Diabetes avançou silenciosamente na pandemia

A necessidade de isolamento, a dificuldade de uso no transporte e, especialmente, o suposto risco maior dos diabéticos desenvolverem a forma mais grave da doença criaram a falsa impressão de que evitar a covid era mais urgente que controlar a glicemia e fazer exames de rotina.
02/12/2021 12h35

A pandemia de covid matou cerca de 5 milhões de pessoas ao redor do mundo em dois anos, exaurindo equipes de saúde em praticamente todos os países. Quando todos lutavam no combate a um vírus, outra doença avançava silenciosamente: o diabetes.

Estudo publicado na Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos (PMC) pelos pesquisadores gregos John Doupis e Konstantinos Avramidis alerta: o mundo precisa correr atrás do prejuízo.

Isso porque desde o início a doença, pelo menos 30 estudos internacionais mostravam a relação de infecção severa de covid em 6,5 mil pacientes com diabetes, sendo maior a prevalência de problemas respiratórios graves, rápida progressão do vírus e alta mortalidade. Isso era ainda mais provado na existência de comorbidades como obesidade, baixa função renal, cardiopatias e hipertensão.

Nesse cenário, a necessidade de isolamento, a dificuldade de uso no transporte e, especialmente, o suposto risco de diabéticos desenvolverem a forma mais grave da doença criaram a falsa impressão de que evitar a covid era mais urgente que controlar a glicemia, por exemplo. Com isso, muitos deixaram de acompanhar as taxas e a doença correu sem controle durante quase dois anos impulsionada pelo sedentarismo e pela mudança nos hábitos alimentares próprios da pandemia.

Ocorrência

Segundo a Organização Mundial de Saúde, 422  milhões de pessoas no mundo têm diabetes. Erra quem pensa que os países ricos e abastados na oferta de alimentos são os que mais contribuem para essa estatística: de cada cinco diabéticos, quatro vivem em países cujo orçamento é considerado baixo ou mediano. O descontrole permeia regiões como as Américas do Sul e Central, que devem passar dos atuais 32 milhões de diabéticos para 48 milhões até 2045. Pouco tempo para um aumento de 50%.

A pior perspectiva recai, contudo, sobre o continente africano – hoje com 24 milhões de casos: em 24 anos, é esperado um aumento de 134%no número de pacientes, indo a 55 milhões. No Oriente Médio e norte da África, um aumento de 87% nos diagnósticos deve fazer o número de adultos com diabetes pular dos 73 milhões registrados hoje para 136 milhões em 2045.

As estimativas acima fazem parte da décima edição do Atlas lançado pela Federação Internacional de Diabetes. Os dados foram recentemente atualizados para a campanha mundial de conscientização sobre a doença, que ocorre em 14 de novembro.

A Sociedade Brasileira de Diabetes calcula que mais de 13 milhões de brasileiros viviam com a doença, sendo esse um número com potencial de crescimento.

A doença

O diabetes tem relação direta com a capacidade do pâncreas de produzir insulina. Esse hormônio é importante para controlar os níveis de glicose (açúcar) do sangue.

O corpo precisa do açúcar para gerar energia. E ele não chega só na forma cristal ou refinada. Os carboidratos, por exemplo, geram outros tipos de açúcares para o corpo, e é a insulina quem processa esse material. Quando uma pessoa tem diabetes, ela não consegue metabolizar a glicose adequadamente e ela fica estocada no sangue (hiperglicemia) de forma permanente. Essa condição pode provocar danos em órgãos, vasos sanguíneos e nervos.

O diabetes pode ser classificado em quatro tipos. O Ministério da Saúde assim os define:diabetes

- Tipo 1: O próprio sistema imunológico da pessoa ataca e destrói as células produtoras de insulina. Ocorre em cerca de 5 a 10% das pessoas com diabetes, sendo mais frequente em jovens e crianças. Por esse motivo, o diagnóstico costuma ser feito na infância e adolescência.

- Tipo 2: Resulta da resistência à insulina. Ou seja, o corpo deixa de produzir quantidade suficiente do hormônio. É o tipo mais comum, encontrado em 90% das pessoas com diabetes, sendo mais comum em adultos ou em pessoas acima do peso, sedentárias, sem hábitos saudáveis de alimentação.

- Diabetes gestacional: Decorrente das mudanças hormonais, a ação da insulina pode ser reduzida durante a gestação. O pâncreas, consequentemente, aumenta a produção de insulina para compensar. Essa é uma condição que pode ou não persistir após o parto.

- Pré-diabetes: Condição caracterizada pelo nível de açúcar no sangue acima do normal, mas não o suficiente para ser diagnosticado como diabetes. Serve de alerta, pois indica um risco grande da doença se desenvolver.

Os sintomas mais comuns e que devem ser investigados são fome frequente, sede intensa, desânimo, fraqueza, sonolência, tontura, perda de peso, urina em excesso, dificuldade na cicatrização de feridas e infecções frequentes.

Hábitos

Para quem quer ficar longe do diabetes e de suas complicações, é importante controlar o consumo de doces, massas e gorduras. A opção deve ser sempre por nutrientes in natura e não processados industrialmente. Para manter os níveis glicêmicos em ordem, recomendam-se exercícios físicos rotineiros, controle de peso e redução de estresse.

Foto: Secom/Senado Federal