Roda de Leitura traz racismo e preconceito para debate na Biblioteca

10/07/2017 12h38

roda 1A Biblioteca do Senado promoveu, na tarde dessa quinta-feira (6), a 3ª edição da Roda de leitura. No evento, Roberta Barreto, da Consultoria Legislativa, e Ramila Moura, da Procuradoria da Mulher, mediaram uma conversa sobre o livro Americanah, da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie.

Inicialmente, as mediadoras apresentaram o romance e seu contexto.

roda 2— A história da autora se confunde muito com a vida da protagonista do livro. Ela também é uma nigeriana que vai para os Estados Unidos. Por isso, ela traz toda a questão cultural e as dificuldades. No livro, a personagem sofre uma série de violências, passa por episódios de ofensas racistas e violência contra a mulher — adiantou Ramila.

Segundo Roberta, a obra também destaca a questão da imigração.

— A personagem saiu da Nigéria porque estava em um momento político complicado, o que apresenta um pouco a política do país que tem histórico de ditadura, governos militares e convulsões políticas. E a imigração é algo muito importante para a autora. Por ela ser nigeriana, muito do que ela chama atenção é o seguinte: ela não convive com estadunidenses e, quando se apresenta, as pessoas falam do seu país como se fosse o continente africano. A gente tem esse hábito de falar da África como se ela fosse uma coisa só, um país único — provocou.

Com essa apresentação, os participantes começaram a discutir o tema e trouxeram testemunhos de racismo e experiências com outros preconceitos.

A chefe do Serviço de Controle da Produção, Raimilda Bispo dos Santos, por exemplo, contou um pouco sobre a experiência de sua filha que está estudando medicina na Rússia.

— Uma das coisas com que a minha filha tem lidado são perguntas como "tem negros no Brasil?", porque o negro do Brasil não tem condições de sair do país. Ela conta que, de início, as pessoas achavam que ela era uma negra africana, nesse contexto da África como um país.

 

roda 3Raimilda ainda comparou situações do livro com algumas vivências pessoais.

— Eu achei muito interessante essa questão da trança, porque a personagem sai do lugar onde ela está e vai para a periferia para trançar o cabelo. Isso acontece com a gente! Agora tem o Conic, mas antes não existia salões para cuidar de cabelos crespos, a gente ia para Ceilândia, Gama ou Taguatinga. E ela também coloca que a menina que trançava o cabelo dela no livro era agressiva e eu passei muito por isso. O que eu li nesse primeiro capitulo é toda uma realidade nossa aqui no nosso país, nem estou vendo a cultura americana ou a nigeriana, eu estou vendo o negro brasileiro — argumentou.

A Biblioteca também preparou uma vitrine com obras que dialogam com os temas arrolados no livro Americanah a fim de mostrar um pouco do acervo que trata dessa temática.

Fonte: Comunicação Interna/Senado Federal