Mulher negra é vítima de opressões combinadas, afirma a pesquisadora Djamila Ribeiro

24/03/2017 14h10

A pesquisadora Djamila Ribeiro ressaltou na tarde desta quarta-feira (22), em palestra no Interlegis, o problema das opressões combinadas sobre as mulheres negras. Ex-secretaria-adjunta de Direitos Humanos e Cidadania da cidade de São Paulo na gestão de Fernando Haddad, ela falou sobre a importância de um olhar interseccional para políticas para as mulheres, um dos temas debatidos no Senado no Mês da Mulher.

— Quando dizem que “as mulheres recebem 30% menos que os homens”, estamos falando de mulheres brancas em relação a homens brancos. O homem negro recebe menos que a mulher branca, e a mulher negra recebe menos que todo mundo. Não dá para pensar nas opressões como categorias isoladas. Necessariamente, quando se fala de gênero, a gente precisa falar de raça e classe, senão a gente deixa de fora grandes grupos como o das mulheres negras — disse.

Para Djamila, a construção da feminilidade da mulher negra não é igual à da mulher branca. Segundo ela, por conta da violência pelas quais as negras passam, criou-se o mito de que são fortes e guerreiras, que enfrentam qualquer coisa.

— É necessário a gente entender que as mulheres negras precisam ser fortes porque o Estado é omisso. Essa denominação de colocar a mulher negra como inerentemente forte, além de encobrir a omissão e a ilegalidade do Estado, também é desumano no sentido de não reconhecer as fragilidades próprias da condição humana.

A ex-secretária-adjunta de Direitos Humanos de São Paulo comentou também as situações em que os oprimidos replicam opressões sobre outros grupos. Não é porque uma pessoa é discriminada que ela não reproduz a opressão, disse, e que a real transformação só vai acontecer quando todos olharem para todas as causas e não apenas para as próprias.

— Às vezes não conseguimos transformações fundamentais porque só queremos melhorar o que é bom para nós e não para os outros grupos. Não dá para ser feminista e gerar opressão contra a empregada negra. A gente precisa de bases para um novo marco civilizatório e não reproduzir essas opressões quando a gente atinge os direitos que a gente acha que tem — advertiu.

Racismo

Gustavo Ponce de Leon, chefe de gabinete da Primeira-Secretaria, abriu a palestra. Ele disse ter um perfil diferente do da palestrante, por não ser mulher nem negro, mas que sabe o quanto a luta pela igualdade é difícil.

— Nós somos criados e formados em uma cultura onde o machismo e o racismo estão presentes, e, quando a gente baixa a guarda, ele surte. Eu tento me vigiar para evitar essa doença, e o Senado tem se esforçado nesse sentido e tem aberto espaço para essa discussão — disse.

Ao responder as várias perguntas dos participantes, Djamila falou, entre outros assuntos, sobre políticas públicas e educação inclusiva que leve a uma maior igualdade nas escolas, não apenas para alunos, mas também para professores e diretores que não conseguem se encaixar em raças específicas.

A palestra fez parte da programação do Mês da Mulher, cujos eventos foram organizados pela Diretoria-Geral (Dger) em parceria com a Procuradoria Especial da Mulher do Senado, Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça, Observatório da Mulher contra a Violência e Comissão Mista de Combate à Violência contra a Mulher.

 

Fotos: Fernanda Stumpf/Comunicação Interna