Saúde bucal

Desde o primeiro dente, a boca deve ser monitorada em visitas que podem ser pra lá de divertidas.
11/10/2023 16h32

Os consultórios costumavam causar arrepios nas crianças. A imagem de alguém de máscara e óculos invadindo a pequena boca com uma broca de barulho horroroso, fazendo o dente doer e a gengiva sangrar era a soma de todos os medos infantis. Mas a verdade é que isso é passado. O mundo mudou e os odontopediatras caíram nas graças dos clientes mirins: hoje vestem jalecos de personagem, usam óculos dos minions e, pasmem, até prescrevem sorvete na receita.

O SIS já tem uma boa rede de cobertura de dentistas que atendem de maneira diferenciada até recém-nascidos. É o caso de Ana Paula Andrade, especialista na saúde bucal de bebês e crianças da Arte Odontologia Integral, clínica credenciada ao SIS. Nesta conversa, ela dá várias dicas sobre o tratamento que começa desde o primeiro dentinho, ou até antes dele.



Quando a pessoa deve ir pela primeira vez ao dentista?

Na barriga da mãe. As gestantes precisam aumentar os cuidados bucais nessa fase, já que todo o metabolismo da grávida é alterado. A começar da saliva, por exemplo, que pode ficar mais ácida, provocando inflamação na gengiva; ou reduzida, o que leva a lesões de cáries se há maior consumo de açúcar e escovação deficiente. Digo isso porque muitas grávidas têm náusea com a pasta de dente e não fazem a higiene oral com a frequência necessária.

Grávidas podem fazer tratamento dentário?

Depende. Imagine uma mãe que teve problema num canal e está sentindo dor. Esse desconforto por si só promove várias alterações corporais que afetarão não só ela, mas também o bebê. Hoje já existem tratamentos e anestesias seguros e até radiografia, se for necessário, após o primeiro trimestre de gestação.

E o bebê já nascido, deve conhecer seu dentista quando?

Assim que ele nasce é feita uma avaliação da mobilidade da língua, o que é importante para a amamentação. Se o freio lingual for retraído ao ponto de dificultar a mamada, é preciso fazer a frenectomia, um corte minúsculo na membrana que fica abaixo da língua. O dentista pode fazer isso, e é praticamente indolor. Mas, caso esteja tudo certo com o freio, o bebê pode ser trazido quando nascem os primeiros dentinhos, por volta de seis ou sete meses.

É verdade que quanto mais o dente demorar a nascer mais saudável ele será?

É mito. O dente que está nascendo já está pronto, formado.  O que se diz é que a criança mais madura pode sofrer menos com a erupção, ou pelo menos está mais resistente ao processo inflamatório, ao edema e à irritação.

Nessas horas de irritação da gengiva, é interessante usar anestésicos tópicos?

Eles são contraindicados. Até porque, vão resolver por 15 minutos e depois o incômodo volta. Melhor  são mordedores  em  gel  que, quando gelados, dão a sensação de dormência ao serem mordidos. A camomila também é aliada nessa hora. É preciso dar remédio para dor quando o bebê  não  está  comendo  direito,  está desconfortável, irritado, tem febre baixa, não deixa a casa dormir.  O ibuprofeno, por exemplo, é analgésico e antiflamatório e, com a orientação do pediatra, pode sim ser administrado. Um detalhe importante: a febre causada por dente chega até 37.7. A partir dessa temperatura é preciso investigar outras possíveis causas.

Nascido o primeiro dente, já é hora de escovar?

Isso. Da erupção do primeiro dente em diante. Antes disso, não. Para quem tem amamentação materna exclusiva, então, de jeito nenhum. Essa criança recebe  imunoglobulinas no leite da mãe que são excelentes para a cavidade  oral.  Mas se a criança começa a usar fórmula ou a comer, é importante limpar a boquinha depois.

Pasta de dente com ou sem flúor?

Hoje, a  Organização  Mundial  de  Odontopediatria  já  preconiza desde  o  primeiro  dentinho  o  uso  do  fluor  na  pasta. Ele  é  o  grande  aliado  contra  a  lesão de cárie porque fortalece a estrutura  externa  do  dente, o  esmalte. É só usar na quantidade correta: tamanho de um grão  de  arroz,  duas  vezes no dia. Escolha a pasta de criança com flúor que tenha mais de mil partes por milhão (ppm) de  flúor. Abaixo disso não adianta.

Mas então por que existem pastas sem flúor?

Para o treino da escovação onde a medida de um grão não é garantida, como em creches. É a pasta cheirosa, gostosa, que existe para fazer a criança gostar e desenvolver o hábito da escovação.

E o que fazer quando a criança não quer nem ouvir falar de dentista?

Temos as consultas de condicionamento para os mais resistentes. Conversamos, brincamos, sentamos na “cadeira mágica” que sobe e desce sozinha, solta o ventinho e a água nas mangueiras e eles mexem em tudo. Colocamos um boneco-paciente na cadeira e usamos a escova que gira para fazer limpeza. Assim a criança vê como é, fica segura e na próxima visita deixa fazer nela.  

Muitas crianças por ainda não estarem acostumadas à textura ou acidez de determinado alimento acabam desenvolvendo feridas. O uso do laser é recomendado?

O laser em baixa potência era  um  grande  aliado na recuperação dos tecidos porque estimula  células  de  regeneração. Ele faz micro cauterizações quando aplicado em lesões  bucais, mucosa, gengivas inflamadas pela erupção de dentes, tratamento  de  canal  para  diminuir  a  dor... O laser diminui a dor e desinflama.

E pode ser usado em crianças?

Claro. A afta, que pode ser bem incômoda, regride muito com a aplicação de laser. No outro dia já dá pra notar uma grande diferença. É mais ou menos o efeito de se colocar bicabornato puro na ponta do algodão para “queimar” a afta, só que no caso do laser não dói. E com o bicarbonato (risos) a gente vê estrelas.