Adoção de nome social é peça chave para acolhimento de pessoas trans

Léo Serra, chefe do serviço de informação ao cidadão da SGIDOC, conta como foi sua experiência no Senado Federal
Nasceu mulher no sexo biológico e ganhou o nome de Marília. Porém, sempre se sentiu mais homem do que mulher, por isso, aos 50 anos, decidiu readequar seu gênero. Hoje, com grande orgulho, adotou o nome de Léo, escolhido por seus próprios filhos. O Senado acolheu a mudança e reconhece o Léo como ele deseja ser visto. O crachá e a busca da intranet já exibem o nome Léo Serra para o chefe do serviço de informação ao cidadão da Secretaria de Gestão de Informação e Documentação (SGIDOC).
— O Senado vem me acolhendo e prestando todo o suporte nos ajustes dos inúmeros sistemas cadastrais. Sei que nem todo mundo tem essa sorte, diria mesmo privilégio. Espero que as instituições e nossa sociedade avancem mais nesse simples e importante reconhecimento — comenta.
O processo de transição de gênero começou em 2021. Hoje, Léo é um homem trans, como são chamados aqueles que transicionam para o gênero masculino. Com entusiasmo, vem curtindo cada fio de barba que cresce, bem abaixo dos cabelos curtos e já coloridos por alguns fios brancos. Recentemente, o filho Mateus (11) desenhou um homem barbado, as cores do arco-íris e escreveu "Nunca tenha vergonha de quem tu és", demonstrando a compreensão e o acolhimento de toda a família à mudança.
— Aproveitei o isolamento social na pandemia para iniciar a transição. Meus filhos são meus grandes apoiadores e defensores. Meus amigos acompanham as mudanças, que são graduais, pelas redes sociais. Estou bem tranquilo em relação a isso. Sei que é um processo muito pessoal, diria mesmo existencial, mas entendo que todos à volta participam, cada um à sua maneira — expressa.
É lei
O decreto nº 8.727/ 2016 estabeleceu o reconhecimento do nome social nas repartições e órgãos públicos federais, a fim de garantir a identidade de gênero.
O nome social é uma conquista da comunidade trans. É aquele prenome pelo qual a pessoa se apresenta e quer ser reconhecida socialmente, ainda que não tenha retificado os documentos civis, como é o caso de Léo. A alteração dos documentos civis não é obrigatória e demanda um investimento de tempo e dinheiro que nem todos podem arcar.
Para fazer uso desse direito no Senado, é preciso buscar a Secretaria de Gestão de Pessoas. Nossa Casa conta ainda com o Comitê Permanente pela Promoção da Igualdade de Gênero e Raça, responsável por formular e acompanhar as ações promovidas pela Administração na garantia de direitos relacionados ao tema.
Papo aberto
Léo se mantém aberto e gosta de conversar sobre sua transição como uma maneira de ampliar a conscientização e o conhecimento das pessoas. Ele espera ser referido sempre no gênero masculino, mas compreende que leva tempo para as pessoas se adaptarem à sua nova identidade.
— É natural lembrarem do meu antigo nome, mas espero que aos poucos acolham o Léo, pois ele veio para ficar — fala com bom humor, e ainda completa — se alguém se engana ou ainda se confunde ao se dirigir a mim, não me estresso, sou bem resolvido. Acredito que o mais importante na vida é o respeito entre as pessoas, independente de qualquer coisa
Em caso de dúvida sobre como se dirigir a um indivíduo trans, Léo orienta que é de bom tom perguntar como ele gostaria de ser chamado. Ele ainda lembra que identidade de gênero não é o mesmo que sexo biológico ou orientação sexual.
— São coisas distintas e muito pessoais. O recado a ser dado é: respeite para ser respeitado. Meus familiares e colegas de trabalho me respeitam e me apoiam em meu processo, mas na sociedade há muito estigma ainda. Trans são, acima de tudo, pessoas. É esse olhar que precisa ser amadurecido. Vai chegar um dia em que os fantasmas e polêmicas vão dar lugar ao esclarecimento — conclui.
*Com informações da Comunicação Interna do Senado Federal.