QUEREMOS MULHERES VIVAS!

Milhares tomam as ruas contra a violência de gênero e feminicídio em atos pelo país. levantamento do Instituto Sou da Paz, a capital paulista foi o cenário de 1 a cada 4 feminicídios consumados no estado. Na comparação dos dez primeiros meses de 2025 com o mesmo período do ano passado, a alta é de 23% na cidade. Em relação a 2023, o crescimento foi de 71%.
08/12/2025 14h00

Dando continuidade aos 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher, o Brasil assistiu, neste domingo (7), a uma das maiores mobilizações nacionais contra o feminicídio dos últimos anos. Convocados pelo Levante Mulheres Vivas, atos ocorreram em pelo menos 20 estados e no Distrito Federal, reunindo milhares de pessoas indignadas com a escalada da misoginia e da violência que atinge mulheres em todas as regiões do país.

O movimento cresce em meio a sucessivos casos brutais que chocam a população. Só em 2025, o Brasil já ultrapassou 1.180 feminicídios, uma média devastadora de quatro mulheres assassinadas por dia. O caso mais recente ocorreu na sexta-feira (5): a cabo do Exército Maria de Lourdes Freire Matos, de 25 anos, foi assassinada dentro de um quartel por um soldado que confessou o crime.


São Paulo: lágrimas, indignação e resistência na Avenida Paulista

Em São Paulo, uma multidão ocupou o MASP e tomou a Avenida Paulista sob o grito uníssono: “Mulheres Vivas!”. Mulheres, homens, crianças e famílias inteiras caminharam lado a lado em defesa da vida.

A ativista Lívia La Gatto emocionou o público ao agradecer a presença dos homens:

“Vocês são a cura. Obrigada por estarem aqui.”

O momento mais comovente foi o depoimento de Priscila Magrin, mãe de Nicolly, de 15 anos, vítima de um feminicídio bárbaro:

“Se ela não estivesse morta, estaria aqui lutando. Minha filha foi brutalmente assassinada e esquartejada. Jogaram os pedaços no lago.”

São Paulo vive um cenário alarmante: 53 feminicídios em 2025, o maior número da série histórica, segundo o Instituto Sou da Paz. Um em cada quatro ocorreu na capital. 67% das vítimas foram mortas dentro de casa, majoritariamente com armas brancas ou objetos contundentes.


Rio de Janeiro: Copacabana clama pela vida das mulheres

No Rio, centenas se reuniram em Copacabana, na altura do Posto 5. O estado registrou, até novembro, 79 feminicídios e 242 tentativas, segundo o ISP. As faixas exigiam justiça e proteção imediata.


Distrito Federal: chuva forte, resistência ainda mais forte

Sob chuva intensa, milhares ocuparam a Torre de TV, em Brasília. O ato contou com a presença de seis ministras, um ministro, deputadas federais, a primeira-dama Janja, e lideranças populares.

A doutora em Ciências Sociais Vanessa Hacon, do Coletivo Mães na Luta, denunciou:

“As mulheres fogem da violência doméstica e caem na violência processual. O sistema de Justiça é negligente e muitas vezes culpa a vítima.”

A pauta ecoava em uníssono:
“Feminismo é revolução!”
“Queremos mulheres vivas!”

Leonor Costa, do MNU, lembrou que a raiz do problema é estrutural:

“O patriarcado organiza a sociedade com o poder nas mãos dos homens. É daí que nasce a epidemia de feminicídios.”


Ato nacional: de Norte a Sul, um só grito

Além de SP, RJ e DF, grandes atos reuniram milhares em:

Florianópolis, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Belém, Joinville, Cuiabá, Vitória, Maceió, Fortaleza, São Luís, João Pessoa, Recife, Teresina, Natal, Rio Branco, Manaus, Boa Vista, Palmas, Campo Grande e Goiânia.

Em Curitiba, a atriz Letícia Sabatella disse:

“Eu não suporto mais. Espero que os homens aqui também rompam com essa sociedade da violência.”

Em Salvador, o ato ocorrerá no próximo dia 14, na Barra.


Casos recentes que abalaram o país

Nos últimos dias, crimes brutais reforçaram a urgência do tema:

  • Tainara Souza Santos teve as pernas amputadas após ser atropelada e arrastada por 1 km. O motorista foi preso.

  • Duas funcionárias do CEFET-RJ foram assassinadas por um servidor que cometeu suicídio logo depois.

  • A cabo Maria de Lourdes foi encontrada carbonizada em Brasília; a Polícia investiga feminicídio.

Segundo o Mapa Nacional da Violência de Gênero, 3,7 milhões de mulheres sofreram violência doméstica nos últimos 12 meses.


Reconhecer a misoginia como crime: um passo urgente e inadiável

As manifestações deixaram um recado claro: misoginia mata.
Ela não é opinião, cultura ou “exagero” — é a base que alimenta o ciclo de violência contra as mulheres.

Criminalizar a misoginia significa transformar em política pública aquilo que as ruas exigiram neste domingo:

  • Chega de violência.

  • Chega de impunidade.

  • Chega de ódio às mulheres.

O Brasil exige mudanças jurídicas, sociais e institucionais para enfrentar um problema que avança sobre os corpos, as vidas e os sonhos de milhões de meninas e mulheres.


**Queremos mulheres vivas.

E vamos lutar por isso, todos os dias.**

Com informações de Folhapress, Brasil de Fato e Agência Brasil.