Margaridas ocupam Esplanada dos Ministérios
Milhares de mulheres do campo, das florestas e das águas vindas de todo o Brasil marcharam na manhã desta quarta-feira, 12/8, no percurso entre o estádio Mané Garrincha e o Congresso Nacional na 5ª Marcha das Margaridas, promovida pela Confederação de Trabalhadores na Agricultura (Contag).
Cantando palavras de ordem em favor de direitos civis, portando coloridas bandeiras, faixas, sombrinhas e chapéus, as ruidosas e alegres margaridas compuseram a considerada hoje como maior mobilização de mulheres trabalhadoras rurais e que acontece desde o ano 2.000.
Elas foram recebidas no Plenário do Senado às 11h em sessão especial de homenagem solicitada pela senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) e pelo deputado Odorico Monteiro (PT-CE). Também compuseram a mesa as deputadas Dâmina Pereira (PMN-MG), secretária da Mulher da Câmara dos Deputados e Érika Kokay (PT-DF); Nadine Gasman, da ONU Mulheres e Carmen Foron, da Contag.
De acordo com a organização, cerca de 100 mil pessoas foram às ruas protestar contra as desigualdades sociais, todas as formas de violência, exploração e dominação; e apresentar as propostas para avançar na construção da democracia e da igualdade para as mulheres.
A Procuradora da Mulher do Senado, Senadora Vanessa Grazziotin, abriu a solenidade, “ser mulher em nossa cultura já implica no enfrentamento um significativo grau de discriminação. Imaginem se a essa condição somarmos o isolamento feminino no meio rural, onde – além de tudo! – ainda são mais graves a pobreza e a falta de informação”, afirmou.
“A Marcha representa a luta contra a fome, a pobreza e a violência sexista e em 2015 tem como lema “Margaridas seguem em Marcha por Desenvolvimento Sustentável com Democracia, Justiça, Autonomia, Igualdade e Liberdade”, afirmou Maria das Neves, representante da União Brasileira de Mulheres (UBM) na organização do movimento.
Vindas de longe
A Procuradoria da Mulher do Senado ouviu mulheres de vários estados, que viajaram por até três dias para marcharem em prol dos direitos das mulheres do campo. Dona Maria da Conceição veio de Igarapé Grande (MA). “Sou quebradora de coco na minha cidade e estou aqui para marchar por uma vida mais digna para as trabalhadoras rurais do Maranhão”, declarou a integrante do Sindicato dos trabalhadores e trabalhadoras rurais do Maranhão. A senhora de 66 anos andou do Mané Garrincha até o Congresso Nacional, depois de viajar por quase três dias de ônibus.
Raimundo Almeida do Sindicato dos Professores de Altamira do Maranhão estava com um grupo de homens, “é a quinta vez que venho à Brasília marchar pelos direitos das mulheres, faço isso porque acredito que o nosso apoio é muito importante”, afirmou. O grupo trouxe 30 ônibus da cidade.
Representantes da Federação dos trabalhadores rurais agricultores e agricultoras familiares do estado do Ceará (Fetraece) trouxeram sete ônibus da cidade. Francisca de Sousa, de Tianguá (CE), registrou depoimento sobre a importância da Marcha das Margaridas, “essa manifestação significa fortalecimento, significa pontuar nossas reivindicações, mas também comemorar tudo que já conquistamos nas cinco marchas realizadas”.
Apoio popular
Lúcia Rincón, presidente Nacional da UBM (União Brasileira de Mulheres), falou sobre a importância da Marcha das Margaridas, “a Marcha reverencia as mulheres em luta. Ao denominar-se Marcha das Margaridas ela lembra e homenageia Margarida Alves, uma sindicalista que foi assassinada pelo latifúndio. Ao lembrar Margarida Alves, nós queremos dizer que as mulheres estão em marcha no Brasil todo para garantir o processo democrático, para garantir que os direitos das mulheres sejam respeitados. E a União Brasileira de Mulheres está nessa luta por mais verbas para o meio rural, para que a gente de fato conquiste a reforma agrária e também para garantir que a democracia tão duramente conquistada seja respeitada”.
Liége Rocha, do Fórum de Mulheres de partidos, considera a 5ª edição da marcha um acontecimento político de mobilização importante para acelerar a pauta legislativa em favor da aprovação dos projetos de interesse das mulheres nas áreas de saúde, educação, desenvolvimento sustentável e autonomia financeira.
“A luta das margaridas é a luta de todas as mulheres, principalmente no momento em que o Congresso Nacional discute a igualdade na presença das mulheres nos três níveis dos parlamentos do Brasil, com a PEC nº 98/2015. O apelo é por mais participação das mulheres na política e também nas direções de órgãos estatais e todos os âmbitos governamentais e não governamentais em favor da discussão de gênero postas neste país”, afirmou.
Em 2015, as ações do movimento foram divididas em sete eixos: soberania e segurança alimentar e nutricional; terra, água e agroecologia; biodiversidade e democratização dos recursos naturais; autonomia econômica, trabalho e renda; educação não sexista, sexualidade e violência; saúde pública e direitos reprodutivos e reforma política, democracia, poder e participação.
Estavam presentes dezenas de personalidades e entidades, entre elas as senadoras Simone Tebet (PMDB-MS) e Fátima Bezerra; os senadores Jorge Viana (PT-AC) e Hélio José (PSD-DF), as deputadas Luciana Santos (PCdoB-PE); Jandira Feghali (PCdoB-RJ); Jô Moraes (PCdoB-MG) e Benedita da Silva (PT-RJ); Karina Vitral, presidente da União Nacional dos Estudantes; Walter Sorrentino, vice-presidente do PCdoB; Barbara Melo, presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES); Santa Alves, da União de Negros pela Liberdade (Unegro), entre outras.
A Marcha das Margaridas é coordenada pela Contag, por 27 Federações de Trabalhadores na Agricultura (Fetags), mais de quatro mil sindicatos de trabalhadores e trabalhadoras rurais e várias organizações de mulheres parceiras.
Ainda nesta tarde, no retorno ao estádio Mané Garrincha, onde estão alojadas, elas se encontraram com a presidente Dilma Rousseff e diversas autoridades do Poder Executivo.