Demência tem várias causas e varia conforme a área do cérebro onde a perda se instala
Problemas de memória, desorientação e perda de noção do tempo, dificuldade para encontrar palavras ou acompanhar conversas, oscilações de humor e de comportamento, com episódios de agressividade, falta de inibição ou apatia. Esses são alguns sintomas associados à demência, temo popular e genérico que se refere à diminuição progressiva da função mental.
Com o avanço da idade, pode ocorrer um declínio cognitivo leve, sem problemas graves em atividades como pensar, aprender, entender e lembrar. No entanto, quando a perda é significativa, ela pode estar associada a diferentes condições neurodegenerativas, como Alzheimer, demência por corpos de Lewy, demência vascular e demência frontotemporal. Uma boa parte dessas condições se dá pela disfunção e o acúmulo incomum de uma proteína chamada tau, que existe naturalmente no cérebro humano, mas se em excesso ou disfuncional, torna-se tóxica e provoca danos cognitivos, motores e neuropsiquiátricos.
De maneira geral, os diferentes tipos de demência comprometem a realização de tarefas do dia a dia, como cozinhar, tomar banho e gerenciar finanças, o que leva o paciente à perda gradual da autonomia. Os desafios diários podem gerar profunda tristeza. Não raro, se instala um quadro de depressão e ansiedade, que também precisa ser tratado porque compromete ainda mais a qualidade de vida e pode agravar as dificuldades de raciocínio e memória já presentes.
Alzheimer é o tipo mais comum de demência e tem o avanço da idade como principal fator de risco. No Brasil, o Ministério da Saúde estima que cerca de 8,5% da população com 60 anos ou mais convivem com a doença, o que representa 1,8 milhão de pessoas. A perda de memória costuma ser o primeiro sinal de alerta. Por isso, esquecimentos que se tornam mais frequentes devem ser investigados.
Na demência por corpos de Lewy, o funcionamento do cérebro é prejudicado por depósitos anormais de um tipo de proteína, chamada de corpos de Lewy em homenagem ao neurologista alemão Friedrich Lewy, responsável pela descoberta. É uma condição relativamente comum, em que podem estar presentes sintomas motores, como lentidão de movimento, rigidez muscular e perda de equilíbrio.
Já a demência vascular é resultado de problemas cardiovasculares que afetam a circulação sanguínea e o fornecimento de oxigênio ao cérebro, como pressão alta, níveis elevados de colesterol, arritmias e diabetes.
A demência frontotemporal, condição rara, é caracterizada pela degeneração dos lobos frontal e temporal do cérebro, responsáveis pela linguagem, comportamento e controle das emoções. As causas ainda não estão completamente esclarecidas, mas em muitos casos é uma condição hereditária.
Doença de Parkinson e síndromes parkinsonianas atípicas (Paralisia Supranuclear Progressiva, Atrofia de Múltiplos Sistemas e Degeneração Corticobasal) também são condições neurodegenerativas e podem estar associadas a demência.
A demência no Parkinson se manifesta mais tardiamente, depois de vários anos de evolução de sintomas motores e se caracteriza pela lentidão de pensamento, dificuldade de atenção e prejuízo em funções executivas – como planejamento, tomada de decisões, resolução de problemas, controle de sentimentos e foco nas tarefas.
Na Paralisia Supranuclear Progressiva, a demência é incomum, mas não é rara. Nesses pacientes, a mudança cognitiva acontece mais cedo e se manifesta principalmente como déficit cognitivo e executivo, apatia e mudanças comportamentais. Na Degeneração Corticobasal, sintomas de perda cognitiva são frequentes, Já na Atrofia de Múltiplos Sistemas, também rara, menos de 20% dos pacientes desenvolvem disfunção cognitiva significativa. Quando acontece, o comprometimento costuma ser leve e afetar funções executivas, podendo ser acompanhado de depressão e ansiedade. Nesses pacientes, a demência surge em idade mais avançada.
Sintomas
A geriatra Daniele Cupertino Oliveira explica que os sintomas são específicos de cada tipo de demência e variam conforme a área do cérebro atingida e a intensidade do dano. A avaliação médica deve incluir exames físicos, laboratoriais e de imagem, como ressonância magnética e tomografia computadorizada. Embora não haja cura, Daniele garante que há muito a ser feito no acompanhamento aos pacientes.
− O diagnóstico precoce permite iniciar intervenções que ajudam a controlar sintomas, manter a independência e preservar a qualidade de vida. Há ainda medicamentos que ajudam na cognição e no comportamento, e assim também reduzem a sobrecarga dos cuidadores − detalha a geriatra da clínica Geroclínica, credenciada da rede SIS.
Prevenção
Hipertensão, diabetes, obesidade, tabagismo, depressão, inatividade física e isolamento social são fatores de risco que devem ser evitados ou tratados. Além disso, é fundamental garantir um sono reparador todas as noites. A boa notícia é que mudanças no estilo de vida e cuidados com a saúde podem prevenir ou retardar a demência.
A médica recomenda a dieta Mind, sigla para "Mediterranean-DASH Intervention for Neurodegenerative Delay". Esse plano alimentar é focado na saúde cerebral e na prevenção de doenças neurodegenerativas. A alimentação recomendada é rica em frutas, verduras, legumes, cereais integrais, leguminosas e azeite de oliva, com consumo moderado de peixes, frutos do mar e vinho tinto, e baixo consumo de carnes vermelhas e alimentos processados. Deve-se ainda restringir manteiga, doces e frituras.
− Estudos mostram que aderir à dieta Mind, mesmo que parcialmente, se associa a menor risco de desenvolver Alzheimer – explica.
Igualmente importante é adotar estratégias de estimulação cognitiva. Entre elas, terapias específicas, mas também interação social, por meio de vínculo com familiares e amigos e em grupos de convívio, e leitura. Pode ser jornal ou revista, para quem ainda não tem o hábito. Para quem já lê com frequência, a recomendação é buscar livros que desafiem um pouco mais a compreensão. Usar jogos que estimulam o raciocínio e memória e aprender novas habilidades, como um idioma ou a tocar um instrumento musical, também ajudam a manter o cérebro ativo.
− Avanços em tratamentos dão esperança mas não substituem a atenção aos fatores de risco e cuidados diários – alerta a médica.