Nosso Museu possui obra de Rebolo, que desenhou o símbolo do Corinthians
A série de matérias sobre os artistas modernistas com obras de propriedade do Senado homenageia, nessa publicação, o artista visual Francisco Rebolo Gonzales.
Rebolo, como era mais conhecido, foi pintor, gravador, desenhista e paisagista, mas o que poucos sabem é que ele iniciou a carreira profissional no futebol e só migrou para as artes plásticas aos 32 anos de idade. A partir de então, tornou-se um conceituado paisagista da pintura nacional com a temática voltada, principalmente, para figuras, retratos e auto-retratos, flores e naturezas-mortas.
O Museu do Senado possui a pintura Jardim (Floresta Amazônica), que decora a Residência Oficial da Presidência da Casa. A tela, feita em óleo sobre chapa de fibra de madeira, é recheada de árvores em tons fortes. Ela expressa a paixão de Rebolo pela natureza, em especial a diversidade da flora brasileira.
Segundo a chefe de serviço de Gestão de Acervo Museológico, Maria Cristina Silva Monteiro, Rebolo sempre se destacou pelos tons coloridos, mas com formas bem definidas que inspiram, no público, um olhar empático e lírico, especialmente nas paisagens e cenas urbanas.
— Rebolo tinha uma empatia especial com a natureza, como demonstra o quadro do acervo do nosso museu, uma bela pintura da floresta Amazônica, em tons harmônicos predominantemente em verde, mas também com a mistura de outras cores, compondo uma paisagem poética e lírica. Embora não tenha se fixado somente na natureza, Rebolo nunca abandonou a figuração e, em especial, a pintura de paisagens, característica marcante da obra dele — explica.
Duas carreiras
Nascido em 1902, filho de imigrantes espanhóis, Rebolo teve uma infância de privações. De 1915 a 1917 estudou desenho e trabalhou como aprendiz de decorador, mas, em 1917, optou por se tornar jogador de futebol, carreira na qual permaneceu até 1932. Durante esses 15 anos, ele atuou no Corinthians e no Ypiranga, dois clubes paulistas.
Em 1926, ainda na ativa como jogador de futebol, Rebolo abriu um ateliê de decoração, mas, a partir de 1934, com a aposentadoria da área esportiva, resolveu investir na carreira de artista plástico, destacando-se como um importante pintor modernista. É dele o desenho do símbolo definitivo do Corinthians, time no qual atuou de 1921 a 1927, segundo dados do Instituto Rebolo.
Como artista, Rebolo teve uma carreira de sucesso. Em 1956 foi premiado com uma viagem pela Europa no 3º Salão de Arte Moderna. Partiu com a família para o Vaticano, onde fez curso de restauração e aproveitou para se aperfeiçoar em técnicas diversas em outros seis países: Espanha, Alemanha, Itália, Áustria, França e Holanda. A partir dessa experiência, o retorno ao Brasil resultou em diversas exposições e encomendas de obras, um status que garantiu uma vida mais confortável.
Expressão artística
Embora tenha iniciado um trabalho voltado para a figuração, Rebolo passou, a partir da década de 1950, ao abstracionismo e, depois, ao construtivismo. Desprezando fórmulas e teorias complicadas, era um artista que acreditava na experiência humana do pintor, como ressalta Ricardo Movits, chefe do Serviço de Exposições, Curadoria e Comunicação do Museu do Senado.
— Inspirado pela simplicidade da natureza silvestre, com cenários bucólicos, colinas, natureza, recantos humildes, hortas e jardins, Rebolo ganhou a simpatia do público e dos críticos, tornando-se um artista muito premiado no Brasil e no exterior — destaca.
Dedicado à carreira, o artista participou da criação do Sindicado dos Artistas Plásticos de São Paulo e do Clube dos Artistas e Amigos da Arte (Clubinho), do qual foi diretor por várias vezes. Seu acervo, espalhado por diversos museus brasileiros e coleções particulares, possui cerca de 3000 pinturas, centenas de desenhos e dezenas de gravuras em técnicas variadas.