“É preciso defender o interesse do Brasil e não dos governos”, diz Renan

“O Senado com responsabilidade saberá separar o interesse do Brasil do interesse de governos, que são efêmeros”, disse o presidente do Senado, Renan Calheiros.
20/04/2016 13h55

“O Senado com responsabilidade saberá separar o interesse do Brasil do interesse de governos, que são efêmeros”, disse o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), na manhã desta quarta-feira (20), ao defender que as casas legislativas continuem a trabalhar independentemente do processo de impeachment contra a presidente da República, Dilma Rousseff. “Eu vou ter toda a responsabilidade que o país cobra de mim para que nós tenhamos um desfecho, com mais previsibilidade, dentro de um espaço de tempo e que garanta às partes fazerem a defesa e a acusação”.

“É preciso defender o interesse do Brasil e não dos governos”, diz Renan. Foto: Jane de Araújo

“Enquanto a Câmara votava a autorização do impeachment, o Senado deliberava. Nós votamos aqui, nos últimos dias, a Lei de Responsabilidades das estatais que é uma matéria muito importante; votamos a Lei do Pré-Sal; votamos o desaparelhamento político dos fundos de pensão. Eu sinceramente não acredito que o lockout ajude ao Brasil”, disse Renan quando questionado sobre a possibilidade de a Câmara dos Deputados parar os trabalhos para pressionar o andamento do processo de impeachment no Senado. Lockout é um termo jurídico proveniente da língua inglesa que diz respeito ao fechamento das portas das empresas pelos patrões, que impedem os trabalhadores de exercerem suas funções.

Questionado sobre quais senadores deveriam assumir a presidência e a relatoria da comissão de impeachment, o presidente do Senado, Renan Calheiros, explicou ainda que a designação da composição da comissão é de responsabilidade dos líderes partidários. “Não ficaria bem se eu tentasse influir ou decidir sobre a indicação de alguém”, explicou.

Os jornalistas perguntaram ao presidente do Senado se os ânimos dos parlamentares se acalmaram ao fixar o início do processo para a próxima segunda-feira (25). Segundo Renan, não houve tensão, não há interesse da Casa em atrasar o processo e é muito importante respeitar pontos de vista diferentes durante todo o andamento do processo de impeachment. “O que há são pontos de vista diferentes e eles devem ser administrados com toda a responsabilidade. Senado, por mais que queira, não pode atropelar prazos e nem deve fazer perante a história”, explicou.

Renan explicou ainda que quem dará o ritmo do andamento do processo de impeachment é o próprio presidente da comissão e não o presidente do Senado. “A fase de coordenação do presidente do Senado Federal praticamente vai se esgotar a partir do momento da admissibilidade do processo. A partir desse momento, eu disse ontem e volto a repetir, nós vamos chamar o presidente do STF e transferir, neste caso específico, a Presidência do Senado Federal”, explicou Renan, que completou. “Eu comuniquei ao ministro Lewandowisk que o chamaria porque é muito difícil para o Senado Federal administrar conflitos óbvios de interesse. Isso é muito ruim e não ajuda, ao final e ao cabo, porque o processo de impeachment é sempre longo e traumático. É um processo que vai impedir um presidente da República, eleito pelo povo. Então é preciso ter todo cuidado com ele”.

“Eu acho muito difícil qualquer movimento mais brusco nessa hora em que nós temos tramitando no Senado, dentro do processo legal, o impedimento de um presidente da República. Então qualquer coisa que apareça sempre haverá uma leitura se ela beneficia um lado ou outro”, salientou Renan ao responder sobre a possível tramitação de uma proposta de emenda à Constituição que trate de eleições gerais.

Renan lembrou que na última vez que foi votado um processo de impeachment, o Senado condenou o presidente por crime de responsabilidade e o STF o absolveu na sequência. “É preciso termos muita responsabilidade com a história do país”, alertou Renan.

Ao final da entrevista, o presidente do Senado, Renan Calheiros , disse que “é muito ruim, nesse momento de dificuldade da população brasileira, cada casa legislativa pretender agir à sua maneira, interferir na outra casa ou paralisar suas ações. Isso é muito ruim porque ninguém vai se beneficiar de um lockout, do agravamento da crise, do aumento do desemprego e do aumento da desesperança. O Senado vai saber com responsabilidade separar os interesses do Brasil dos interesses dos governos. Quanto mais o presidente da Câmara tentar interferir no andamento do processo de impeachment no Senado, sinceramente, ele só vai atrapalhar”, finalizou Renan.