Roda de Conversa debate o papel dos homens na luta contra a violência de gênero

07/12/2022 11h35

Na tarde desta terça-feira, o Plenário 13 do Senado Federal foi palco da Roda de Conversa sobre a Campanha do Laço Branco: Dia Nacional de Mobilização dos Homens pelo Fim da Violência contra as Mulheres. O evento é parte da campanha dos 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres e Meninas e a roda de conversa, em especial, foi articulada pela Procuradoria Especial da Mulher do Senado e pelo Comitê de Gênero e Raça do Senado, em parceria com empresas prestadoras de serviço para o Senado.

“Num dia como esse, em 1989, no Canadá, ocorreu o Massacre de Montreal, quando um homem armado, chamado Marc Lépine, entrou numa sala de estudantes de engenharia, pediu para os homens saírem e atirou nas mulheres que ficaram, dizendo que ‘lutava contra o feminismo’”, explicava a advogada Lúcia Bessa, enquanto fixava na lapela de cada homem laço branco, símbolo da campanha pelo engajamento masculino na luta contra a violência de gênero.

Desconstrução

Na roda de conversa, a drª Lúcia Bessa, assessora jurídica da Procuradoria Especial da Mulher do Senado, dialogou com um colega de trabalho, o jornalista Lunde Braghini Junior, acerca de como os homens podem “desconstruir” os padrões de prática ou de conivência com a violência, nos quais foram formados, para se envolverem na construção de uma sociedade pacífica.

“Quem quer viver na contenda? Todos e todas queremos e devemos viver em situação de tranquilidade”, disse, diante da realidade desoladora da violência contra as mulheres, que tem a especificidade de as vitimar no lugar em deveriam se sentir mais seguras, a própria casa. Para ela, todos e todas devem ser agentes transformadores. “Não queremos homens à nossa frente e nem na nossa retaguarda, nós os queremos ao nosso lado”, disse.

Padrões

O jornalista Lunde Braghini procurou incentivar o público a pensar sobre os padrões culturais presentes na construção de uma masculinidade “envenenada” ou “tóxica”, responsável, em muitas situações, pela produção de feminicídios. Ele citou uma reportagem famosa – “O Anjo da morte”, de José Rezende Jr. –, na qual um feminicida diz: “Eu fiz o que qualquer brasileiro casado faria”.

Para o jornalista, a frase contém elementos instigadores para o debate de uma construção envenenada ou tóxica da masculinidade, do casamento e da própria nacionalidade brasileira. “Nós, homens, somos criados para definir a construção de nossa pessoa em torno de valores associados ao medo ou vergonha de “ser gay”, de “ser corno”, de “ser brocha”, como se todo o universo masculino  de preocupação  girasse em torno disso”, declarou.

Público

Majoritariamente formado por servidoras terceirizadas da Casa, o público trouxe muitas contribuições e compartilhou situações de opressão de gênero e de frustração quando as mulheres procuraram os serviços de proteção do Estado. “Nós temos que nos justificar o tempo inteiro, para todas as autoridades e pessoas, isso é desesperador”, disse Leidijane de Souza.

Há mais de trinta anos no Senado Federal, o encarregado setorial Milton José Ambrósio elogiou a participação e o envolvimento das servidoras terceirizadas, mas lamentou que o número de homens presentes fosse pequeno, numa data que trata justamente do envolvimento dos homens.

 

Para a Dra. Lúcia Bessa, os depoimentos das mulheres presentes valeram o trabalho: “são falas chocantes e cheios de emoção, que nos fazem refletir sobre o nosso papel enquanto instituição que compõe a rede de proteção à mulher e sobre nós mesmas (e mesmos), enquanto cidadãs e cidadãos, e o exercício da empatia e humanidade”.

Fotografia: Ludimila Neves.

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