Tomie: a nipo que se fez artista e modernista no Brasil


Valeria Castanho   |  22/02/2024

Tomie Ohtake, a nipo-brasileira que fez do Brasil a sua segunda pátria, tem nove obras no acervo do Senado. São peças que abusam das formas bem definidas, do abstrato e da utilização das cores, mas de forma ponderada e sem exageros, técnicas que imprimiram um tom harmônico, natural e simples com que Tomie sempre encarou a arte.

Um dos traços marcantes no trabalho da nipo-brasileira é o abstracionismo e a utilização de, no máximo, três tons de cores, elementos que; misturados à simplicidade, naturalidade e informalidade; delineiam as características mais marcantes nas peças de Tomie.

Entre as obras de Tomie de propriedade do Senado, apenas três não possuem títulos. As demais são: Visões do medo, Tarumã, Tuxana de Manaus, Tanabata, Blimp e Boi Tatá. Uma outra curiosidade é que todas possuem dimensões de 50 x 50 cm e, com exceção de duas, que não têm datas de registro, as demais são 1972. 

Visões  do Medo Autor: Tomie Ohtake Técnica: Serigrafia (2/30) Dimensão: 50cm x 50cm

Tuxana das Manaus Autor: Tomie Ohtake Ano: 1972 Técnica: Calcografia.água-tinta e Água-forte Dimensão: 50cm x 50cm

A artista foi um presente inesperado ao Brasil. Nascida no ano de 1913, em Quioto (Japão), veio ao país a passeio, aos 23 anos de idade, para visitar um irmão por um ou dois anos, no máximo. Mas a guerra eclodiu em sua terra natal, obrigando a jovem, ainda sem nenhuma experiência artística, a prolongar sua estada em terras brasileiras.  Acabou por se casar com um brasileiro e a se estabelecer definitivamente no Brasil. 

Até os 31 anos de idade, Tomie dedicava-se apenas à rotina de uma dona-de-casa comum, até que, com uma breve estada do pintor japonês Keisuke Sugano pelo Brasil, a então hibernada artista começou a estudar pintura. Dois anos depois, Tomie já participava de sua primeira exposição, o Seibikai, um evento permitido apenas a obras de artistas japoneses ou descendentes. 

Apenas seis anos após iniciar os primeiros passos pelo mundo das artes, em 1957, Tomie realizou sua primeira exposição individual no Museu de Arte Moderna de São Paulo e, a partir daí, não parou mais, enriquecendo o mundo com sua arte até os últimos anos de sua vida, em 2015, aos 101 anos de idade. Em reconhecimento ao trabalho de artista, 2001 marca a inauguração do Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, que se dedica a exposições nacionais e internacionais, à formação de professores e alunos e outras atividades destinadas ao público, em geral.