Lesão causada pelo fumo de eletrônicos provoca dor no peito, tosse, falta de ar e febre
O uso de dispositivos eletrônicos para fumar avança entre os brasileiros, apesar de a proibição ao comércio desses produtos vigorar no país desde 2009. São quase 2,9 milhões de usuários, segundo o instituto Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec). O número apurado no ano passado é seis vezes maior que em 2018, quando os usuários chegavam a 500 mil.
Conhecido por diferentes nomes, entre eles cigarro eletrônico, vaper e pod, o dispositivo eletrônico para fumar tem o formato e o tamanho variados, assim como a composição. Em geral, metais pesados e diluentes, além de aditivos para dar sabor e nicotina, que causa dependência.
O uso desses dispositivos está associado ao aumento de risco para doenças relacionadas ao tabagismo e principalmente para um tipo específico de lesão pulmonar aguda, conhecida por Evali (e-cigarette and vaping product use-associated lung injury, na sigla em inglês).
O oncologista clínico Igor Morbeck, diretor médico do grupo Oncoclínicas no DF, credenciado ao SIS, explica que o dispositivo eletrônico costuma ter efeito mais potente que o cigarro convencional e, por isso, o dano aos pulmões surge mais rápido.
− Esses dispositivos podem causar uma reação inflamatória extensa nos pulmões, que só costumava ser vista em fumantes de décadas. Os prejuízos surgem muito mais rápido e podem ser fatais – alerta.
Os principais sintomas de Evali incluem dor no peito, tosse, falta de ar e febre. O diagnóstico é feito pela exclusão de outras doenças e pelo histórico do paciente relacionado ao uso de dispositivos eletrônicos para fumar.
Retrocesso
O avanço do cigarro eletrônico contrasta com a redução do tabagismo entre brasileiros adultos nas últimas décadas. O número de fumantes caiu de 35% em 1989 para 18,5% em 2008 e 12,6% em 2019. As estatísticas refletem as políticas públicas que tornaram o Brasil referência mundial no combate ao tabaco.
As medidas governamentais adotadas por aqui desde os anos 1980 incluem proibição à publicidade de tabaco em meios de comunicação de massa (televisão, rádio, revistas, jornais e outdoors) e ao patrocínio de marcas de cigarros em eventos culturais e esportivos, advertências sobre os malefícios do tabagismo e restrição ao fumo em locais fechados, além do aumento do imposto sobre derivados do tabaco.
Cigarro industrializado, de palha, aromatizado, charuto, cachimbo. Além dos recentemente popularizados narguilé e dispositivos eletrônicos para fumar. As formas de consumo do tabaco são variadas. Mas é bom saber que não há níveis seguros para uso desses produtos e todas as apresentações disponíveis comprometem muito a saúde.
Os malefícios do tabagismo estão provados desde meados do século passado. O fumo é responsável por 90% dos casos de câncer de pulmão e contribui de forma significativa para outros tipos de câncer e doenças pulmonares e respiratórias, como bronquite crônica e enfisema pulmonar, além de ocorrências de acidente vascular-cerebral e ataque cardíaco. Por tudo isso, é a principal causa evitável de adoecimento e mortes precoces em todo o mundo.
Segundo o oncologista Igor Morbeck, o risco para a saúde aumenta conforme a exposição, seja em função da quantidade ou do tempo de uso. Mas mesmo quem fuma de forma discreta, eventual e recreativa não está isento a problemas relacionados a cigarro.
− Tanto que a recomendação é de que todos os fumantes e ex-fumantes façam tomografia de tórax anualmente, medida que ajuda a reduzir muito a mortalidade por câncer de pulmão – explica o médico.
Nicotina
Tabaco é a planta que tem a nicotina como princípio ativo. A substância, responsável pelo efeito viciante do fumo, é considerada uma droga porque tem propriedades psicoativas – age no cérebro e altera o estado emocional e o comportamento do usuário.
A nicotina estimula a liberação de neurotransmissores como a dopamina, que atua em várias funções do organismo, entre elas, humor e prazer. No longo prazo, o fumante precisa de mais nicotina para ter a mesma sensação de bem-estar.
Tratamento
O tabagismo é a doença crônica caracterizada pela dependência de nicotina e está incluída na Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial de Saúde (CID).
Para de fumar não depende simplesmente de força de vontade. O tratamento contra tabagismo é multidisciplinar e deve envolver profissionais da área médica, assim como psicólogo e mesmo especialistas em outras terapias, como acupuntura.
Por Juliana Costa