Servidoras falam sobre suas vivências como policiais da Casa

24/06/2019 09h38

As servidoras Isabela Lisboa, Lívia Vieira e Mayra Kussakawa têm muito em comum: são formadas em direito, se identificam especialmente com a área penal e escolheram a carreira policial como ofício. O trio, que integra a equipe da Polícia Legislativa do Senado, divide com os leitores da Intranet os desafios, trajetórias e perspectivas profissionais.

Com dez anos de Casa, Isabela, que é mestre em direito constitucional, era docente da disciplina de direito penal na Universidade Federal de Juiz de Fora. Por isso, ela buscou, naturalmente, um concurso relacionado à área em que já trabalhava. Ao ser aprovada na seleção para o Senado, a servidora foi lotada no Serviço de Investigações, onde ficou na chefia até fevereiro deste ano. Atualmente, a policial atua como chefe do Serviço de Apoio Administrativo ao Gabinete da Diretoria de Polícia.

— A investigação foi uma área de que gostei muito de trabalhar e aprendi muito. Também faço parte do Comitê Pró-Equidade de Gênero e Raça do Senado. Então, a gente vai atrelando o trabalho com outras frentes também — explicou Isabela.

A policial Lívia Vieira tem especialização em direito público e trabalhava com assessoramento jurídico no Tribunal de Justiça de Minas Gerais, mas já vislumbrava a carreira policial. Prova disso é que ao ser aprovada no Senado, em 2012, já estava na segunda fase de uma seleção para o cargo de delegada da Polícia Civil de Minas Gerais.

— Por gostar do direito penal, por um histórico familiar e pelo fato de as pessoas falarem que o meu perfil combinava, eu já pensava nisso. E eu realmente não me via em outra carreira. Desde que ingressei no Senado, fiquei três meses no policiamento externo e depois fui para o interno. Na sequência, atuei cinco anos na investigação e, no início deste ano, fui convidada para assessorar o chefe do policiamento no Plenário, uma atividade bem diferente da que eu fazia antes, mas que tem sido gratificante — disse.

Trajetória semelhante tem Mayra: com especialização em criminologia, a policial também trabalhou com assessoramento jurídico no Tribunal de Justiça do Paraná. Contudo, a área policial sempre despertou boas expectativas e vontade de participar, contou a servidora.

— Na época, estava estudando para o cargo de delegada da Polícia Civil do Paraná, mas resolvi fazer o concurso do Senado como teste. Mas esse teste foi virando aprovação nas etapas da seleção e acabei vindo para cá. Com o tempo, fui gostando cada vez mais da atividade e, atualmente, não tenho vontade alguma de sair daqui — salientou Mayra, hoje chefe do Serviço de Treinamento e Projetos.

Representatividade

Apesar de a participação feminina ser menor em diversas carreiras policiais, as servidoras acreditam que o cenário está mudando e os números do próximo concurso poderão mostrar isso.

— Acho que nos próximos concursos policiais cada vez vamos ter mais mulheres. A tendência é essa para todas as polícias — destacou Mayra.

Para Lívia, a mulher “já se enxerga mais nesse papel” [da policial feminina] e tem ligado menos para imposições sociais, sentindo-se mais à vontade para fazer o que deseja.

Cenário positivo

Sobre o preconceito no ambiente de trabalho, já que se trata de um espaço predominantemente masculino, elas relatam que o cenário encontrado no Senado foi positivo, principalmente em comparação a outros locais.

— No tribunal, era um ambiente de constante assédio sexual e moral. Era um clima horrível. Vim para o Senado e o impacto foi positivo. Nunca tive problema com assédio — ressaltou Mayra.

De acordo com Isabela, as 12 policiais que compõem a equipe têm o respeito e reconhecimento dos demais colegas. No entanto, a profissão, segundo ela, desperta curiosidade nos que estão de fora.

— No geral, há o estigma do policial em geral, em especial da policial feminina. Não é algo comum ainda, então, há uma certa curiosidade. As pessoas querem saber como você chegou lá — pontuou Isabela.

Desafios

O fato de serem mulheres e estarem inseridas num contexto em constante mudança exige esforço contínuo para romper alguns estigmas, alerta Isabela. Para ela, apesar de haver melhorias, ainda há um longo caminho a ser percorrido.

— Nosso desafio é duplo: por sermos mulheres  e policiais. Eu vejo como um grande desafio trabalhar aqui. Nós vivemos em um contexto estigmatizante e ao mesmo tempo buscamos rompê-lo. Isso muitas vezes provoca a incompreensão sobre o que fazemos ou o porquê decidimos trabalhar na área policial. Mas creio que esse e outros desafios do tipo estejam atrelados ao papel de toda mulher — conclui.

Foto: Antônio Pinheiro/Núcleo de Intranet