Senado leva Pauta Feminina a Ceilândia

22/03/2018 17h50

Cerca de 40 pessoas participaram, nesta 5ª feira, de atividade que a Procuradoria Especial da Mulher do Senado realizou, em Ceilândia, para discutir e ouvir “A Voz das Mulheres no Combate à Violência Doméstica”, em atividade do projeto Pauta Feminina.

Com mediação da diretora-geral do Senado, Ilana Trombka, a iniciativa aconteceu no Centro Especializado de Atendimento à Mulher (CEAM), um dos equipamentos da rede de atendimento à mulher em situação de violência.

“Estamos realizando esta atividade, que traz o Parlamento para fora dos muros do Senado, sob o impacto de feminicídios recentes em Brasília, um na Asa Sul e outro em Ceilândia, e da morte da vereadora Marielle Franco, no Rio de Janeiro”, lembrou Ilana Trombka.

Mulheres inspiradoras

Detentora de 12 prêmios nacionais e internacionais, em razão de seu projeto “Mulheres Inspiradoras", a professora Gina Vieira Ponte falou sobre o trabalho que idealizou e realizou no Centro de Ensino Fundamental 12, em Ceilândia.

Segundo Gina, após sofrer uma crise de esgotamento mental – que associou a uma frustração de seu projeto de fazer da educação uma ferramenta de transformação –, ela começou a refletir sobre a distância existente entre a escola e os alunos e alunas.

“Temos uma escola que gera evasão, repetência e fracasso escolar porque não dialoga com seus jovens”, disse Gina. “A juventude vira as costas para a escola porque a escola virou as costas para ela”.

Beleza

Uma polêmica em torno de vídeo de conteúdo sensual produzido por uma aluna foi a gota d’água para inserir uma discussão inovadora, para refletir com os estudantes sobre a beleza como único valor a ser cultivado pelas meninas.

Mediante a leitura de livros sobre grandes mulheres, ela procurou aumentar o repertório dos jovens, que aumentaram inclusive a sensibilidade para as “mulheres inspiradoras” presentes em suas famílias:

“Eu quis mostrar que a beleza como único valor atribuído às mulheres e incentivado nelas, nos torna presas de um ‘dispositivo amoroso’ e de um ‘dispositivo materno’, e nos afasta de outros dispositivos, como os de poder, onde a participação feminina está brilhantemente representada pelas mulheres desta mesa”.

Transformação

Sandra Melo, delegada-chefe da Delegacia Especial de Atendimento à Mulher – DEAM, disse que sua vida foi endereçada à causa da mulher.

Delegada há 22 anos, em 2000, Sandra foi nomeada diretora do presídio feminino. “A mulher é penalizada até na hora de cumprir a pena, pois as visitas de seus companheiros escasseiam após 2 ou 3 meses, ao passo que o homem preso sempre conta com a lealdade, apoio e constância das visitas das companheiras”.

Em 2007, Sandra foi designada para ficar à frente da DEAM, a 2ª delegacia da mulher criada no Brasil, muito em função da lei 11.340/2006. “Há um momento antes e um momento depois da Lei Maria da Penha”, disse.

Para Sandra, há também dois momentos na sua atuação frente a violência contra a mulher. Passou-se de uma fase de sensibilização a uma fase de transformação.

“Hoje a Polícia Civil do Distrito Federal valoriza muito a especialização do trabalho, com o estabelecimento de protocolos de trabalho adequados à investigação de crimes associados à violência de gênero”.

Planos

Chefe do CEAM-Ceilândia, criado em setembro de 2014, Érika Laurindo destacou a importância do trabalho de articulação com a rede social de Ceilândia, que permite atender às demandas diversas do público que atende.

Érika também valorizou a importância do trabalho interdisciplinar, com a cooperação de pessoas de serviço social, psicologia, pedagogia e direito, cujos pontos de vista colaboram no fortalecimento das mulheres.

“Quando a gente fala em violência, a gente deve considerar que há ‘fatores de risco’ e ‘fatores de proteção’. A gente conversa com as mulheres sobre coisas que podem enfraquecê-las – o isolamento social, a falta de acesso ao mercado de trabalho, etc. – ou fortalecê-las”, disse.

Para Érika, “é importante que as mulheres tenham um ‘plano de segurança’ – ter documentos consigo, chaves para sair, etc. – e, acima de tudo, um ‘plano de vida’, que lhes dê uma noção do que queremos. O que nos faz levantar todos os dias é ter um projeto”, concluiu.

Direitos

Lívia Gimenes Dias da Fonseca, advogada, integrante da equipe de coordenação do projeto Promotoras Legais Populares, falou sobre a iniciativa que une práticas dialógicas baseadas em Paulo Freire e do Direito Achado na Rua.

“Temos que pensar ‘mais mulheres na política’ em outros sentidos também, que contemplem a atuação social em outro sentido”, defendeu Lívia.

Presente em vários estados, as promotoras legais populares ensinam as mulheres a buscar seus direitos e a se transformar em procuradoras de direitos de outras mulheres. Em Ceilândia o grupo se reúne no Núcleo de Prática Jurídica da Universidade de Brasília, e em São Sebastião, no Colégio Centrão.

Participantes

"Esta casa é uma casa de apoio. Quando vim a esta casa, me sentia um nada. Essa casa me ensinou a acreditar que eu posso sim ter um recomeço”, disse Maria do Socorro da Cruz.

“Eu tinha muito medo de expor a minha vida e aqui nesta casa eu consegui me abrir me enxergar, porque a gente não diz o que nós passamos pra ninguém. Nós fazemos imagem do que nós não somos: de uma mulher feliz, de um casamento ótimo”, completou.

Estiveram presentes: Ana Paula Damasceno, coordenadora de Enfrentamento à Violência contra Mulheres, da Secretaria Adjunta de Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos (Samidh) do Governo de Brasília; Marília Serra, servidora do Senado e uma das fundadoras da Associação Brasileira de Famílias Homotransafetivas – ABRAFH; Giancarlo Parra Lima, da Administração de Taguatinga; Henrique Marques Ribeiro, coordenador do Observatório da Mulher contra a Violência (OMV) do Senado; e Mara Dall’Negro, presidente da seção brasiliense do Fórum de Mulheres  do Mercosul.