Especialistas alertam sobre abuso de medicação para tratar TDAH
A pedido do senador Eduardo Girão (Novo-CE), a Comissão de Assuntos Sociais (CAS) debateu a prescrição indiscriminada de medicação para tratamento do TDAH e de outras doenças neurológicas em crianças e adolescentes. As convidadas destacaram que além desencadear outras doenças, a prática pode afetar a disponibilidade do remédio nas farmácias. Para a professora da Unicamp Maria Aparecida Moysés, o que está ocorrendo é uma multiplicação de diagnósticos imprecisos.

Transcrição
UMA AUDIÊNCIA NA COMISSÃO DE ASSUNTOS SOCIAIS ALERTOU SOBRE O ABUSO DE MEDICAÇÃO PARA TRATAR TDAH EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES.
SEM O DIAGNÓSTICO ADEQUADO, EFEITOS COLATERAIS PODEM CAUSAR DEPÊNDENCIA E DOENÇAS CARDIOVASCULARES. REPÓRTER LUIZ FELIPE LIAZIBRA.
A Comissão de Assuntos Sociais promoveu audiência para debater o uso de medicação para o tratamento do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade - TDAH. Especialistas alertaram que psicoestimulantes como o metilfenidato, conhecido popularmente como Ritalina, estão sendo prescritos para crianças e adolescentes sem o acompanhemento médico adequado. Além disso, adultos que não possuem o diagnóstico estão fazendo o uso do fármaco para melhorar a concentração e o foco. Para a representante do Conselho Federal de Psicologia, Izabel Pires, a prática pode desencadear uma série de doenças.
Izabel Pires: Os efeitos tardios apontam para uso abusivo e dependência, mascaramento de doenças evolutivas, principalmente as de saúde mental, como ansiedade, síndrome do pânico, diminuição de apetite, diminuição do sono, problemas cardiovasculares pontuais e transitórios, como aumento da pressão sistólica, frequência cardíaca e respiratória, e se um indivíduo já tiver problemas cardíacos pré-existentes, o risco de levar a óbito.
A audiência contou com a presença da advogada Isaura Sarto, mãe do menino Vitório, que é autista e precisa da Ritalina regularmente. Isaura relatou que o uso indiscriminado do medicamento pode afetar sua disponibilidade nas farmácias. Já a neuropsicopedagoga Thicciana Firminiano, disse que são frequentes os casos de diagnósticos que são feitos de forma apressada, sem levar em conta a individualidade das crianças.
Thicciana Firminiano: Eu tenho relatos de mães no consultório que chegam assim: "Olha, é incrível, doutora. O médico olhou para o meu filho e disse, olha, ele tem TDAH. Eu sentei na cadeira, ele conversou um pouco comigo e eu já saí com a prescrição do medicamento." São essas posturas que nós observamos que precisam ser fiscalizadas, precisam ser cobrados um rigor realmente científico, porque laudar uma criança é para a vida toda, um laudo é para a vida toda.
Para a professora da Unicamp Maria Aparecida Moysés, o que está ocorrendo é uma multiplicação de diagnósticos que não tem relação com a quantidade real de pessoas que precisam ser tratadas.
Maria Aparecida Moysés: Nós vivemos uma epidemia não de transtornos mentais, mas uma epidemia de diagnósticos de transtornos mentais. Eu posso dar o exemplo de um docente do Instituto de Psiquiatria da USP, Guilherme Polanczyk, que pesquisou no Brasil adolescentes que tinham diagnóstico de TDAH. Encontrou que 75% deles não preenchiam nem mesmo os critérios frouxos, vagos e imprecisos.
No final da audiência, o senador Eduardo Girão, do Novo do Ceará, disse que receberá contribuições para fiscalizar a prescrição de medicamentos. Sob a supervisão de Marcela Diniz, da Rádio Senado, Luiz Felipe Liazibra.