Em talk show, homens defendem combate à violência contra a mulher

28/03/2019 20h23

Três convidados — um psicólogo, um policial militar e um antropólogo — defenderam nesta quinta-feira, no talk show “Eles por Elas”, o enfrentamento mais efetivo contra a violência contra a mulher. O debate foi a última iniciativa do Março Mulheres, que este ano destacou o empoderamento feminino. Na apresentação, o diretor-executivo de Gestão, Marcio Tancredi, destacou o trabalho não apenas acadêmico dos três convidados, mas também a atuação diária deles em favor dos direitos das mulheres. O talk show foi mediado pelo jornalista da TV Senado Aluizio de Oliveira.

O psicólogo e professor Alfredo de Morais Neto, de Feira de Santana (BA), insistiu na necessidade de que a violência psicológica deve ser também uma preocupação, e não apenas a física.

— A violência física deixa marcas no corpo, a psicológica deixa marcas na alma. E nós não aprendemos isso na escola. A grande maioria das mulheres não entende a violência psicológica, porque ninguém educou nem os homens nem as mulheres sobre esse tipo de violência.

Segundo o psicólogo, não se ensina sequer o que é importunação sexual, muito menos ao morador do “interior do interior”, que geralmente não tem acesso à informação. Essa preocupação, insistiu, precisa ser de todos, inclusive na educação dos próprios filhos.

— Será que estamos educando aqueles que estão do nosso lado sobre enfrentamento da violência? — perguntou.

No trabalho realizado com agressores, inclusive policias militares (ele também é membro da Polícia Militar da Bahia), ele utiliza o psicodrama para, disse, “recodificar” o cérebro desses homens para que eles não voltem a praticar violência contra as mulheres.

— A gente entende que essa recodificação, em nível educacional, é mais profícua. A gente tem uma reincidência mínima desses homens agressores, com um sucesso de 80% no trabalho em Feira de Santana.

Segurança pública

O sargento da PM de Santa Catarina Elisandro Lotin de Souza apresentou dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostrando que 40% das mulheres que atuam na segurança pública – como policiais militares, bombeiros militares, policiais civis, agentes da Polícia Federal e trabalhadoras do sistema prisional – sofrem assédio moral e assédio sexual dentro dos seus locais de trabalho, como delegacias e quarteis.

— É preciso fazer algo em relação a esse absurdo. Segurança pública é um universo extremamente masculino, e as mulheres sofrem as consequências disso no seu dia a dia. É preciso também externar essa realidade das mulheres policiais que são vítimas da violência por serem mulheres.

Ele citou também as discussões entre as profissionais para que se garantam a elas coletes específicos, pois o corpo feminino é diferente do masculino, e banheiros e alojamentos mais bem preparados para elas, temas muitas vezes negligenciados, pois, disse o sargento, a segurança pública é “um universo masculino, dos homens para os homens”.

— Mas há mulheres que precisam ser respeitadas nos seus direitos mais básicos. A gente não tem como enfrentar e combater a violência contra a mulher lá fora se as nossas mulheres aqui dentro [dos quarteis e delegacias] são aviltadas nos seus direitos mais básicos todos os dias — disse Lotin.

Adolescentes

Para o antropólogo Sirley Vieira, de Pernambuco, é importante pensar no processo de socialização masculino e feminino, que estimula e valoriza a agressividade nos homens. No entanto, disse, esse modelo é prejudicial não somente às mulheres, mas também aos homens.

— Mas os homens não percebem esse prejuízo, porque esse modelo traz muitos privilégios também. Para abrir mão desses privilégios, é muito difícil.

Não é por outro motivo, disse, que 51% da população brasileira é feminina e 49%, masculina, apesar de nascerem mais meninos do que meninas. Segundo ele, os homens são a maioria quase absoluta dos acidentes de trânsito e dos assassinatos no país, resultado do tipo de socialização existente na vida dos homens.

Sirley Vieira relatou sua experiência, em Pernambuco, com adolescentes e jovens, todos do sexo masculino, para que eles reflitam sobre a violência na vida deles.

— Desde o tempo que estou no Instituto Papai, faz quatorze anos, trabalhei diretamente com quase 700 jovens e adolescentes. Hoje eu tenho contato com cerca de 100 deles por meio de redes sociais. Desses 100, apenas um, nessa trajetória, foi preso, e não por violência contra a mulher.

O antropólogo também ressaltou que, assim como muitos homens cometem violência contra as mulheres, um número maior deles não comete. Mas os agressores, disse, ficam em evidência.