ProMul aborda violência contra mulher em palestra no Pôr do Sol

15/09/2022 12h59

Na noite desta quarta-feira, 15 de setembro, a procuradoria Especial da Mulher do Senado foi ao Instituto Meninos do Pôr do Sol (IMP) para conversar sobre a violência contra a mulher. Durante uma hora e meia, cerca de trinta mulheres acompanharam a fala da assessora jurídica da ProMul, dra. Lucia Bessa, que levou a saudação e os cumprimentos da senadora Leila Barros, procuradora Especial da Mulher do Senado.

Regiões do Distrito Federal nascidas como extensões habitacionais da Ceilândia, Sol Nascente e Pôr do Sol formam desde 2019 a 32ª Região Administrativa do DF, a penúltima a ser reconhecida, antes de Arniqueiras. Cinco anos antes, em 2014, o IMP já se formalizava, criado a partir da preocupação de seu presidente, Ilário Ferreira da Silva, e da mulher, Lucilene, em fazer um trabalho social para pessoas como a filha, que tinha sido diagnosticada com TDHA (transtorno de déficit de atenção com hiperatividade).

O instituto multiplicou o leque de serviços oferecidos e hoje atende mais de mil pessoas, em sua maioria crianças. A filha de Hilário e Lucilene, Stefany Nobre da Silva, é vice-presidente. Ao lado de outras funcionárias e colaboradoras do IMP – Socorro, Dalva, Graziele, a professora de educação física Cleire e a psicóloga Rosângela –, Stefany acompanhou a palestra da dra. Lucia Bessa, realizada a convite da assistente social Dilza Matias Tavares.

Questionamentos

Em sua fala, a Dra. Lucia procurou questionar e desnaturalizar um conjunto de ideias feitas que fazem as mulheres acreditarem que permanecer numa relação infeliz é algo sem muita saída e ao qual elas têm que se acomodar e resignar, ignorando inclusive o crescendo da violência que começa no desrespeito, se verbaliza na palavra agressiva, se materializa na agressão física e culmina no feminicídio.

Ela chamou a atenção para a desigualdade da tradição que faz a mulher achar que tem que se “doar 100%” para que uma relação dê certo. “Mas quem se doa integralmente para o outro não fica com nada nada para si nem de si, a ponto de muitas mulheres se olharem no espelho e não se reconhecerem, ou de nem quererem voltar para casa quando termina o expediente do trabalho, pois o lar não é um espaço em que se sentem bem e felizes”, disse.

Ideias feitas

Usando humor, ironia e todas as ferramentas de comunicação para chamar a atenção, da Dra. Lucia tentou desconstruir vários pensamentos comuns que veiculam ideias de resignação (“os homens são assim mesmo”), de imaginar um futuro pior (“ruim com ele, pior sem ele”), de achar que é sua natureza que a prende ao homem (“não consigo ficar sem alguém”) ou mesmo de que o casamento vai ser ruim para ele também (“se comeu a carne, vai ter que roer o osso”), como se fosse uma punição para os dois.

Repetidas sem muita reflexão, as ideias presentes nesse conjunto de frases servem apenas para subsidiar a ideia de a mulher não pode nem deve fazer nada diante de uma situação de muita infelicidade, sob pena de ficar sozinha, sem companhia.  “A gente não precisa da aprovação do outro, a gente precisa de um outro que caminhe junto”, disse a assessora jurídica da ProMul.

Justificativas

Além de serem estimuladas a achar que não há saída para a infelicidade que enfrentam num casamento ruim, a tendência dominante leva as mulheres a justificarem agressões inaceitáveis como se elas é que tivessem sido as agentes causadoras da própria agressão que receberam, como se alguma coisa que fizeram ou deixaram de fazer explicasse e justificasse a agressão que receberam.

“O mais grave é que isso acontece até nas delegacias, quando as mulheres vão prestar queixas e agentes desconfiados perguntam a elas – até desfiguradas pelas agressões – o que fizeram para despertar tanto ódio”, disse a dra. Lucia.

Contrato

A palestra culminou no “convite” feito pela palestrante para a celebração de um “contrato” de duas cláusulas: “Primeiro, eu vou me amar, em primeiro lugar; segundo, se o companheiro ou companheira, no caso de uma relação homoafetiva, me bate, xinga, ofende, desrespeita – eu vou sair fora”.

Ao finalizar, a dra. Lucia disse que é muito importante que as mulheres saibam que não estão sozinhas no mundo quando têm que tomar uma decisão desse porte e que isso nos compromete a todas e todos com o gesto de estender a mão e compartilhar com elas um pouco de nosso calor, carinho, humanidade e companhia. “Temos que nos dizer a todas: você não está sozinha”, finalizou.