câmaras cardíacas ou bloqueio nas artérias que impedem a passagem da quantidade certa de sangue para o restante do corpo; sangue demais nos pulmões, em vez de esse sangue rico em oxigênio estar passeando pelo corpo inteiro fica recirculando pelos pulmões, causando pressão; e pouco sangue nos pulmões, que são onde o sangue ganha oxigênio. Sem a quantidade suficiente, o corpo não recebe oxigenação e o bebê fica azulado.

A cor azulada dá indícios de problemas graves na circulação do sangue. A cardiopatia congênita do tipo cianótica pode levar o bebê à morte se não for tratada. Ela começa no momento do parto: como a respiração do feto é pela placenta, a separação dos átrios esquerdo e direito é incompleta. Da mesma forma, há uma ligação entre a aorta e a artéria pulmonar, desviando o sangue dos pulmões na vida intrauterina. No nascimento, essas comunicações (paredes) precisam se fechar para que a criança passe a respirar pelo pulmão, e em alguns casos, esse fechamento não acontece, ou acontece de forma incorreta. A mistura do sangue oxigenado (vermelho vivo) com o sangue não-oxigenado (mais azulado) dá origem ao termo popular “bebê de sangue azul”, que os médicos chamam de cianose.

De acordo com Ivan Penna, o teste do coraçãozinho detecta a cianose ainda na maternidade. É um teste de baixo custo que avalia freqüência cardíaca e saturação da criança.

– Mas, por ser um teste que avalia a cianose, coloração azulada do sangue em virtude de uma mistura inadequada por um defeito congênito, este teste pode não diagnosticar cardiopatias congênitas que não cursem com cianose - e são várias as modalidades que não se apresentam dessa maneira logo ao nascimento. Por isso, idealmente o diagnóstico deve ser feito por meio do ecocardiograma fetal – alerta o cardiologista.

Sintomas

O medo de deixar passar sinais de cardiopatias pode assustar os pais. Se no pré-natal nada foi visto, nem nos dias de hospital do pós-parto, quando são feitos vários exames, é interessante estar atento aos seguintes sintomas especialmente quando cumulativos: falta de ar, dificuldade de mamar e de ganhar peso, suor na cabeça ao mamar, tosse, pneumonias recorrentes, tonturas e desmaios, pressão arterial desregulada (para mais ou menos) e pele azulada.

Pessoas com antecedentes de cardiopatia congênita em familiares devem ficar atentos, pois há há risco maior de ocorrência nos filhos de pais portadores destas cardiopatias, de acordo com Ivan Penna.

– Portadores de doenças genéticas, como síndrome de Down, e filhos de mães com hipertensão arterial, diabetes e infeções como rubéola e sífilis também têm risco aumentado de má-formação cardíaca – destaca o médico.

 

Conscientização

A conscientização de cardiopatias congênitas no Brasil é feita em 12 de junho não por coincidência. Alguns países que celebram o dia dos namorados (Valentine’s Day) em 14 de fevereiro também aproveitam essa data para a conscientização sobre as doenças do coração.