Lançamento on-line do livro 'Mármores' tem debate sobre invisibilidade feminina

19/06/2020 07h00

Cem anos após a morte da poetisa Francisca Júlia da Silva (1871-1920), escritora considerada a maior expressão feminina do parnasianismo brasileiro, o Senado fez o lançamento on-line de sua obra Mármores, publicada pela Biblioteca da Casa na coleção Escritoras do Brasil, que reedita títulos de domínio público.

A dramaturga e poeta Cristiane Sobral participou da live promovida no Instagram oficial do Senado, nesta quinta-feira (17), com a diretora-geral do Senado, Ilana Trombka. Elas conversaram sobre as dificuldades enfrentadas por Francisca Júlia para ser publicada e a invisibilidade feminina não apenas nas artes, mas na sociedade, de maneira geral.

Cristiane tocou em pontos delicados, como o crescimento de quase 300% nos registros de violência doméstica durante o período de isolamento social. Outro assunto tratado foi a dificuldade que muitas mulheres poderão encarar para reocupar espaços já conquistados por elas no ambiente social e profissional.

— Existe aquela coisa clássica de todo mundo precisar ficar em silêncio na casa porque o homem vai trabalhar ou fazer algo que exige concentração. Imagina quantas vezes você viu isso acontecer em relação à mulher? O trabalho do homem é mais importante? E existe aquela coisa de o homem se fechar e se concentrar no teletrabalho enquanto a mulher muitas vezes precisa fazer isso e ainda desempenhar várias atividades domésticas — exemplificou.

Reparação histórica

No começo de sua carreira, no fim do século 19, Francisca Júlia precisou mascarar os versos que enviava para jornais do Rio de Janeiro com o uso de um pseudônimo masculino, pois poucas pessoas acreditavam que as bonitas palavras tivessem sido escritas por uma mulher.

Em 1906, mesmo após ter publicado três obras com boas críticas e ter sido proclamada membro efetivo do comitê central brasileiro da Societá Internazionale Elleno-Latina, de Roma, ela se mudou de São Paulo para Cabreúva, no interior do estado, para se dedicar a atividades domésticas junto à mãe e dar aulas particulares para crianças.

— Francisca Júlia da Silva era uma mulher à frente de seu tempo e que trabalhou incansavelmente para ter uma carreira de sucesso dentro de um cenário predominantemente masculino. Ela é uma das escritoras que, apesar da relevância e qualidade dos temas tratados, foram esquecidas pela sociedade conservadora da época em que viveram — ressaltou Illana.

Mármores foi o primeiro livro de Francisca Júlia da Silva, publicado em 1895 com elogios da crítica. Nele, está o poema "Musa impassível", nome dado à escultura do artista Brecheret em homenagem à autora, que compõe a capa da edição digital, disponível para downlod gratuito no site da Biblioteca do Senado.

Agência Senado

Fonte: Agência Senado

Lançamento on-line do livro 'Mármores' tem debate sobre invisibilidade feminina