Marcelo Grassmann: o artista das figuras fantasiosas do universo imaginário

Nosso museu possui três obras do artista
29/12/2022 13h14

A série de matérias sobre os artistas modernistas com obras de propriedade do Senado, em comemoração ao centenário da Semana de Modernismo, ocorrida em março de 1922, homenageia, nessa matéria, o modernista Marcelo Grassmann. O artista visual foi escultor, desenhista, gravador, entalhador de móveis, ilustrador e professor. Ele era conhecido por um trabalho de elevada qualidade técnica, com linguagem própria, única e inovadora no campo das artes, baseada no universo imaginário da fantasia e da mitologia.

O acervo do Museu do Senado possui três gravuras de Grassmann, todas estampas em calcogravura sobre papel, com desenhos de seres imaginários e fictícios, mas em situações comportamentais reflexivas, como se desejassem expressar seus sentimentos, característica marcante do artista. Duas dessas obras estão no gabinete do senador Márcio Bittar e a outra, no gabinete do senador Rodrigo Cunha.

Nascido em São Simão (SP), em 1925, Marcelo Grassmann iniciou estudos em fundição e entalhe em madeira ainda adolescente, na Escola Profissional Masculina do Brás. A partir de 1943, começou a se aprimorar mais profundamente em técnicas de gravura, desenho e ilustração. Profissionalmente, começou a carreira como entalhador de móveis, passando a ilustrador de importantes jornais e, depois, a gravurista reconhecido dentro e fora do Brasil.

O reconhecimento pela trajetória artística veio em 1953, do Salão Nacional de Arte Moderna, que premiou Grassmann com uma viagem à Áustria, onde o artista se aprimorou em diferenças técnicas no campo das artes plásticas. A partir de então, as exposições individuais e coletivas, tanto no Brasil quanto no exterior, passaram a ser uma rotina na vida do artista, com destaque para trabalhos em desenho e gravura em metal, nas mais variadas técnicas.

Grassmann se tornou uma lenda na arte de misturar variadas técnicas em composições surrealistas, figurativas, recheadas de simbolismos que transitam em um campo extremamente fértil e imaginativo da criação de figuras fantasiosas. Tais características o elevaram à categoria de um dos artistas brasileiros mais reconhecidos e premiados no campo da arte moderna. Em 1969, grande parte das obras dele foram incorporadas ao acervo da Pinacoteca de São Paulo e, em 1978, a casa em que viveu, em São Simão (SP), foi tombada e transformada em museu.

A chefe de serviço de Gestão de Acervo Museológico, Maria Cristina Silva Monteiro, explica que poucos sabem que Grassmann também foi um grande estudioso da história da arte e mitologia medieval e renascentista, conhecimentos que o ajudaram a compor seu universo mítico e fantástico. “Grassmann era um artista moderno que nunca se rendeu ao modismo, porque tinha um tema próprio. As três gravuras expostas no acervo do Museu do Senado expressam essa riqueza criativa e de detalhes singular que marcou a trajetória dele como um artista das figuras fantasiosas do imaginário. Todos três quadros são desenhos de seres mitológicos de criação própria, cada qual com sua beleza singular e uma expressividade única que Grassmann dominava com maestria”, explica Cristina.

Na opinião de Ricardo Movits, chefe do Serviço de Exposições, Curadoria e Comunicação do Museu do Senado (SEEC/COMUS), o profundo conhecimento que Grassmann tinha dos meios e técnicas gráficas dava vida às obras dele. “Tamanha é a perfeição dos seres desenhados por Grassmann – como elmos, diabos, dragões, donzelas, guerreiros, cavaleiros, monstros, seres parte humano e parte animais, entre outros - que alguns parecem ter pousado para ele. Longe de serem simples figuras, tais personagens parecem demonstrar emoções, como desejos e melancolias típicas de um humano comum. Esse formato único e fantasioso de ver o universo imprime um certo lirismo medieval encantador característico da obra de Grassmann”, explica Movits.