Homens cuidam menos da própria saúde

Pesquisa da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) mostra que 55% dos entrevistados acima de 40 anos deixaram de fazer alguma consulta ou tratamento médico em função da pandemia da covid-19.
13/11/2020 19h05

Os homens morrem mais cedo e, em relação às mulhers, são mais negligentes nos cuidados relacionados à saúde. Na pandemia, eles estão ainda mais afastados dos consultórios médicos. Pesquisa da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) mostra que 55% dos entrevistados acima de 40 anos deixaram de fazer alguma consulta ou tratamento médico em função da pandemia da covid-19.

Pelo menos 81% dos entrevistados têm a impressão de que as pessoas estão indo menos ao médico ou fazendo menos tratamentos. As respostas apontam que 23% dos participantes relataram ter encontrado dificuldade de acesso ao procurar por consultas ou tratamentos médicos durante a pandemia e 40% reconheceram que sequer procuraram.

A pesquisa online abrangeu 22 estados da federação e teve 499 participantes. Dos entrevistados, 75% tinham mais de 40 anos, 77% eram do sexo masculino, 2,18% já tiveram um diagnóstico de câncer de próstata e apenas 6% admitiram que não cuidavam ou não se importavam com a sua saúde de forma habitual.

Resistência

Na visão do psicólogo Rolf Regehr, servidor do Senado e pesquisador na área de saúde masculina, a resistência natural dos homens a procurar a ajuda de médicos acontece pelo mito da infalibilidade masculina, ainda bem presente na sociedade.

– Ir ao médico é uma situação em que se corre o risco de se ver frágil. O diagnóstico pode destruir a impressão de invencibilidade. Tanto que muitos homens relatam que só procuram médicos por insistência de uma mulher, seja a esposa, a mãe ou a filha – explica o psicólogo.

Citando dados do Sistema Único de Saúde (SUS), Regehr diz que a falta de acompanhamento da saúde leva a complicações e a consequência é que a maioria das pessoas internadas são homens – desconsideradas as internações por parto/puerpério – e a mortalidade masculina em internações também é maior, especialmente por causa das doenças cardíacas.

Saúde mental

Se os homens tentam ficar longe de consultas relativas à saúde do corpo, no caso da saúde mental o cenário é ainda pior. Segundo Rolf Regehr, uma grande parte tenta fazer compensações para lidar com problemas antes de, efetivamente, reconhecerem que precisam de ajuda profissional. A compensação mais recorrente é o álcool, por ser ansiolítico e de fácil acesso. Mas drogas ilícitas, comportamento de risco e tentativas ou suicídio de fato são outras medidas para lidar com problemas.

Um dos problemas sociais mais associados a essa angústia velada  são os comportamentos agressivos contra terceiros. Regehr conta que pesquisou uma série de autores de crimes tipificados na lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006) e a realidade é de que eram homens em grande sofrimento.

– Um homem feliz não agride. Machismo é um sofrimento desenvolvido ao longo de muitos anos. É uma suposta auto-suficiência que cobra um preço caro demais.

O psicólogo enxerga o início desse problema na criação dos meninos com pouco incentivo à exposição emocional. Se não são estimulados a falarem o que sentem, afirma, quando são adultos não vão falar.

– Eles chegam às clínicas sem ao menos conseguir expressar exatamente o que sentem, muito menos com habilidade para lidar com isso. A essa falta de capacidade de falar de si mesmo chamamos alexitimia.

Depressão

O psicólogo afirma que a dificuldade do homem de procurar ajuda agrava sintomas em doenças como a depressão. Quando o paciente finalmente chega ao consultório o quadro pode estar bastante avançado.

– O homem tem muito mais dificuldade de reconhecer que está mal, que um relacionamento o magoou, que ele falhou em determinado objetivo da vida. Mas é preciso procurar ajuda assim que o problema aparece, quando houver o incômodo, é preciso ter coragem para olhar para si e perceber que a partir daquele momento é preciso uma ajuda externa.

Uma das faixas que mais apresenta problemas de saúde mental é a dos idosos – muitas vezes angustiados pela solidão, pelo medo da morte e pela ociosidade causada pela aposentadoria. A perda de referência de trabalho é muito mais forte neles, avalia Regehr, em comparação às mulheres, que tendem a desempenhar mais atividades mesmo na terceira idade.

– A perda da identidade de trabalhador é um duro golpe para o homem. Essa nova forma de vida sem o reconhecimento do  trabalho é um risco para a saúde mental do homem idoso – alerta. Assista aos principais trechos da entrevista abaixo:

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Foto: Freeimages/creative commons

Com informações da EBC