Casa Rosa: um exemplo que vem de Jaú

03/08/2018 17h15

Em Jaú, município de São Paulo, a Casa Rosa realiza uma experiência bem-sucedida de atendimento público às mulheres, com prestação de serviços de saúde, psicossociais, jurídicos e de estímulo à autonomia econômica

casa rosaA Procuradoria Especial da mulher do Senado conheceu a experiência da Casa Rosa quando Jaú sediou, dia 29 de junho, a edição Oficina Interlegis Senado Mulheres nas Casas legislativas, por solicitação da senadora Marta Suplicy (MDB-SP).

Criada no fim de 2015, por iniciativa da vereadora Cléo Furquim (MDB-SP), então presidente da Câmara, a Casa Rosa Drª Maria Antonia Sinatura Barros, é um Centro de Referência e Atenção à Mulher (CRAM) que reúne profissionais e voluntários em torno da missão de ser um espaço integrado e humanizado de atendimento.

Equipe

Mônica Queiroz coordena a equipe fixa de seis profissionais – terapeutas ocupacionais, psicólogos e assistentes sociais – que trabalham de segunda a sexta. Outros profissionais prestam serviços em dias espaçados ou com periodicidade semanal ou quinzenal.

A Casa atente por demanda espontânea. As mulheres que a procuram passam por acolhimento inicial em que é feita triagem dos serviços necessários para encaminhamento ao psicólogo, à assistência médica ou à assistência jurídica.

Não é à toa que o leque e o fluxo de serviços lembram um pouco a experiência realizada nacionalmente nas Casas da Mulher Brasileira (CMB). “Para chegar ao formato atual, vereadora Cléo Furquim visitou muitos equipamentos voltados para o atendimento à mulher, entre eles a própria Casa da Mulher Brasileira”.

A Casa se distingue no atendimento multidisciplinar capaz de atender às variadas fragilidades de uma mulher em situação de violência. Cardiologistas e dermatologistas são acionados para lidar com efeitos como síndrome do pânico, queda de cabelo, psoríase, erupções epidérmicas, vitiligo, entre outros.

Autoestima

“São, todos, problemas que mexem com a autoestima da mulher”, segundo Mônica. Como outras cidades brasileiras, Jaú lida com realidades extremas de violência, materializada no feminicídio. “Há uma semana, um homem matou e escondeu o corpo de sua companheira. E há 15 dias uma travesti despareceu”, relata a coordenadora da Casa Rosa.

Graças a uma parceria com a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e com a Polícia Militar, a Casa Rosa tem acesso a um “BO social”, com o qual realiza busca ativa, com oferta de seus serviços a mulheres que passaram por algum tipo de incidente de risco, mas que não chegava a configurar um crime.

Para Mônica, o menu de serviços oferecidos às mulheres fez com que a Casa escapasse também do estigma de ser um lugar para onde apenas se dirigem mulheres que sofreram violências. Alguns destes serviços são inéditos no serviço público.

“A clínica de fertilidade, gratuita, já ajudou mais de 20 mulheres a engravidar”, segundo a coordenadora. A gravidez planejada, às vezes tardia, é uma realidade associada à participação no mercado de trabalho e à realização profissional feminina.

Direitos

Especializada em direito trabalhista, a advogada Mariana Ferrucci Bega teve seu primeiro contato com a Casa Rosa há um ano e meio, convidada a substituir um colega que falaria sobre os direitos das mulheres com câncer.

De lá para cá, acabou se engajando na Casa, onde se soma às colegas Mallu Fassina, Valéria Barbosa e Micheli Totina no atendimento direto a mulheres e em atividades voltadas para modificar as raízes culturais da violência.

Mariana menciona projetos como HeforShe, da ONU Mulheres, Tempo de Despertar, do Ministério Público, e E Agora, José, do Fórum de Santo André, que ajudam a conversar sobre padrões de gênero às vezes invisíveis ou pouco conscientes, que criam situações de desconforto para as mulheres, inclusive no mercado de trabalho.

As mulheres da Casa Rosa se transformaram numa referência para a discussão das relações de gênero, sendo convidadas a fazer muitas palestras.  A advogada Mariana participou de atividades no Tiro-de-Guerra e a coordenadora Mônica lembra do retorno muito positivo dado pelo setor de recursos humanos da empresa de balas Toffano.

inSintonia

O sucesso da Casa Rosa multiplica o surgimento de novos voluntários e parceiros. Um grupo trabalha a mídia social e administra suas páginas no Facebook e no Instagram. Outro grupo reúne mais de 20 profissionais em torno do problema do suicídio, outro extremo a que chegam muitas vítimas de violência doméstica, e intrafamiliar como abuso na infância.

Além de acionar os serviços da rede do Executivo municipal, no atendimento a cada caso, Mônica destaca quatro grandes parceiras da Casa Rosa: a Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), o Ministério Público, a Defensoria Pública e a Câmara Municipal. Segundo ela, a Prefeitura arca com o aluguel, água, luz e o pessoal. O mobiliário e os equipamentos da Casa foram conseguidos por uma cotização feita entre as empresas de Jaú.

Para a coordenadora Monica, o diferencial do atendimento da Casa é o foco comum, a sintonia. “Nossa meta é levar informações e empoderar a mulher para a superação da vulnerabilidade e o importante é que conseguimos mostrar que é possível fazer isso no serviço público”, finaliza.

A Procuradoria Especial da Mulher é a mais nova entusiasta deste projeto, que é exemplo para que todos os municípios brasileiros possam compreender a importância da corresponsabilidade entre os poderes.

Legislativo, Executivo e Judiciário, ao lado de entidades da sociedade civil e da rede de cidadãs e cidadãos voluntários têm muito a contribuir em favor da mudança da cultura da violência.

Parabéns à vereadora Cléo Furquim e a toda equipe da Casa Rosa.

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