Cidade reconstitui todo ano, desde 2001, enforcamento do negro Francisco

Ricardo Westin | 04/04/2016, 11h00

Todos os anos, no dia 28 de abril, a pequena cidade alagoana de Pilar, de 33 mil habitantes, se mobiliza em torno da encenação da morte do escravo Francisco, a última pena de morte executada no país, em 28 de abril de 1876. O evento é produzido pela prefeitura desde 2001 e atrai visitantes de todo o estado.

Neste ano, a encenação será feita no ginásio da Escola Municipal Nossa Senhora do Pilar, às 19h30. Em anos anteriores, havia sido realizada ao ar livre, com os atores perfazendo o exato trajeto que o escravo Francisco percorreu entre a delegacia e a forca.

O espetáculo começa com o assassinato de João Evangelista de Lima, respeitado oficial da Guarda Nacional, e de sua mulher, Josefa Marta de Lima. Depois vêm a fuga do escravo, a captura e o julgamento. Uma das cenas mostra dom Pedro II negando a clemência imperial. Por fim, há o cortejo do condenado pela cidade e o enforcamento.

Os produtores da peça se basearam no relato dos jornais da época. O velho Jornal do Pilar, por exemplo, contou que foi difícil achar um presidiário disposto a ser o carrasco — responsável por empurrar o condenado da forca e depois subir em seus ombros para apressar a morte. O escolhido, segundo o jornal, foi um condenado de nome Maia Grande, “altura de gigante, corpo de jumento, mãos de burro, pés de chapeleta e cara inchada de beberrão”. Ele dormiu acorrentado a Francisco na véspera da execução.

— O escolhido para essa função tinha que ser corajoso, pois havia relatos de carrascos que foram assassinados pelos condenados dentro da cela — conta o historiador João Luiz Ribeiro, autor de No meio das galinhas as baratas não têm razão: os escravos e a pena de morte no Império (ed. Renovar).

Segundo o diretor municipal de Cultura, Sérgio Moraes, as pessoas de Pilar têm sentimentos diferentes em relação ao episódio histórico:

— Algumas acham lamentável que uma execução tenha acontecido na nossa cidade. Outras comemoram o fato de que, depois disso, ninguém mais foi executado no Brasil.

A seção Arquivo S, resultado de uma parceria entre o Jornal do Senado e o Arquivo do Senado, é publicada na primeira segunda-feira do mês.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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