Enap promove debate “Por que precisamos falar sobre mulheres negras”?

25/06/2018 16h40

RoseliCom objetivo de reconhecer as diversidades de gênero e de raça para o fortalecimento da democracia, a Escola Nacional de Administração Pública (Enap) promoveu hoje, 25/6, em Brasília, o debate “Democracia e Diversidades: Por que precisamos falar sobre mulheres negras? ”.

O evento foi mediado pelo professor negro Cilair Rodrigues de Abreu, coordenador-Geral de Gestão de Pessoas e Administração. As expositoras foram Roseli Faria, economista e analista de Planejamento na Subsecretaria de Planejamento e Orçamento do Ministério do Desenvolvimento Social, e Flávia Pinto, socióloga e mestranda em Sociologia pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ).

Roseli trouxe uma série de exemplos para demonstrar como o racismo estrutura todas relações sociais. “Dificilmente alguém nasceu em um parto feito por um médico ou médica negra. Na escola, em regra, a maioria das professoras eram brancas e as merendeiras e a equipe de limpeza eram de mulheres negras”.

Isso ocorre “porque o racismo é uma construção social”. Para ela, “é fundamental trazer pensadores e debatedoras negras para todos os debates sobre todos os assuntos”. Ela defendeu que “as instituições e os gestores têm a obrigação de praticar essa desconstrução e sair da ‘camisa de força’ do racismo”.

FláviaAncestralidade

Para Flávia Pinto, “o racismo não é um problema só de negros”. Ela fez questão de se identificar como mãe-de-santo e disse: “Preciso resgatar um espaço de conexão entre as raças para que, unidos por um ‘laço ancestral’, possamos lutar contra o legado de desigualdades deixado pela escravidão”.

Racismo institucional

“A finalidade maior do evento foi compartilhar e ouvir a voz das mulheres negras sobre as diferentes formas com que o racismo estrutural afeta de forma negativa nossa democracia”, disse Iara Cristina da Silva Alves, diretora de Formação Profissional e Especialização da Enap.

Segundo Iara, por se tratar de uma escola de formação, “o objetivo é sempre expandir a consciência do desafio colocado para agentes públicos”. Ela entende que “a compreensão da complexidade e da diversidade da população brasileira é fundamental para que o Estado assuma sua responsabilidade na luta contra a injustiça social de gênero e raça persistente em nosso país”.

Desconstrução do racismo

O professor Cilair Rodrigues destacou a importância de se abrir espaços de conversa para contribuir com o processo de desconstrução do racismo. “A polícia do Rio de Janeiro foi criada em 1835 para prender os escravos. Depois criaram uma lei para punir a vadiagem”, registrou. “Ou seja, os policiais continuam a desempenhar um papel de capataz”.

Ao fazer referência a Lei Áurea, Flávia Pinto disse que “quando foi assinada a liberdade mentirosa não foi dado acesso ao trabalho, moradia e nem educação”. Segundo ela, a lei “aboliu a escravatura, mas não ofereceu nenhum tipo de reparação a população negra, por isso precisamos das cotas”, finalizou.

Mulheres Negras

caféWendy


Wendy Andrade, servidora municipal de Águas Lindas de Goiás e especializanda em Gestão de Políticas Públicas na Enap, disse que “o encontro possibilitou a articulação e espaço para o Movimento de Mulheres Negras do DF e Entorno com uma autarquia do governo federal”.

Para ela, isso demonstra que “a escola está preocupada com gênero e raça não como uma pauta só do movimento, mas sim da sociedade brasileira.

A professora Neide Rafael, militante do Movimento Negro no DF, aproveitou a oportunidade para divulgar o Encontro Nacional de Mulheres Negras que acontecerá em dezembro na cidade de Goiânia e sugeriu que a Enap acolhesse o encontro distrital, que será realizado previamente.

Ramíla Moura - ProMul/Reprodução autorizada mediante citação da ProMul Fotos: Wendy Andrade