Colóquio debate a culpabilização de vítimas de violência pela mídia

28/11/2019 15h34

 

1º Colóquio de Violência de Gênero e Mídia abordou também casos em que a vítima é acusada pela própria mídia. O evento acontece nesta quinta-feira (28/11), em uma parceria entre o Correio Braziliense e o Comitê Permanente da Equidade de Gênero e Raça do Senado Federal. Enquanto o primeiro painel tratou da reprodução de estereótipos de gênero, o segundo teve como tema Feminicídio e a culpabilização da vítima: problema da mídia?

 

A consultora internacional em direito das mulheres Roberta Gregório abriu a segunda rodada de palestras. Ela falou sobre como o discurso da mídia, em especial da publicidade, incentiva a violência contra a mulher ao objetifica-lá, seja glamourizando a agressão contra ela ou hiperssexualizando o corpo da mulher negra. “Tudo isso faz parte de uma mesma dinâmica de violência”, afirma.

 

Roberta destacou que, se por um lado a mulher é desumanizada, os homens costumam ser humanizados quando praticam alguma violência contra elas, sempre com alguma justificativa como “motivado por ciúmes” e, muitas vezes, culpabilizando a vítima. Ela ainda criticou o uso de justificativas em casos de violência contra mulheres. “Ninguém vê um assalto justificado por ganância, por exemplo.”

 

Em seguida, foi a vez de Luciana Gomes, representante do Instituto Patrícia Galvão assumir a palavra. Ela reforçou que os relatos das mulheres costumam ser questionados e as mulheres são responsabilizadas pelo que sofrem.

 

Coautora do Dossiê 'Feminicídio: #invisibilidademata', divulgado  pelo Instituto Patrícia Galvão, ela pontuou alguns aspectos na cobertura jornalística de casos de feminicídios. Segundo ela, a forma que é relatado o fato também tem impacto social. "A mulher que sobrevive é muito mais culpabilizada do que a morta. É preciso ter um compromisso perene no combate à violência doméstica, principalmente em como ele é retratado."

 

Entre os pontos levantados está o cuidado na apuração e como isso é repassado para o público, além de divulgar informações de ajuda e suporte para a população.  "O feminicídio não é a primeira violência, faz parte de um processo cíclico", declarou Luciana. “Citar o que é feminicídio e o contexto de onde ocorre pode salvar uma vida. Muitas vezes a mulher está passando por uma situação de agressão e não tem consciência disso.”

 

Feminicídio

A última palestra do evento foi dada por Cleide Lemos, especialista em políticas públicas e gestão governamental, assim como direitos humanos. Ela definiu o feminicídio como o “silenciamento final” e lembrou do processo que deu origem à lei 13.104/2015, que criou a qualificadora em crimes de homicídio.
Ela elogiou o protocolo da Polícia Civil que, em casos de mortes de mulher em circunstâncias de violência, a investigação é tratada como feminicídio, o que pode ser reclassificado mais tarde, se for o caso, e lembrou ainda da CPI do feminicídio, instituída na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF). Cleide criticou a primeira sessão, com o secretário de Segurança Pública Anderson Torres, ter sido realizada a portas fechadas.
Cleide lembrou que os coletivos feministas não estão parados, é que diversas ações nas cidades têm mostrado à população que a violência se faz presente diariamente. “Nós precisamos falar. Não podemos nos calar porque isso é compactuar com a morte e com a nossa inexistência.”

 

Fonte: https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2019/11/28/interna_cidadesdf,809917/coloquio-debate-a-culpabilizacao-de-vitimas-de-violencia-pela-midia.shtml

Colóquio debate a culpabilização de vítimas de violência pela mídia

foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press