Brennand: obras inspiradas em fábulas e contos populares

O acervo do Museu do Senado tem um painel decorativo de Brennand, de 1983, intitulado "O Mundo Verde"
08/02/2023 20h22

A série de matérias sobre os artistas modernistas com obras de propriedade do Senado homenageia, nessa edição , o modernista Francisco de Paula Coimbra de Almeida Brennand. Considerado um dos maiores artistas plásticos pernambucanos de todos os tempos, Brennand, como era mais conhecido, foi pintor, escultor, desenhista, gravador, ceramista, tapeceiro e ilustrador. Entre a multiplicidade de talentos, a pintura e a cerâmica foram suas maiores paixões, expressas em obras que variavam de quadros com flores e frutos a seres inspirados em fábulas e mitologias, uma das marcas registradas do artista.

O painel  “O Mundo Verde”, de Brennand, exposto da Residência Oficial da Presidência do Senado, traz, como figura central, uma planta. Na parte superior, à esquerda, é possível notar a figura de um pássaro, com calda em formato de caracol, bem como uma espécie de fruto, em formato peculiar.

Biografia

O pernambucano Francisco Brennand, como era mais conhecido, nasceu em 1927, na cidade de Recife. O pai, Ricardo, era um pianista culto e erudito, apaixonado por literatura, pintura e, principalmente, por cerâmica, produzida como tradição de família, em uma olaria própria, de mais de 10 mil metros quadrados, no bairro da Várzea, em Recife.

A modelagem da cerâmica estava na veia de Brennand, mas a iniciação à pintura foi aos 16 anos, em 1942, quando o pai adquiriu uma coleção de quadros e contratou o pintor Álvaro Amorim, um dos fundadores da Escola de Belas Artes do Recife, para restaurá-las. Foi o primeiro professor de Brennand.

No final da década de 1940, Brennand iniciou sua carreira como pintor e escultor, pintando e esculpindo peças, em sua maioria, com desenhos de flores e frutos, trabalhados em formatos e cores diversificadas. Posteriormente, passou a desenvolver uma vocação mais profunda pela cerâmica e decidiu estudar em Paris, onde permaneceu de 1949 a 1952, especializando-se com renomados artistas da área.

Em 1970, o artista decidiu reformar a antiga olaria da família, que estava praticamente abandonada, para transformá-la em residência própria, oficina de trabalho e ateliê. O local se tornou um dos pontos turísticos mais visitados da região, muito apreciado pelas obras em relevo que pareciam dar vida a seres fantásticos, representados em diversos formatos e cores por meio de painéis, quadros, peças cerâmicas e esculturas. Mas nem todo o trabalho do artista era circunscrito ao ambiente do ateliê. Diversos painéis e murais cerâmicos dele foram encomendados para outras cidades brasileiras e também dos EUA, em especial entre os anos de 1958 e 1999.

As inúmeras exposições individuais e coletivas do artista já ocorriam desde o início da carreira - em especial entre o eixo Recife, São Paulo e Rio de Janeiro -, mas, a partir da década de 1970, expandiram-se para outras cidades brasileiras e muitos outros países, como EUA, Inglaterra, Alemanha, Bélgica, Itália, Portugal, Espanha, Suíça, Venezuela e Uruguai.

A vida e a produção de Brennand foram retratadas em retrospectivas, livros e vídeos dentro e fora do país. Em 1993, por exemplo, a Setaatliche, em Berlim, fez uma grande retrospectiva da carreira do artista, e, em 1997, a editora Métron publicou o livro “Brennand”.

A coordenadora do Museu do Senado, Maria Cristina Silva Monteiro, explica que Brennand trabalhava com a cerâmica de modo a obter não apenas formas, mas também cores específicas. “Por meio de variações de temperatura, Brennand conseguia obter, durante a queima das peças, diferentes pigmentos, possibilitando uma variada quantidade de tonalidades, que ele sabia usar com mestria, para obter o acabamento perfeito e dar vida às suas obras. Artista de muitos talentos, Brennand encantava o público com suas flores e frutos, a exemplo do quadro de propriedade do Senado, mas também por suas inusitadas figuras. Ele tinha uma preferência pela pintura de monstros ou seres deformados de caráter trágico ou mesmo esculturas de culturas arcaicas, ligadas a rituais de fertilidade, com forte apelo sexual”, afirma Cristina.