Pioneiras de Brasília são tema de exposição no Salão Nobre do Congresso

19/03/2015 13h00

Em poucos metros quadrados, a história de milhares de mulheres que aceitaram o desafio de morar em Brasília nos anos 1950 e 60. A exposição “Memórias Femininas da Construção de Brasília” foi inaugurada nesta quarta-feira (18) no Salão Nobre do Congresso trazendo imagens das donas de casa, mães, cabeleireiras, lavadeiras e cozinheiras que deram o apoio necessário para a capital surgir.

Entre os objetos da mostra, é possível encontrar radiola com o LP Cuba Libre, uma TV antiga, um telefone analógico, uma central telefônica com cabos, uma incubadora de recém-nascido usada pelo Hospital São Vicente de Paula, ferro de passar a carvão e vestidos de gala, como um dos usados no primeiro baile de debutantes do Palácio da Alvorada, ocorrido em 20 de dezembro de 1960.

A exposição é realizada com o apoio da Coordenação de Publicidade e Marketing da Secretaria de Comunicação do Senado. Segundo o coordenador da área, Pedro Ramirez, a iniciativa “traduz uma função importante do Senado, que é dar visibilidade às principais discussões que acontecem no Parlamento”.

— Para nós, é uma honra e um dever participar de ações que valorizem a mulher e contribuam para uma sociedade mais justa e igualitária — disse ele.

Pioneiras

Na cerimônia de abertura, a ministra da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Ideli Salvati, disse que a mostra é fiel ao tempo a que se refere e prova que, mesmo durante a construção, as mulheres estiveram presentes com seu olhar e sua marca.

A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB), procuradora da Mulher no Senado, destacou que pouco se fala e se escreve sobre a vida das mulheres dessa época de Brasília. Ela também demonstrou preocupação com a perda dessa importante memória coletiva – agora resgatada na iniciativa da curadora Tânia Fontenele.

— As pioneiras que aqui estão representam a geração que pouco apareceu nas fotos tiradas naquela época, mas com certeza nada teria acontecido sem vocês — disse, dirigindo-se às cinco pioneiras que compareceram à solenidade. Como exemplo, citou a foto de uma reunião política da qual só participaram homens. A única mulher presente é uma secretária que aparece de costas.

Uma das pioneiras presentes foi Alice Maciel, enfermeira de 86 anos enviada a Brasília pelo Serviço Nacional de Tuberculose. Ela contou que levava medicamentos e atendia doentes no Distrito Federal (DF) e em Goiás. Também tratava dos que se feriam no trabalho de construção da cidade.

Daqui Alice nunca saiu. Ela fala que Brasília a ensinou a batalhar e acreditar num sonho e gostava de convencer as pessoas a virem também. E lembra com carinho especialmente dos fins de semana passados nas ruas do Núcleo Bandeirante, uma das cidades abrangidas pelo DF.

— Algumas mulheres trabalhavam em casa, outras eram professoras. Não existiam lugares públicos de diversão, mas a gente queria superar e criar a cidade. Nossa vida social era nos acampamentos e nas casas uns dos outros — conta Alice.

Ao chegar à mostra, a pioneira Teresa Rollemberg abriu um sorriso. Apontou a instalação que reproduz a sala de uma casa, com cadeiras, televisão e o móvel da radiola e do rádio.

— Eu tinha iguaizinhos a esses — comentou. Os móveis da família, pouco a pouco, foram levados para a fazenda, onde envelheceram.

Memórias

Teresa Rollemberg relatou que tudo da mostra retrata um pouco da sua própria história, que teve uma mudança muito boa com a vinda para a capital. Teresa chegou com oito filhos. Um deles, Rodrigo, o atual governador de Brasília, à época ainda bem pequeno. Aqui nasceram outros sete. Teresa foi uma das mulheres de parlamentares que vieram para Brasília para compor o Congresso Nacional – era mulher do deputado Armando Rollemberg.

Chegaram em 18 de maio de 1960 e logo o sofá em tom claro sentiu a diferença.

— Se eu limpava às 8 da manhã, na hora do almoço estava todo marrom de poeira. As crianças brincavam na quadra soltas. Era o quintal delas — recorda-se.

A lembrança da meninada na rua também é forte na memória da própria Tânia Fontenele.  Desde 2009 ela coleta material para a exposição, instalada no Senado como uma das comemorações pelo mês da mulher. O pai chegou em 1958, a mãe em 1960. Ela nasceu em 1962. Foi aluna da escola-parque e estudou flauta na escola que mais tarde seria a Escola de Música de Brasília.

— Adoro ter nascido aqui. Minha infância foi muito feliz e livre. É uma cidade que ainda hoje vale a pena.

Estudiosa de diversidade e gênero, ela percebeu que à medida que a história da cidade era contada, as mulheres pioneiras eram esquecidas. Nos 50 anos da cidade, fez um documentário chamado Poeira e batom no Planalto Central, no qual entrevista 50 mulheres que viram de perto a construção da cidade. A partir daí, começou a coletar os itens que aparecem na mostra.

Também compareceram à inauguração da exposição a senadora Simone Tebet (PMDB-MS); a diretora-geral do Senado, Ilana Trombka; e a secretária de Comunicação da Casa, Virgínia Galvez.

A mostra vai de 18 de março a 30 de maio e está aberta a visitação de terça a sexta, das 9h às 17h30, e sábados, domingos e feriados das 12h às 18h. Durante a mostra, haverá ainda um chá das pioneiras, ainda sem data marcada.

Assista ao vídeo: http://bit.ly/1F9ewvF

Fonte: Agência Senado