Adoção de nome social é peça chave para acolhimento de pessoas trans

Léo Serra, chefe do serviço de informação ao cidadão da SGIDOC, conta como foi sua experiência no Senado Federal
27/01/2023 16h20

Nasceu mulher no sexo biológico e ganhou o nome de Marília. Porém, sempre se sentiu mais homem do que mulher, por isso, aos 50 anos, decidiu readequar seu gênero. Hoje, com grande orgulho, adotou o nome de Léo, escolhido por seus próprios filhos. O Senado acolheu a mudança e reconhece o Léo como ele deseja ser visto. O crachá e a busca da intranet já exibem o nome Léo Serra para o chefe do serviço de informação ao cidadão da Secretaria de Gestão de Informação e Documentação (SGIDOC).
— O Senado vem me acolhendo e prestando todo o suporte nos ajustes dos inúmeros sistemas cadastrais. Sei que nem todo mundo tem essa sorte, diria mesmo privilégio. Espero que as instituições e nossa sociedade avancem mais nesse simples e importante reconhecimento — comenta.
O processo de transição de gênero começou em 2021. Hoje, Léo é um homem trans, como são chamados aqueles que transicionam para o gênero masculino. Com entusiasmo, vem curtindo cada fio de barba que cresce, bem abaixo dos cabelos curtos e já coloridos por alguns fios brancos. Recentemente, o filho Mateus (11) desenhou um homem barbado, as cores do arco-íris e escreveu "Nunca tenha vergonha de quem tu és", demonstrando a compreensão e o acolhimento de toda a família à mudança.
— Aproveitei o isolamento social na pandemia para iniciar a transição. Meus filhos são meus grandes apoiadores e defensores. Meus amigos acompanham as mudanças, que são graduais, pelas redes sociais. Estou bem tranquilo em relação a isso. Sei que é um processo muito pessoal, diria mesmo existencial, mas entendo que todos à volta participam, cada um à sua maneira — expressa.
É lei
O decreto nº 8.727/ 2016 estabeleceu o reconhecimento do nome social nas repartições e órgãos públicos federais, a fim de garantir a identidade de gênero.
O nome social é uma conquista da comunidade trans. É aquele prenome pelo qual a pessoa se apresenta e quer ser reconhecida socialmente, ainda que não tenha retificado os documentos civis, como é o caso de Léo. A alteração dos documentos civis não é obrigatória e demanda um investimento de tempo e dinheiro que nem todos podem arcar.
Para fazer uso desse direito no Senado, é preciso buscar a Secretaria de Gestão de Pessoas. Nossa Casa conta ainda com o Comitê Permanente pela Promoção da Igualdade de Gênero e Raça, responsável por formular e acompanhar as ações promovidas pela Administração na garantia de direitos relacionados ao tema.
Papo aberto
Léo se mantém aberto e gosta de conversar sobre sua transição como uma maneira de ampliar a conscientização e o conhecimento das pessoas. Ele espera ser referido sempre no gênero masculino, mas compreende que leva tempo para as pessoas se adaptarem à sua nova identidade.
— É natural lembrarem do meu antigo nome, mas espero que aos poucos acolham o Léo, pois ele veio para ficar — fala com bom humor, e ainda completa — se alguém se engana ou ainda se confunde ao se dirigir a mim, não me estresso, sou bem resolvido. Acredito que o mais importante na vida é o respeito entre as pessoas, independente de qualquer coisa
Em caso de dúvida sobre como se dirigir a um indivíduo trans, Léo orienta que é de bom tom perguntar como ele gostaria de ser chamado. Ele ainda lembra que identidade de gênero não é o mesmo que sexo biológico ou orientação sexual.
— São coisas distintas e muito pessoais. O recado a ser dado é: respeite para ser respeitado. Meus familiares e colegas de trabalho me respeitam e me apoiam em meu processo, mas na sociedade há muito estigma ainda. Trans são, acima de tudo, pessoas. É esse olhar que precisa ser amadurecido. Vai chegar um dia em que os fantasmas e polêmicas vão dar lugar ao esclarecimento — conclui.
*Com informações da Comunicação Interna do Senado Federal.