Oscar Niemeyer e sua filha Anna Maria: dupla de arquitetos dedicada às obras urbanísticas públicas

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05/04/2023 12h25

A série “nosso Museu”, sobre os artistas com obras no acervo do museu do Senado, homenageia, nessa edição, os modernistas cariocas Oscar Niemeyer e Anna Maria Niemeyer, sua única filha.

Oscar Niemeyer: arquiteto modernista do Brasil e do Mundo

Oscar Niemeyer (1907-2012) foi um dos mais proeminentes arquitetos e urbanistas brasileiros, reconhecido internacionalmente como um dos maiores representantes da arquitetura moderna mundial e um dos responsáveis pelo planejamento arquitetônico de Brasília e de vários edifícios públicos da cidade. Deixou um legado estimado em mais de 600 obras distribuídas por vários países, inclusive como design de móveis, e um estilo inconfundível no uso de vidros, concretos armados, curvas e vãos livres, trabalhos documentados em vários livros e desenhos feitos à mão pelo próprio arquiteto.

Ele é o responsável pelo projeto do Palácio do Congresso Nacional, uma obra de arte tombada como Patrimônio Cultural da Humanidade, pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco). Junto com sua filha e também arquiteta Anna Maria Niemeyer (1930-2012), Oscar Niemeyer desenhou, para o Senado, 26 peças de mobiliário (sofás, poltronas, pufes e bancos) espalhadas por vários pontos da instituição.

 O carioca Oscar Niemeyer Soares Filho nasceu no bairro de Laranjeiras. De família humilde, ele ingressou no mercado de trabalho ainda muito jovem, para ajudar o pai, na pequena tipografia da família. Em 1929 e já casado há um ano, Niemeyer ingressou no curso de arquitetura da Escola Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro, iniciando a carreira de arquiteto a partir de 1934, como estagiário no escritório dos já renomados arquitetos Lúcio Costa e Carlos Leão.

Dois anos depois, Niemeyer colaborou com Le Corbusier, um importante arquiteto franco-suíço e idealizador de parte da arquitetura moderna na Europa. O projeto era para a construção da antiga sede do Ministério da Educação e Saúde, no Rio de Janeiro, prédio que, atualmente, abriga o Palácio Gustavo Capanema. Já em 1939, em parceria com Lúcio Costa, Niemeyer projetou o pavilhão brasileiro da Feira Internacional de Nova Iorque.

A partir de então, foram muitos projetos idealizados dentro e fora do Brasil. Em 1940, por exemplo, convidado pelo então prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek, Niemeyer projetou o Conjunto Arquitetônico para a Pampulha, na Capital Mineira. Já em 1945, juntamente com outros dez arquitetos do Comitê Internacional de Arquitetos, ele projetou a nova sede da Organização das Nações Unidas, em Nova York. Naquele mesmo ano, filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro, do qual se retirou em 1990.

Em 1955, Niemeyer fundou a revista Módulo, cujo tema principal era arquitetura. Naquele mesmo ano, concluiu a construção do Parque do Ibirapuera, em São Paulo, projeto iniciado em 1951, a pedido governo do Estado, para comemorar os 400 anos da cidade, completados em 1954.

No exterior, foram também inúmeras obras, entre as quais, em 1954, o projeto de construção de um conjunto de edifícios para o bairro Hansa, em Berlim (Alemanha), como parte da reconstrução do país após a II guerra mundial. No mesmo ano, projetou o Museu de Caracas, na Venezuela.

O chefe do Serviço de Conservação e Preservação do Museu do Senado (SECPM), Ismail de Souza Carvalho Neto, lembra, no entanto, que a obra mais importante de Niemeyer foi o projeto para a construção de diversos edifícios públicos para a Capital do Brasil, a partir de 1956, a convite de Juscelino Kubitschek, que já era presidente do país. “O projeto urbanístico da Cidade, em formato de um avião, ficou a cargo de Lúcio Costa, mas, em 1958, Niemeyer foi designado arquiteto-chefe da construção de Brasília, para onde se mudou até a inauguração da cidade, em 1960”, destaca Ismail.

Entre os projetos de Niemeyer para Brasília, estão: os palácios do Planalto, do Alvorada e do Itamaraty; o Catetinho, que seria a primeira residência oficial do presidente da República; os edifícios do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal; a Catedral; o Teatro Nacional; o Museu do Índio; o Panteão da Pátria e o Memorial JK. Para a Universidade de Brasília (UnB), além de ter feito o projeto arquitetônico, foi também o primeiro coordenador do Departamento de Arquitetura, em 1962. De lá, pediu demissão em 1965, juntamente com outros 200 professores, em sinal de protesto contra a ditadura militar.

Com o golpe militar de 1964, Niemeyer partiu, em exílio, para Paris, na França. Lá, em 1972, abriu um escritório na famosa avenida Champs Elysées e, no mesmo ano, projetou o Centro Cultural Le Havre.  Da França, fez projetos para outros diversos países e recebeu do presidente francês, Charles de Gaulle, uma autorização especial para trabalhar no país, com todos os direitos e benefícios concedidos a um profissional nativo.

Em 1980, com o retorno ao Brasil, retomou sua trajetória de construções pelo país, entre as quais, o Memorial JK, em Brasília; o Sambódromo e o Museu de Arte Contemporânea, ambos no Rio de Janeiro, entre várias outras. Só parou em 2010, quando vários problemas de saúde começaram a surgir, obrigando o arquiteto a se aposentar.

Durante a carreira, Niemeyer recebeu inúmeros prêmios e condecorações por seus trabalhos, não só no Brasil, mas em muitos outros países, como o Prêmio Lênin da Paz, na Rússia; a nomeação como membro honorário do American Institute of Architects, nos Estados Unidos; a medalha Juliot-Curie e o grande Prêmio Internacional da Arquitetura e de Arte, da revista L’Architecture d’Aujourd’hui, ambos na França; o Prêmio Pritzker de Arquitetura, nos Estados Unidos, entre muitos outros.

Escritor nas horas vagas, Niemeyer documentou, em seus diversos livros e artigos publicados, parte da sua história e experiência de vida como arquiteto. Pelo menos cinco desses livros se tonaram - e ainda são - importantes referências em cursos de arquitetura. São eles: Minha Experiência em Brasília (1961), A forma na Arquitetura (1978), Conversa de Arquiteto (1993), A Curva do Tempo (1998) e Minha Arquitetura (2000). Além dos livros, Niemeyer gostava também de desenhar, pessoalmente e de forma improvisada, vários de seus projetos, durante as reuniões de apresentação, com seus contratantes. Alguns desses desenhos fazem parte das obras do arquiteto e estão guardados como documentos, painéis artísticos ou até mesmo emoldurados.

Anna Maria Niemeyer

Além de arquiteta, Anna Maria Niemeyer era designer, curadora, galerista e marchand de renome internacional. Ela seguiu a carreira do pai e trabalhou com ele na construção de Brasília, especificamente na decoração de interiores de edifícios públicos. Em 1960, a arquiteta se mudou para a Capital da República, cidade onde residiu e trabalhou por 13 anos, em projetos de ambientação interna de edifícios públicos, como o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal e os palácios do Planalto e da Alvorada. Em parceria com o pai, desenhou móveis para outros países e os expôs em vários museus no Brasil e no exterior.

O chefe do Serviço de Atendimento e Gestão de Espaços Culturais (SEAGEC) do Museu do Senado, Romolo Mazzoccante Júnior, esclarece que, embora tenha seguido a carreira do pai, Anna Maria não viveu na sombra dele, tendo também se destacado no campo das artes. “Em 1977, Anna Maria fundou a galeria Anna Maria Niemeyer, no Rio de Janeiro, com o objetivo de realizar exposições e comercializar móveis. A partir de então, tornou-se uma renomada marchand de arte. Entre vários outros trabalhos, a arquiteta também coordenou, nos anos 90, o projeto de decoração do Museu de Arte Contemporânea de Niterói”, explica Romolo.