Colabore com seu rim no tempo de seca

Até mais do que a dieta, alguns fatores genéticos e o estilo de vida podem levar às pedras, famosas por causarem dores agudas comparáveis aos partos naturais.
21/11/2022 19h00

Não é impressão. De fato a população que vive em lugares mais secos, como o Centro-Oeste, tem mais cálculo renal do que quem mora perto do mar. Segundo o nefrologista Rafael Bagustti, o fator ambiental conta em muito para o desenvolvimento das conhecidas pedras nos rins.

– A falta da água no corpo e no ambiente desequilibra o órgão ao ponto de produzir as pedras – explica Bagustti, médico da Clínica de Doenças Remais de Brasília, credenciada pelo SIS.

Equilíbrio, aliás, é palavra-chave na matemática do rim. Quando se tem pouca água no organismo, ele se torna mais suscetível à formação de cristais na urina. Água em excesso, por outro lado, pode diluir demais as substâncias que vão evitar a formação dos cristais, além de sobrecarregar o trabalho dos rins para expelir tanto líquido.

Anos atrás se dizia que todo mundo deve beber algo em torno de dois litros de água por dia. Hoje em dia, essa fórmula é mais específica, porque leva em conta o peso e a idade de cada um. Os nutricionistas em geral dizem que crianças e jovens devem beber 40 ml por quilo; adultos 35ml e idosos 30 ml. Dessa forma, um adulto com 60kg deveria beber 2,1 litros, enquanto uma criança de 25 kg precisa ingerir um litro diariamente.

Bagustti alerta que na seca ou em dias de atividade física, deve-se acrescentar cerca de 800 ml a essa conta. De acordo com ele, além do desequilíbrio de água, o cálculo renal tem outros dois importantes gatilhos: sódio (sal) e proteína em excesso. Essa seria a razão para que as pedras apareçam especialmente em homens jovens adultos.

– Os homens além de descuidarem mais do controle de água tendem a ser mais sedentários e a comer mais proteínas e sal – explica o médico. Ele alerta, inclusive, para o consumo desenfreado de suplementos proteicos sem orientação médica, sem dose certa e sem água suficiente na dieta para metabolizar a proteína extra.pedra no rim arte

Genética

Até mais do que a dieta, alguns fatores genéticos e o estilo de vida podem levar às pedras, famosas por causarem dores agudas comparáveis aos partos naturais. Bagustti aponta que os descendentes de quem sofre com o problema correm mais risco do que a média da população.

Além do histórico familiar, o cálculo renal tende a ser recorrente em quem já teve o problema anteriormente.

– Estudos mostram que a metade das pessoas que tiveram pedra nos rins deve apresentar um novo cálculo em até cinco anos. A reincidência chega a 75% se considerado o intervalo de dez anos – aponta o nefrologista.

A boa notícia é que o acompanhamento médico pode ajudar muito. Um exame de urina por ano pode acusar o desequilíbrio do tripé sódio, água e proteína e a reincidência pode ser prevenida com mudança no estilo de vida e, se necessário, medicação profilática.

Dor

Mas, afinal, porque uma pedra tão pequena causa uma dor tão grande?

Segundo Rafael Bagustti, a dor pode ser causada pela movimentação do cálculo, pela obstrução das vias, ou pela inflamação do rim causada pela presença do corpo estranho. A dor é a mais intensa quando a pedra está próxima ao ureter, canal que liga o rim à bexiga.

Se medir acima de 7 mm já pode ser indicada uma intervenção, como laser ou a cirurgia aberta, nos casos mais complicados. Quando a pedra se posiciona obstruindo a passagem da urina, por exemplo, o quadro pede intervenção. Mas a maioria das pessoas ainda espera sair naturalmente com a urina.

Numa crise, é importante ser medicado para dor por especialistas. O famoso “chá de quebra pedra”, por exemplo, não tem eficácia confirmada.

– É claro que o chá é um diurético, então naturalmente quanto mais líquido ingerido, maior a chance de a pedra sair, mas a dor de cálculo renal e a própria condição precisam ser acompanhadas por médicos e exames laboratoriais e de imagem – finaliza Bagustti.