Vanessa destaca importância do Dia de Tereza de Benguela

A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), procuradora da Mulher, parabenizou as mulheres negras do Brasil e da América Latina, que comemoram, neste dia 25 de julho, o dia Nacional da Mulher Negra e o dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha.
25/07/2018 18h10

A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), procuradora da Mulher, parabenizou as mulheres negras do Brasil e da América Latina, que comemoram, neste dia 25 de julho, o dia Nacional da Mulher Negra e o dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha.

“Neste momento em que nos avizinhamos de uma importante eleição, munidas de duas importantes conquistas – a distribuição proporcional do Fundo Partidário e do Fundo Eleitoral – que podem tornar nosso sistema político menos distorcido em relação ao gênero, já que as candidaturas de mulheres serão mais competitivas, não podemos nos deixar de reconhecer as questões das mulheres negras”, disse Vanessa.

Para a senadora, “inegavelmente a saúde política da nossa democracia depende do reconhecimento de que a diversidade, seja em termos de raça, de classe, de idade, de orientação sexual, é sempre benéfica”. Segundo ela, “a diversidade não divide as mulheres, só as multiplica e torna mais numerosas e fortes”.

A senadora destaca que colonização projetou a luta política das mulheres negras e indígenas desde muito cedo e que a Procuradoria da Mulher do Senado tem se esforçado, em todos os eventos, em trabalhar com o recorte conjunto de gênero e de raça.

Exposição

Até o dia 6 de agosto, a exposição Vozes Libertárias pode ser visitada na Biblioteca do Senado, entre 9h00 e 18h00, de segunda à sexta.

A exposição lança um olhar de raça e gênero sobre a abolição e permite conhecer a trajetória de 13 mulheres negras que resistiram individual ou coletivamente, ilegal ou ilegalmente, às causas e aos efeitos da escravidão

Na abertura, em junho, a senadora Regina Sousa (PT-PI) parabenizou o enfoque crítico adotado e lembrou o exemplo de uma conterrânea, Esperança Garcia.

Rigorosamente contemporânea de Tereza de Benguela – cujo dia é comemorado hoje – no século XVIII, Esperança foi reconhecida pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em 2017, como a primeira mulher advogada do Piauí.

Tereza de Benguela

Em 2014, o dia 25 de julho foi instituído pela Lei nº 12.987/2014, após projeto de lei da então senadora Serys Slhessarenko, como Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, em iniciativa inspirada pelo Dia Internacional de Luta da Mulher Negra e do Caribe. Desde então, o dia de Tereza de Benguela se tornou um símbolo para a memória das mulheres negras.

Em maio de 2018, quando a Procuradoria Especial da Mulher (ProMul) se somou à iniciativa da Biblioteca do Senado de repensar em termos críticos a Abolição brasileira, 130 anos depois, a ProMul lembrou Tereza de Benguela.

Reza a lenda que Vila Bela da Santíssima Trindade, primeira capital do Mato Grosso, foi a única cidade brasileira em que a Abolição aconteceu em 1822, graças ao legado do quilombo de Tereza de Benguela, também conhecida como Tereza do Quariterê, no século XVIII.

Recontar

A história das mulheres na luta contra a escravidão ainda está por ser contada – em todos os sentidos – e com atenção à variável racial. Para se ter ideia, numa lista de 106 abolicionistas brasileiros disponível na Wikipedia, há apenas 5 mulheres em destaque.

Após fecunda consulta ao Dicionário Mulheres do Brasil: de 1500 até a atualidade, organizado por Schuma Schumaher, Érico Vital Brazil (Rio de janeiro: Jorge Zahar Ed., 2000), a ProMul conseguiu dar destaque a 26 mulheres que confrontaram a escravidão.

Como homenagem ao dia de Tereza de Benguela, a ProMul destaca as mulheres negras desse time.

São outras treze “Terezas”, na condição de mulheres negras, do campo e da cidade, alfabetizadas ou não, escravas ou forras, muitas vezes sem sobrenome, protagonistas de histórias de sucesso pleno, parcial e mesmo de fracasso que as alça à História maiúscula.

 

Adelina – a charuteira (MA)

Escrava e abolicionista entusiasta, era filha de uma escrava conhecida como Boca da Noite e de um rico senhor. Distribuía em botequins e vendia avulsamente, na rua, os charutos da fábrica do pai, tecendo rede de contatos e relações que facultava a fuga de escravos.

Tia Ana (CE)

Em 1835, liderou uma revolta de escravos em fazenda na serra de Ibiapaba, interior do Ceará, durante uma viagem do proprietário, conhecido pelos modos violentos. Retornando para reprimir a rebelião, o senhor, acossado, acabou enforcando-se em uma mangueira.

Brandina (SP)

Proprietária de uma pensão na cidade de Santos, apesar de não ser uma mulher de posses, usava seu dinheiro para dar comida, fumo e remédios aos negros que se refugiavam na baixada santista, colaborando com Santos Garrafão, líder quilombola da região.

Francisca (BA)

Com Francisco Cidade, seu companheiro, articulou levante escravo ocorrido em 1814, em Salvador. Em documentos escritos em árabe, apreendidos pela repressão, ela e o marido figuravam como “Rainha” e “Rei” da conspiração.

Germana (BA)

Vivia em Salvador, onde nascera em 1819, e era companheira de um escravo forro, sem viver com ele. Aos 60 anos queixou-se, na Justiça, do rigoroso cativeiro, mesmo após produzir quinze crias para o senhor, que não alforriava. Venceu a causa e comprou a liberdade.

Iá Nassô (África)

Escrava forra, inicialmente fez parte da confraria Nossa Senhora da Boa Morte, em Salvador. Por volta de 1830, com Iá Adetá e Iá Calá, fundou o Ilê Iá Omi Axé Airá Intilé, casa consagrada  a Xangô e um símbolo da liderança e resistência das ialorixás (mães-de-santo).

Justina (RJ)

Conhecida como a Medéia Negra, em 1878, afogou três crianças de que cuidava, temendo ser separada delas, às vésperas de uma viagem que seu senhor faria para vender escravos. Sobreviveu a uma tentativa de suicídio e foi condenada a 42 anos de prisão.

Justina Maria do Espírito Santo (África)

Nascida na Costa Ocidental da África, foi presenteada a um cônego de Campos (RJ). Em 1853, deu à luz um menino, José do Patrocínio. Faleceu em 18 de agosto de 1885 e seu enterro foi acompanhado por influentes abolicionistas brasileiros.

Luísa Mahin (África ou Bahia)

Mãe de Luís Gama, pertencia à nação nagô-jeje, da tribo Mahi, e dizia ter sido princesa na África. Foi uma das líderes da Revolta dos Malês, em janeiro de 1835. Trabalhando como quituteira, despachava mensagens em árabe para outros revoltosos.

Maria Firmina dos Reis (MA)

Autora de Úrsula, romance abolicionista, e considerada também primeira romancista brasileira, Maria Firmina (1825-1917) fundou em São Luís uma escola mista e gratuita para crianças pobres. Nunca se casou, mas adotou várias crianças e cuidou de muitos afilhados.

Mariana Crioula (RJ)

Aderiu e participou da direção de uma das maiores fugas de escravos da história fluminense, que teve início em 5 de novembro de 1838, no Vale do Paraíba, sob liderança de Manuel Congo. Ficou conhecida como a “Rainha” do quilombo e Manuel Congo como “Rei”.

Rosa e Peregrina (MG)

Em 14 de abril 1858, foram enforcadas na cidade de Sabará, sob acusação de assassinar sua senhora, que lhes infligia maus-tratos. Também acusadas, Luísa, Tecla, Balbina, Quitéria e Jesuína receberam pena de 60 açoites e dois anos de gola de ferro soldada ao pescoço.

Severina e Maria do Carmo (BA)

Em 1872, moveram ação de liberdade e pedido de depósito contra sua senhora, Afra Joaquina Vieira Muniz, o que implicava ficarem recolhidas até o fim do processo num lugar seguro indicado pelo juiz. Entretanto, perderam o processo e permaneceram escravas.