Pauta Feminina debate invisibilidade de mulheres na história

27/04/2018 18h25

“Esse mapa da desapropriação de Brasília tem o nome dos encarregados, do engenheiro chefe, mas não tem o nome dela”.

Esse nome ausente dos registros da construção da capital do país é o de Mercedes Parada, que chegou em Brasília em 1956, e era calculista e desenhista de mapas. A Pauta Feminina de abril, organizada pela Secretaria da Mulher da Câmara com apoio da Procuradoria Especial da Mulher do Senado, aconteceu no dia 26/4, no Plenário 15 da Câmara dos Deputados.

Tânia Fontenelle, cineasta e pesquisadora do Instituto de Pesquisa Aplicada da Mulher (Ipam) trouxe a público o nome de Mercedes e o de 50 mulheres pioneiras até hoje invisíveis na história da construção da “capital da esperança”. No documentário “Poeira e Batom: 50 Mulheres na Construção de Brasília”, Tânia Fontenelle reconta a história de Brasília ao inserir as narrativas das mulheres que participaram desse momento tão importante para o país.

Para a deputada Jô Moraes (PCdoB-MG), 2ª Procuradora Adjunta da Mulher na Câmara dos Deputados, que participou da Pauta, trazer o debate sobre a invisibilidade das mulheres na história é fundamental. “Antigamente os pais só comemoravam os nascimentos quando descobriam que eram meninos. Essa preferência ainda hoje é parecida em nossa representatividade no Congresso Nacional”, afirmou.

Mulheres Invisíveis

Pilar Acosta, pesquisadora e professora do Instituto Federal de Brasília (IFB) idealizadora do projeto Heroínas sem Estátua desenvolvido no Centro de Ensino Médio 01 de São Sebastião-DF, disse que a sociedade está em um contexto onde as violências são retroalimentadas e isso começa nos silenciamentos das narrativas históricas. “Quando existe a violência pelo apagamento do nome de uma mulher que construiu Brasília, abre-se a possibilidade para que esse apagamento seja além de simbólico, físico também, e aí o limite é o assassinato de mulheres”, explicou.

O seu projeto nasceu da constatação de um ambiente escolar muitas vezes violento com as mulheres e com exemplos positivos apenas de homens na literatura estudada. Assim, o objetivo segundo Pilar “é homenagear as mulheres e reconhecer a contribuição feminina na história que é o lugar da memória coletiva”, disse.

“Quem faz história? Quem fez a história? Que história é essa? A quem interessa o apagamento das mulheres? ”, indagou a pesquisadora e professora Drª Tânia Navarro Swan. Ela destacou a importância do trabalho de Fontenelle e da professora Pilar quando elas trazem a “ação e a presença” das mulheres para visibilidade. “A história mata e condena as mulheres aos limites de um corpo reprodutor para evitar que seu brilho ofusque as banalidades das guerras e vontade de poder masculino”, assinalou.

Interseccionalidade

Joseanes Santos, ativista da Frente de Mulheres Negras do Distrito Federal, explicou que o índice de apagamento histórico é ainda maior quando se considera a questão racial. “Em 2003 aprovamos a Lei 10.639 para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro-Brasileira. Qual impacto teríamos se essa lei tivesse sido implementada nos últimos 15 anos?”, questionou.

A ativista explicou que o racismo coloca a população negra em situação de vulnerabilidade e exclusão citando as estatísticas onde as mulheres negras são a maioria na mortalidade materna, violência doméstica e obstétrica. Quanto ao registro histórico de heroínas negras ela entende que “a tradição da contação de histórias e da oralidade fez perpetuar a memória viva da África”, disse.

A Pauta contou com a presença da Embaixadora da República de El Salvador, Sra. Diana Vanegas.

ProMul Senado (Reprodução autorizada mediante citação da ProMul Senado)