Aldemir Martins: o artista autodidata nordestino premiado em todo o mundo com suas obras marcadas pela natureza e a gente do Brasil

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21/03/2023 22h04

A série de matérias sobre os artistas modernistas com obras de propriedade do Senado homenageia, nessa edição, o modernista Aldemir Martins. Pintor, desenhista, ilustrador, cenógrafo, ceramista, escultor e gravador, Aldemir se destacou como um artista que carregava a marca da paisagem e do povo nordestino.

O acervo do Museu do Senado possui quatro quadros do artista, três deles de gravuras sobre papel. Uma delas, em calcogravura, intitulada “composição sobre natureza morta”, enfeita uma das paredes do Gabinete da Presidência do Senado. O quarto quadro, uma pintura em óleo sobre tela, intitulado “Marina”, com a figura de um barco sobre dunas de areia, está exposto na residência oficial da Presidência do Senado.

Nascido em 1922, em Ingazeiras, sertão do Cariri, Ceará, Aldemir Martins demonstrou, desde muito cedo, um talento nato para as artes, reconhecimento que fez dele o orientador artístico de sua sala de aula, no Colégio Militar de Fortaleza, aos 12 anos de idade. Autodidata e de família humilde, o artista serviu o Exército, de 1941 a 1945, e lá também se destacou pelas suas habilidades artísticas, em especial após ter desenhado um mapa aerofotogramétrico de Fortaleza. Foi também no Exército que Aldemir recebeu seu primeiro prêmio artístico, no concurso promovido pela Oficina de Material Bélico da 10ª Região Militar, pela pintura em viaturas do exército. A partir de então, passou a ser nomeado “Cabo Pintor”.

Na década de 40, Aldemir foi um dos fundadores do Grupo Artys e SCAP, Sociedade Cearense de Artistas Plásticos, instituição que se tornou conhecida por ser uma das responsáveis pela renovação do ambiente artístico cearense. Em 1942, ano em que começou a trabalhar como ilustrador para jornais, revistas e livros, o artista realizou sua primeira exposição coletiva, no II Salão de Pintura do Ceará. A primeira exposição individual veio quatro anos depois, em 1946, no Instituto dos Arquitetos do Brasil.

A partir de 1947, Aldemir já participava de exposições e era premiado nos principais salões brasileiros de arte. Ao longo da sua carreira, foram quase 100 exposições individuais e mais de 250 coletivas, realizadas em várias cidades brasileiras e de vários outros países, com uma quantidade enorme de premiações colecionadas. Somente exposições póstumas, a partir de 2006, ano do falecimento de Aldemir, foram 20 realizadas no Brasil e no exterior, a última em 2013.

Sempre muito autêntico e criativo, Aldemir experimentou de quase tudo, nas artes, e nunca foi de se limitar a um tipo único de técnica. Para as séries de desenhos com temática nordestina, muitas delas premiadas, ele costumava fazer as pesquisas através de longas viagens em caminhões pau-de-arara. Como ilustrador, fez o logotipo da Editora Cultrix, da sorveteria kibom, de poemas, entre outros. Também era talentoso desenhista. Desenhava as sessões da Assembleia Legislativa de São Paulo, para jornais, mas também de padronagens de estampas para tecidos.  Em 1958, recebeu o Prêmio Jaboti na categoria “melhor Capa de Livro do Ano”, pela capa “História do Modernismo Brasileiro – Antecedentes da Semana de Arte Moderna”. Suas pinturas também passaram a extrapolar as telas e a ganhar imensas paredes, como uma da ala internacional do aeroporto de Congonhas, que recebeu dois painéis dele, em 1958.

O primeiro trabalho de Aldemir como cenógrafo foi em 1954, para a peça Lampião, de Raquel de Queiróz, mas ele também criou cenários para as TVs Record e Globo, entre outros.  A partir de 1955, ele iniciou a pintura de uma série de painéis, um deles para o bar “O Cangaceiro”, no Rio de Janeiro, reduto da boemia carioca. Em São Paulo, os painéis do artista também decoraram residências particulares e lojas, a exemplo da Casa Beethoven e da companhia União de Refinadores.

As exposições, trabalhos e premiações de Aldemir Martins ultrapassaram as fronteiras brasileiras e ganharam status internacional, em especial a partir de 1956, quando ele foi premiado como melhor desenhista internacional na 28º Bienal de Veneza.  Em 1957, um dos desenhos do artista, intitulado “Pássaro”, foi escolhido como cartão de natal da revista belga Quadrum. No ano seguinte, a convite do Governo Americano, permaneceu por três meses no país, onde realizou uma série de viagens e exposições. No biênio 1960/1961, ele residiu em Roma, mas logo retornou definitivamente ao Brasil, para dar prosseguimento a uma de suas paixões: as viagens de pesquisa pelo interior nordestino. As obras de Aldemir estão espalhadas por museus e coleções particulares não só do Brasil, mas de vários outros países.

Segundo a chefe de serviço de Gestão de Acervo Museológico, Maria Cristina Silva Monteiro, o vasto acervo de Aldemir é importantíssimo para as artes visuais brasileiras e ajudou imensamente a divulgar o país no exterior. “Embora tenha feito poucos cursos no campo das artes, Aldemir apresenta um trabalho de elevada qualidade técnica, que ajuda a retratar a natureza e a gente do Brasil. São, em sua maioria, desenhos figurativos; como cangaceiros, coqueiros e barcos; mas também de flores, frutas e animais diversos – uma especialidade dele -, a exemplo de galos, gatos, peixes, cavalos,  com uma brasilidade marcada por um eixo temático que abrange cores, luzes e traços da nossa cultura”, explica Cristina.

O chefe do Serviço de Exposições, Curadoria e Comunicação do Museu (SEECC), Ricardo Movits, destaca que Aldemir sempre foi inquieto e, com isso, gostava de experimentar e criar, sem limitações. “A versatilidade de Aldemir sempre foi impressionante. Ele soube transitar com perfeição pelo mundo das artes, em seus mais diversos campos (pintura, ilustração, desenho, gravuras outros) e superfícies, que podiam variar de estampas de tecidos, caixas de madeira e de charuto, papéis de carta, gravuras, sejam em pequenos ou em grandes ambientes. Nada era empecilho para ele”, destaca Movits.