Vacina de HPV e Papanicolau são essenciais contra câncer do colo do útero, afirmam especialistas

Da Redação | 10/03/2020, 18h14

A cada dois minutos, uma mulher morre de câncer de colo de útero no mundo. No Brasil, 21% das mulheres entre 25 e 64 anos não fizeram exames preventivos nos últimos três anos. Esses são alguns dos dados apresentados nesta terça-feira (10) pelos especialistas ouvidos em audiência pública na Comissão de Assuntos Sociais (CAS). De acordo com todos eles, a prevenção é essencial porque o câncer de colo de útero é uma doença evitável.

­­— Não podemos nos esquecer: estamos falando de uma doença que não deveria existir — afirmou  Luciana Holtz, presidente da organização sem fins lucrativos Instituto Oncoguia.

O instituto fez uma pesquisa com especialistas na doença e perguntou quais são as principais barreiras que impedem o diagnóstico precoce. A demora para que o paciente passe por um especialista foi citada por 100% dos entrevistados. A baixa taxa de realização do exame preventivo (Papanicolau) e a demora para fechar o diagnóstico ficaram empatadas em segundo lugar.

Quando a pergunta era sobre quais são os principais problemas no enfrentamento do câncer de colo de útero no Brasil, a resposta mais citada foi a baixa adesão à vacina contra o vírus HPV, cujas lesões são precursoras dessa doença. A existência dessa vacina é um dos fatores que tornam a prevenção da doença tão eficaz, de acordo com Etelvino Souza Trindade, representante da Associação Médica Brasileira.

— O câncer de colo de útero apresenta um dos mais altos potenciais de prevenção, perto de 100% de cura, porque há duas coisas que agem fundamentalmente na evolução da doença: a prevenção primária, que pode ser feita pela vacina, e uma prevenção secundária, que é o diagnóstico precoce — disse Etelvino.

De acordo com o médico, a não ser em casos excepcionais, a doença leva, no mínimo, sete anos para evoluir. E as ações interventivas da medicina são suficientes para chegar praticamente a 100% de cura. Para ele, falta, no Brasil, a visão de que as falhas estruturais levam a eventos mais graves e, com isso, a custos muito maiores.

De acordo com o médico, o custo de tratamento no caso de lesões incipientes precursoras do câncer, totalmente curáveis, é de US$ 18, com índice de sobrevida de 100%. Quando o câncer está em estágio avançado, o custo aumenta em mais de 120 vezes (US$ 2,2 mil) e a chance de sobrevida é de apenas 10%.

Vacinação

Para a médica e pesquisadora Angélica Nogueira, diretora da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, apesar de o Brasil fornecer gratuitamente a vacina, ainda há muitas barreiras, como o conhecimento limitado sobre o HPV e sobre a vacina. Ela citou boatos espalhados em redes sociais; conservadorismo religioso; desconforto de médicos e de cidadãos para discutir sexo; e a associação infundada da vacina em adolescentes com o aumento da atividade sexual.

— Estudos importantes conduzidos pela Sociedade Americana de Pediatria mostram que não há nenhum aumento de atividade sexual com a vacinação anti-HPV. A gente precisa tirar o foco da vacinação na discussão sexual e levar o debate nos moldes do que é a vacinação contra hepatite, por exemplo. A vacinação anti-HPV é uma vacinação anticâncer, e não uma vacinação para doenças sexualmente transmissíveis — alertou Angélica.

Para ela, é essencial associar as iniciativas de vacinação às escolas, aos adolescentes, como ocorre com os programas bem-sucedidos em todo o mundo. De acordo com a especialista, é possível eliminar a doença com as estratégias que o governo já financia.

Segurança

A médica oncologista Nise Hitomi Yamaguchi, representante da Associação Brasileira de Mulheres Médicas, afirmou que a chave para que a incidência possa diminuir daqui a dez anos é a vacinação, tanto de meninas quanto de meninos. Ela lembrou que as vacinas são consideradas seguras pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

— Temos que aproveitar o momento para educar a nossa população e fazer com que o nosso programa de vacinação, que é o maior do mundo, tenha eficiência. Precisamos integrar ações das redes municipais, estaduais e federal de uma maneira lógica inteligente, que tenha fluxo e eficiência e que possa coibir uma doença evitável, que poderia ser rasgada do mapa, tirando o sofrimento desnecessário de tantas mulheres.

Yamaguchi lembrou que as diferenças regionais são significativas e que nove em cada dez mulheres que morrem de câncer cervical uterino são de países de baixa ou média renda.

A técnica Aline Leal Lopes, da Coordenação Geral de Atenção Especializada do Ministério da Saúde, afirmou que ainda há discrepâncias significativas entre as regiões brasileiras no índice de mortes pela doença. Na região Norte, esse índice é maior.

Apesar de não haver política pública ligada a esse tipo de câncer específica para a região, a política nacional é adaptada pelos gestores estaduais e municipais para cada realidade. Como exemplo, ela citou as embarcações que buscam atender populações indígenas e ribeirinhas.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)