Ansiedade e depressão são os principais vilões da saúde mental
Uma em cada oito pessoas vive com alguma doença ou transtorno mental no mundo. Ansiedade e depressão são os mais comuns e chegam a representar 60% dos casos. Enquanto os jovens estão especialmente sujeitos à ansiedade, os mais velhos convivem mais com depressão, segundo dados do último Relatório sobre Saúde Mental no Mundo, publicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
As consequências do adoecimento mental envolvem desde o aumento dos gastos com saúde e a queda na produtividade econômica, em razão de afastamentos do trabalho, até a perda de vidas. O suicídio é estatisticamente responsável por mais de uma em cada 100 mortes no mundo.
Saúde mental é um direito básico de todo indivíduo e condição, tanto quanto a saúde física, para o desenvolvimento pessoal e, em última instância, da sociedade. Em linhas gerais, refere-se à condição de bem-estar em que a pessoa é capaz de lidar com situações e emoções cotidianas, ter satisfação em viver, compartilhar e se relacionar com os outros, manter-se produtiva, enfrentar adversidades e contribuir para a comunidade em que vive. Fica claro, portanto, que a saúde mental é uma condição não apenas complexa, mas dinâmica ao longo da vida.
De forma geral, o adoecimento mental se manifesta a partir da associação de múltiplas causas, que podem incluir hereditariedade, desequilíbrio neuroquímico, exposição a condições estressantes (sociais, econômicas e culturais), dificuldade em lidar com emoções, uso de drogas lícitas ou ilícitas e vivência de traumas.
Ansiedade
O médico psiquiatra Leonardo Takeda explica que situações do dia a dia naturais da vida adulta, como as demandas pessoais e de trabalho, representam desafios para boa parte dos indivíduos, mas podem resultar em sobrecarga para outros. Eventualmente, somam-se a elas projetos pessoais desafiadores, como buscar um novo emprego ou uma melhor moradia. Os sinais de que as exigências estão demasiadas muitas vezes se manifestam no corpo.
Tremor, suor, coração acelerado, boca seca e sono prejudicado são alguns deles. Takeda comenta que esses são os sintomas de ansiedade que normalmente levam as pessoas a buscar atendimento médico em momentos críticos.
– É difícil identificar quando se está sobrecarregado. O adoecimento mental não é percebido logo de início, ele vem sendo acumulado até que chegam as crises – complementa o profissional, responsável técnico da Ser Clínica de Saúde Mental, que presta serviço de psiquiatria nas modalidades ambulatorial, internação, hospital dia e pronto-socorro.
Takeda esclarece que a ansiedade fisiológica é um dos motivadores para a ação diante da vida. Ela é natural e positiva para o ser humano. Assim como também é natural ter variação nas emoções e, em alguma medida, sentir medos e inseguranças. O adoecimento acontece quando a ansiedade se torna generalizada e causa prejuízos físicos e emocionais.
– A ansiedade crônica tem relação com o medo e a preocupação antecipatória, o que torna a pessoa mais isolada, mais chorosa, gera um quadro que se assemelha ao depressivo. São diagnósticos diferentes, mas que se correlacionam – detalha.
Pânico
O médico esclarece ainda que a crise de ansiedade se manifesta de forma semelhante à crise de pânico, mas esta acontece em um contexto que está mais relacionado ao medo da morte. Assim, costuma ocorrer em situações específicas, como quando pessoa está em um local muito cheio ou fechado.
Cuide-se
Para ter saúde mental, é preciso fazer o manejo do estresse e respeitar os próprios limites nos mais variados aspectos da vida – não apenas não apenas na relação entre trabalho e descanso. Além disso, é essencial fortalecer alguns pilares:
Exercício físico |
Favorece o bem-estar mental. Estudos demonstram que pessoas que tomam medicação e pessoas que fazem exercício físico têm resposta semelhante em relação a quadros de depressão e ansiedade. |
Espiritualidade |
Relativa à crença em algo que transcende o físico, mas não significa necessariamente religiosidade. Há evidências de que a espiritualidade está associada a maior positividade diante da vida e, consequentemente, a menores níveis de estresse, depressão e suicídio. |
Sono |
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Alimentação balanceada |
Evite produtos industrializados e com excesso de gordura e açúcar. Oscilação na glicemia pode interferir no humor e na disposição. |
Autoconhecimento |
A psicoterapia pode ajudar a aliviar traumas, definir melhor objetivos de vida e desenvolver estratégias e recursos para lidar com situações adversas. |
Relações interpessoais |
Interações sociais positivas geram bem-estar e favorecem a formação de uma rede de apoio, que é um antídoto contra depressão, especialmente na velhice. |
O uso de medicações pode ser necessário para tratar os sintomas e manter a qualidade de vida da pessoa. Em geral, elas não são de uso controlado, não causam dependência e nem devem ser usadas para toda a vida. Mas atenção: é fundamental ter orientação médica. Ela vai incluir não apenas qual medicação é mais adequada para cada paciente, mas também como iniciar o tratamento, por quanto tempo fazer uso do remédio e quando e como suspendê-lo.
Procure ou ofereça ajuda
Pode ser hora de buscar ajuda profissional quando as situações do dia a dia se tornam fonte constante de estresse, angústia e descontentamento. A pessoa sente que está mais difícil enfrentar a vida e já não consegue realizar tarefas cotidianas como antes por falta de disposição e motivação, por exemplo. Outros sintomas de alerta incluem isolamento, ausências do trabalho, aparência descuidada, uso abusivo de bebida alcoólica, cansaço excessivo, irritabilidade e impaciência.
Se esses sinais são percebidos em alguém próximo, o psiquiatra sugere que, de forma empática, a pessoa procure saber da outra o que está acontecendo e aconselhe (ou mesmo se ofereça para levar) a um profissional de saúde que possa ajudar.
Numa situação de crise de ansiedade ou pânico, a orientação é mais específica: Takeda alerta que muitos sintomas, como falta de ar e dor no peito, se confundem com quadros clínicos como ataque cardíaco. Por isso, é urgente encaminhar a pessoa a um pronto-socorro.
– Numa situação assim, não se deve assumir que é ansiedade ou pânico e acreditar que se pode simplesmente tranquilizar a pessoa. É fundamental abordar de forma empática e procurar um atendimento em saúde – orienta o psiquiatra.
Por Juliana Costa