Procuradoria da Mulher do Senado celebra centenário da primeira senadora negra

06/07/2023 13h09

A senadora Zenaide Maia (RN), procuradora Especial da Mulher do Senado, quer editar uma obra para comemorar o centenário de Laélia de Alcântara, a primeira senadora negra brasileira, nascida em 7 de julho de 1923. Suplente do senador acreano Adalberto Sena desde 1974, a senadora Laélia de Alcântara assumiu o mandato como senadora por três meses, em 1981, e cumpriu-o até o final, após a morte do senador em janeiro de 1982.

“Laélia de Alcântara nasceu na Bahia, se formou em medicina no Rio de Janeiro e foi trabalhar no Acre, quando ainda era um Território e só havia mais 6 médicos além dela! Durante 50 anos ela exerceu a medicina e foi até presidente do Conselho Regional de Medicina. Laélia foi a segunda mulher a assumir uma cadeira no Senado durante a República!  Quando ela chegou ao Congresso, em 1981, só havia cinco mulheres parlamentares, uma senadora e quatro deputadas! Como procuradora Especial da Mulher do Senado, eu quero reeditar e recuperar todos os seus discursos e intervenções parlamentares, inclusive – mas não só – em defesa dos negros e das mulheres”, disse a senadora Zenaide Maia, em gravação de vídeo para celebrar a data.

Discursos

Um registro bastante rico da primeira passagem de Laélia de Alcântara pelo senado Federal consta no livro “90 dias no Senado Federal”, que reúne a saudação de acolhimento feita pela senadora Eunice Michiles, 11 discursos da própria Laélia, inclusive com os apartes feitos por senadores do porte de Marcos Freire (PE), Henrique Santillo (GO) e Jarbas Passarinho (PA), acreano de Xapuri. Em aparte a um de seus discursos aparece também a senadora Maria Sirley (SC), que também assumiu como suplente àquela época.

Radicada no Acre desde o início da década de 1950, Laélia nasceu em Salvador e se formou em Medicina no Estado do Rio. Quando chegou ao território federal do Acre, só havia 6 médicos em todo o território, além dela. A situação ambiental, energética, sanitária da região amazônica é tema de vários discursos de Laélia, assim como a questão racial, da mulher e das pessoas com deficiência.

Mesmo sendo rico, o pequeno volume que documenta o primeiro momento da passagem de Laélia de Alcântara não é exaustivo. Intervenções de muito interesse não estão documentadas, como as emendas que Laélia de Alcântara fez ao projeto e lei do Executivo que instituiu o Corpo Feminino de Reserva da Aeronáutica (CFRA). Laélia identificou aspectos discriminatórios no projeto e apresentou emendas para permitir que as mulheres pilotassem – conquista que só chegaria em 1996 – e um plano de cargos para ascenderem da mesma forma que os homens.

Diploma Bertha Lutz

Quando Laélia chegou ao Congresso, tinha 57 anos e era mãe de sete filhos, seis dos quais assistiram à sua posse, ao lado de seu marido. Nas eleições de 1982, ficou como suplente do senador Mário Maia, mas não voltou à Casa. Após exercer o cargo de Secretária Estadual de Saúde no Laélia, entre maio e setembro de 1987, ela deixou a política. Em 30 de agosto de 2005, faleceu no Rio de Janeiro, aos 82 anos.

Em 2019, a 18º edição do Diploma Bertha Lutz agraciou Laélia de Alcântara in memoriam, na mesma ocasião em que outro ícone da participação política das mulheres, Alzira Soriano, que foi eleita prefeita em 1928, no Rio Grande do Norte, quatro anos antes do direito ao voto ser reconhecido às mulheres. A indicação do nome de Laélia foi feito pela senadora acreana Mailza Gomes e a de Alzira pela senadora Zenaide Maia.