Tráfico de anabolizantes está 'fora de controle', diz presidente de associação

Da Redação | 03/04/2019, 15h45

O presidente da Confederação Brasileira de Musculação e Fisiculturismo, Maurício de Arruda Campos, disse nesta quarta-feira (3) que o poder público perdeu o controle sobre o tráfico de anabolizantes nas academias brasileiras. O país tem mais de 30 mil estabelecimentos com 14 milhões de praticantes de atividades físicas.

— O tráfico de anabolizantes dentro das academias está completamente fora de controle. A moçada mais nova perdeu a noção de tempo. O corpo que um fisiculturista demoraria 10 ou 15 anos para conseguir eles querem conquistar em poucos meses. E o poder público não está fazendo absolutamente nada para mudar — afirmou.

Maurício Campos participou de audiência pública na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) para discutir denúncias de doping em treinamentos e competições. Ele destacou que o uso de drogas para a “melhoria de performance” é um problema de todos os esportes. Mas destacou que, ao longo deste ano, o Brasil deve receber eventos de fisiculturismo promovidos por uma empresa norte-americana, denominada National Physique Committee (NPC), que foi banida da Confederação Internacional de Fisiculturismo (IFBB) e da Agência Mundial Antidoping (Wada) por incentivar o uso de anabolizantes.

— A NPC não é uma federação esportiva. Ela é uma empresa que tem a intenção de obter benefício financeiro dentro do esporte sem seguir regulamentação, regra ou código de ética desportivo. A Wada colocou o nome do presidente dessa empresa na lista pessoas que comprovadamente prescreveram e tiveram influência na dopagem de atletas. Ela foi expulsa da IFBB — disse.

Polícia Federal

O presidente da CAS, senador Romário (Pode-RJ), foi o autor do requerimento para a audiência pública. Ele anunciou que vai pedir aos órgãos de segurança que impeçam a realização de eventos de fisiculturismo que se recusem a fiscalizar o doping ou o uso de substâncias anabolizantes.

— A gente vai fazer um comunicado à Polícia Federal e às polícias locais para fechar todos os eventos que tiverem a participação direta de doping. Fui atleta e sei do significado do doping. Trata-se de uma praga. É um crime que desmoraliza o esporte e compromete a saúde de milhares de brasileiros que praticam atividades físicas em academias — afirmou.

O diretor-técnico da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD), André Siqueira, disse durante a audiência pública que o doping “é contra tudo que se prega no esporte”. Em 2018, o órgão realizou 7.600 testes de controle de dopagem em atletas de 50 modalidades. Mas ele reconhece que a ação da ABCD e do Tribunal de Justiça Desportiva Antidopagem fica limitada no caso de eventos promovidos por entidades sem vínculos com a IFBB e a Wada.

— Existem atletas que competem por organizações não são signatárias da Wada. A ação sobre esse atleta é muito restrita. Não posso fazer teste nele, não posso mandar para o tribunal, não posso condena-lo. Até porque se ele for condenado a dois, três ou quatro anos ele vai continuar competindo no dia seguinte porque é parte de uma organização que é fora do sistema — disse.

De acordo com André Siqueira, a ABCD mandou à Prefeitura de São Paulo um comunicado para denunciar a realização do evento organizado pela NPC. O órgão recomendou que o município não incentive e não apoie a competição de fisiculturismo da empresa americana.

— Esse é o limite até onde a ABCD pode ir — admitiu.

O advogado Alexandre Dias Bortolato é representante da IFBB no Brasil. Ele denunciou a participação de médicos, nutricionistas e treinadores em um esquema de aliciamento de atletas para o doping. Bortolato sugeriu a aprovação de um projeto de lei para criminalizar essa prática.

— O tráfico de anabolizante já é crime. Mas também é preciso punir criminalmente o doping: organizadores de eventos e campeonatos que se associem a pessoas e entidades que induzam o atleta a se dopar; quem divulgar o uso de doping e anabolizante por qualquer meio de comunicação; responsáveis por entidade privada que se associe a fabricantes ou traficantes de anabolizantes; e quem inserir em produtos substâncias proibidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária — afirmou.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)