Cultura machista facilita tráfico e exploração de mulheres, diz Vanessa

25/09/2017 09h50

Quinta-feira, dia 20 de setembro, a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB), procuradora Especial da Mulher do Senado, denunciou o peso da cultura do machismo no tráfico de mulheres e crianças, em discurso sobre o Dia Internacional contra a Exploração Sexual e Tráfico de Mulheres e Crianças, comemorado no dia 23 de setembro.

“Devemos buscar a raiz do tráfico de pessoas no caráter patriarcal da nossa sociedade, na qual os homens, ocupando a maioria dos principais postos governamentais e os lugares mais altos na hierarquia empresarial, chancelam um ideário que vê a mulher como um artigo a ser hipersexualizado e consumido – seja por pura omissão, seja pela propagação desses ideais por meio da publicidade, para ficarmos em um exemplo apenas”, disse Vanessa.

Instituída em 1999, na Conferência Mundial de Coligação contra o Tráfico de Mulheres, ocorrida em Bangladesh, a data internacional homenageia a criação da chamada Lei Palácios, uma pioneira lei estabelecida na Argentina, ainda em 1913, para punir promotores e facilitadores da prostituição e da corrupção de menores.

Balanço

A senadora destacou estimativas segundo as quais o tráfico de mulheres é o terceiro mais rentável após o tráfico de drogas e o tráfico de armas. Dados do Departamento de Estado norte-americano, entre 600 e 800 mil pessoas são vítimas anualmente do tráfico internacional de pessoas, das quais metade são crianças e 80% do sexo feminino.

O Brasil figura no segundo lugar, atrás apenas de Tailândia, no tráfico de crianças. “As fontes são conflitantes, mas tudo indica que algo entre 250 mil e 500 mil crianças brasileiras são exploradas por redes de prostituição. Há quem coloque esse número em absurdos 2 milhões de crianças, só no Brasil”, disse a senadora.

Vanessa destacou o surgimento, em 1990, do Estatuto da Criança e do Adolescente; a criação da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, no primeiro dia de mandato do governo do Presidente Lula, em 2003; a aprovação da Lei Maria da Penha e a instituição da Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, em 1996.

Mudança

Para a senadora, esses avanços “ainda são tímidos diante da enormidade do problema, cuja solução envolve a transformação de traços culturais que ainda estão firmemente arraigados na nossa sociedade”, argumentou, ressaltando importantes sinais de mudança.

“São raras as manifestações machistas, por mais disfarçadas que estejam, que passem despercebidas ou sem resposta nas redes sociais. Temos um verdadeiro esquadrão de meninos e meninas, homens e mulheres, cidadãos e cidadãs atentas a qualquer abuso, a qualquer violência, velada ou não”, disse.

Vanessa disse que se orgulha de fazer parte, na Procuradoria Especial da Mulher, “do batalhão de entidades, órgãos governamentais, fundações, organismos internacionais e empresas privadas que se dedicam, no todo ou em parte de suas atividades, a criar um mundo de igualdade e respeito entre os gêneros”.