Homenagem a Fernando Lyra

Segunda-feira, 6 de Maio de 2013
06/05/2013 00h00

Vocação para conciliar e capacidade para articular são apenas dois traços da personalidade do ex-deputado e ex-ministro da Justiça, Fernando Lyra. O que mais sobressai, contudo, quando pensamos na trajetória de vida desse eminente pernambucano foi o seu empenho para a redemocratização do país. Naqueles tempos difíceis da retomada do comando político para a sociedade civil, frente ao Ministério da Justiça, durante o Governo Sarney, Fernando Lyra foi a peça fundamental para o fim da censura. Foi o que podemos dizer o homem certo, para o lugar certo, no momento certo.

Fernando Lyra tinha em seu caráter o traço forte da humanidade, da solidariedade, da capacidade de unir opostos. Descrevendo a sim próprio, disse ele certa vez que aprendera na sua infância, em Caruaru, a respeitar a sabedoria do povo. Convivendo com as pessoas mais simples, incorporara o significado da fraternidade. Observando as mãos hábeis dos artesãos, entendera que o próprio povo é capaz de criar um mundo diferente, uma vida nova, um novo padrão de convivência.

Esse foi o cidadão Fernando Lyra. Acreditando na capacidade humana de, diante das dificuldades, encontrar uma saída, um consenso, tomava frente nas negociações políticas. Não por outro motivo, foi um dos expoentes da formação da Aliança Democrática, que permitiu a eleição de Tancredo Neves. Para tanto, fez uso de seus conhecimentos das conjunções políticas do país, além do exercício de sua capacidade conciliatória e do elevado interesse em contribuir para a pacificação dos conflitos. Tinha ele consciência da relevância de seus esforços para costurar coalizões que pudesse contribuir para o desenvolvimento harmônico da vida política brasileira.

Durante 28 anos, Fernando Lyra representou na Câmara dos Deputados, com brilhantismo, o seu Estado de Pernambuco, e durante a Assembleia Nacional Constituinte trabalhou arduamente para dotar o país de uma Carta Magna democrática e que atendesse aos anseios da população de nosso país. Com a sua capacidade de dialogar e articular, foi um dos mais ativos parlamentares que contribuíram para a construção da democracia que hoje usufruímos. Paralelamente ao seu trabalho em busca da conciliação, Fernando Lyra fez parte do grupo autêntico do MDB, partido do qual foi um de seus fundadores, que formado por 23 deputados federais se opunham sistematicamente à ditadura militar.

Nos últimos anos de sua vida, um pouco distanciado da lide partidária, entretanto sem se desligar totalmente da política, Fernando Lyra exerceu a Presidência da Fundação Joaquim Nabuco. Nessa instituição exerceu com denodo a defesa dos interesses da sociedade brasileira, com foco principal no Nordeste, promovendo atividades científicas e culturais. E tal como o seu conterrãneo Joaquim Nabuco, que dedicou grande parte de sua vida pública defendendo a abolição da escravatura, podemos dizer que Fernando Lyra empreendeu, durante toda sua trajetória existencial, onde quer que estivesse – Câmara dos Deputados, Ministério da Justiça, Fundação Joaquim Nabuco -, a defesa da conciliação, do entendimento e da harmonia. Tudo isso em prol do povo brasileiro. Parabéns, portanto, a sua viúva, dona Márcia, ao seu irmão João Lyra Neto, as suas filhas Patrícia, Juliana e Renata e a todos os parentes que aqui se encontram.