Ceschiatti: o escultor das mulheres sensuais e da Capital da República


Valeria Castanho   |  22/02/2024

A série de matérias sobre os artistas modernistas com obras de propriedade do Senado homenageia, nessa edição, Alfredo Ceschiatti (1918-1989). Escultor, desenhista e professor, Ceschiatti foi um dos principais colaboradores de Oscar Niemeyer em vários projetos de integração entre arte e arquitetura e ficou conhecido como o principal escultor da construção de Brasília.

 

As figuras femininas, com formas curvilíneas e arredondadas, sempre foram as preferidas do escultor, embora ele tenha esculpido, também, figuras de homens, animais e plantas, entre outras. O acervo do Museu do Senado possui uma dessas esculturas femininas, em bronze, intitulada “Mulher Nua”, de 150 cm de altura, adquirida em 1970.

Mineiro de Belo Horizonte e filho de italianos, Ceschiatti foi à Itália em 1937, a convite do governo italiano, que estava concedendo viagens para que filhos de imigrantes pudessem conhecer o país. Aproveitou o passeio para conhecer mais profundamente a arte renascentista. Ao retornar ao Brasil, o artista ingressou na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, onde se especializou em esculturas.

 

Em 1944, quando já começava a se destacar como escultor, ele conheceu Oscar Niemeyer, que o contratou para fazer o baixo-relevo do batistério da Igreja de São Francisco de Assis, na Pampulha, em Belo Horizonte. O trabalho rendeu-lhe uma viagem ao Exterior, como premiação no Salão Nacional de Belas Artes. Em 1945, em nova parceria com Niemeyer, fez uma obra para o Conjunto Arquitetônico da Pampulha, em Belo Horizonte. Intitulada “O Abraço”, a escultura de duas mulheres se abraçando foi considerada, na época, imoral, razão pela qual somente após muitos anos foi exposta nos Jardins da Pampulha. De volta à Europa, entre 1946 e 1948, Ceschiatti estudou mais profundamente a história e a produção artística de vários artistas clássicos europeus. 

 

No Brasil, as obras do escultor estão espalhadas por vários museus, praças, órgãos públicos e propriedades privadas. É dele, por exemplo, uma escultura em granito, confeccionada em 1960, para as Forças Armadas, em alusão aos Mortos da Segunda Guerra Mundial. Para a beira da piscina da casa de Niemeyer, no mesmo ano, Ceschiatti fez “Guanabara”, escultura de uma mulher deitada, nua, com curvas acentuadas.

 

Ricardo Movits, chefe do Serviço de Exposições, Curadoria e Comunicação (SEECC) do Museu do Senado, destaca que as mulheres de Ceschiatti, “em estilo renascentista, em geral, são bem fieis aos modelos clássicos tradicionais, que o artista tanto admira e reproduz, embora haja também, em sua obra, uma pitada do barroco mineiro, outra técnica que ele domina com maestria”.

 Para Brasília, a parceria com Niemeyer rendeu diversos trabalhos para espaços e edifícios públicos, entre os quais:

 

  • “Deusa Athena”, no saguão da Biblioteca Central da Universidade de Brasília;
  • “A Justiça”, em frente ao prédio do Supremo Tribunal Federal;
  • “As banhistas”, no espelho d'água do Palácio da Alvorada;
  • “As gêmeas”, na cobertura do Palácio Itamaraty;
  • “Os Anjos” e “Os Evangelistas”, ambos na Catedral Metropolitana de Brasília;
  • “A Contorcionista”, no foyer da Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional Cláudio Santoro;
  • “Anjo”, na Câmara dos Deputados;
  • “As Iaras”, no espelho d'água do Palácio da Alvorada, e
  • “Leda e o Cisne”, no pátio interno do Palácio do Jaburu;

 

Na Capital da República, Ceschiatti participou também da Comissão Nacional de Belas Artes e, entre 1963 a 1965, foi professor de escultura e desenho na Universidade de Brasília, de onde se demitiu por não concordar com a perseguição política a colegas, durante a ditadura.

  Para a coordenadora do Museu do Senado, Maria Cristina Silva Monteiro, Ceschiatti sempre será lembrado como “um escultor que procurou - em especial nas suas figuras femininas de anjos, santos, bailarinas e acrobatas - proporcionar equilíbrio, leveza, sensualidade, musicalidade e poesia ao ambiente. Trata-se de um artista brilhante em sua área, que nunca teve grandes pretensões de inovações, pois sempre procurou primar pelo simplismo formal e fiel ao estilo clássico tradicional”.