Roda de Leitura discute direitos de transgênero no trabalho

10/12/2018 18h00

A penúltima Roda de Leitura desse ano, realizada na última segunda-feira (10) na Biblioteca do Senado, tratou dos Direitos Humanos das pessoas transgênero no ambiente de trabalho.

O debate teve como mediadora Natalha Nascimento, mulher transexual, professora de matemática pela Universidade Estadual de Goiás e moradora da cidade Estrutural, que contou sua experiência de violência que sofreu numa pastelaria famosa na capital e os motivos que a levou a resistir e lutar a cada dia por seus direitos como cidadã. E ainda comentou a importância desses encontros, porque permite uma  aproximação do universo transgênero e o universo gênero de uma forma pedagógica.

— Para nós, é de extrema importância esses debates, pois podemos perceber que a sociedade quer nos ouvir, nos conhecer e, de certa forma, desconstrói essa violência que sofremos ao longo dos anos, que nosso comportamento não é uma brincadeira, é uma realidade e resistência no mundo inteiro.

Natalha explicou também que a transgeneridade e a travestilidade são características individuais e pessoais de quem a possui e essas rodas de debate são importantes para esclarecer esse significado às pessoas.

— Tem um significado muito humano, é a construção da dignidade violada ao longo de muito tempo e a melhor forma de conhecer o que é diferente é estando próximo e esses debates permite dialogar, discutir, desconstruir uma imagem negativa construída — comentou.

Veja fotos: https://flic.kr/s/aHskKskhnn

A coordenadora da Biblioteca, Mônica Rizzo, ressaltou a importância do tema discutido no Dia Internacional dos Direitos Humanos.

— Trabalhar esse assunto tem uma relevância especial por comemorarmos hoje (10/12) setenta anos da Declaração dos Direitos Humanos.

A gestora do Programa para Equidade de Gênero e Raça do Senado, Terezinha Nunes, agradeceu o apoio e parceria da Biblioteca do Senado juntamente com a Procuradoria da Mulher e do Comitê Permanente pela Promoção da Igualdade de Gênero e Raça.

— Aproveitamos a oportunidade do convite da Biblioteca para trazermos essa temática de LGBT, numa questão específica de transgênero. Chamou muito a minha atenção a história da Natalha, ela foi amplamente noticiada nos jornais e foi uma questão de discriminação explícita que teve um resultado surpreendente na minha visão — disse Terezinha.

Ela ainda disse que será uma boa forma de desnaturalizar essa questão e tornar mais comum esse tema no Senado, por ter um corpo funcional diverso.

— Muita gente tem dúvida, não sabe, tem peguntas, é uma forma da gente conversar sobre esse tema e trazê-lo mais próximo da realidade. Nosso foco é a questão no trabalho. Extinguir qualquer tipo de discriminação, preconceito, estigma no ambiente de trabalho, sempre respeitando as diferenças — ressaltou.

Natalha falou também sobre a forma correta de abordar uma pessoa transgênero, utilizando expressões como "tu" e "você", pois, dessa forma, não se identifica o gênero da pessoa e evita situações desconfortáveis e indelicadas.

Lembrou ainda dos casos de violência contra travestis e transexuais, como o do assassinato da travesti Dandara, que foi espancada em plena rua, em Fortaleza, no dia 15 de fevereiro de 2017 e, em seguida, morta a tiros.

— O Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais no mundo. Estou resistindo dessas manifestações de ódio.

Como professora, explicou sobre sua paixão em dar aula e da importância para mudar a sociedade.

— A educação é o eixo mais importante para combater a violência — afirmou.

O servidor Cláudio Dobbin, que sempre participa dos encontros, lembrou da resistência dos líderes religiosos em tratar esse assunto em suas igrejas. 
Ele aproveitou a oportunidade e sugeriu às organizadoras das rodas de leitura gravar cada encontro e compartilhar na página do youtube do Senado Federal para, dessa forma, ampliar o alcance do público externo.

— Precisamos divulgar esses encontros para as pessoas que não acessam a intranet, essas rodas representam um compromisso de valores para a sociedade pela qualidade dos convidados do material — disse.

Mais da história de Natalha

Sempre que passava em frente à tradicional pastelaria Viçosa na rodoviária do Plano Piloto, em Brasília, a professora Natalha Nascimento – uma mulher trans – ouvia xingamentos dos funcionários do local, o que resultou em um processo judicial contra a lanchonete e terminou com um acordo entre as partes.

Ela abriu mão de uma indenização por danos morais, pleiteada em R$ 20 mil, e propôs uma palestra aos trabalhadores como forma de conscientizá-los sobre o respeito ao próximo. Durante a audiência de custódia, em maio deste ano, a professora se prontificou a falar com os funcionários.

Na palestra, ela falou sobre direitos, violência aos desiguais, questões relativas a aspectos biológicos e comportamentais dos transgêneros e da sociedade e também incentivou denúncias contra atos discriminatórios.

— Palestrei para 52 pessoas da pastelaria. Fiz um texto com 4 páginas de forma que em nenhum momento eles se sentissem constrangidos — lembrou Natalha, sem fazer ideia da dimensão que esse acontecimento alcançaria. Para ela, o importante não é o reconhecimento da mídia, mas sim a continuação da luta contra qualquer tipo de preconceito.

Última Roda de Leitura do ano

A próxima Roda de Leitura ocorrerá nesta quinta-feira (13), com o tema “A vida, o tempo e o ócio no pensamento de Sêneca”, tendo como mediadora a professora Melissa Andrade Costa.

Comunicação Interna/Senado Federal