Canto negro marca abertura da 2ª Conferência de Saúde

18/08/2017 11h30

conferência 1Na abertura da 2ª Conferência Nacional de Saúde das Mulheres, uma indígena e uma quilombola brilharam entre representantes nacionais e internacionais, da sociedade civil e do Estado, e um público de quase 2.000 pessoas.

Primeiro, foi Angela Kaxeiana, que mencionou os quase trinta nomes de povos presentes à Conferência. Número pequeno perto dos 330 povos resistentes no país, mas imenso diante da sociodiversidade humana invisível aos olhos do racismo.

“Nós, povos indígenas, não falamos em nome do ‘nosso povo’, mas de todos os povos deste país”, disse Ângela. Ela destacou a derrota do julgamento do marco temporal, dispositivo que limitaria a demarcação de terras indígenas, e saudou a parente quilombola presente à mesa.

Discriminação

“Não fui discriminada de todos os tipos e modos que vocês podem pensar”, disse a quilombola Maria Lúcia das Dores Ferreira, referindo toda sorte de sofrimento racial na escola e com um marido ruim.

“Vocês vão me perdoar, mas eu tenho direito de falar com o coração”, disse. Ela chegou a Brasília sem ter o que comer durante a viagem e desde terça praticamente não dormia, no Jardim Cascata, quilombo urbano de Aparecida de Goiânia, preocupada em mobilizar as pessoas e viabilizar à Conferência, onde é representante dos usuários.

Maria interpelou diversas vezes o ministro Ricardo de Barros, que já se retirara. “Ele precisava ouvir eu e ela”, disse, referindo-se à parente indígena. “Eu não estudei, mas eu consegui benefícios para o meu povo”, lamentando que pessoas que estudaram usem seu saber para tirar os diretos dos outros.

conferência 4Canto

Entre as demandas básicas na área de saúde, ela mencionou a necessidade de condução nos quilombos.  Ao encerrar sua fala, entoou Canto das Três Raças, canção imortalizada na voz de Clara Nunes, num coro a duas mil vozes que arrepiou até a grama e o asfalto do Eixo Monumental, onde se situa o Centro de Convenções.

“Este recinto foi energizado e limpo por vocês”, disse Emília Fernandes, primeira Secretária de Mulheres e presidente do Fórum de Mulheres do Mercosul, que também saudou a força da luta organizada das mulheres para defender e garantir parâmetros democráticos para elaboração de políticas públicas na área de saúde.

Ronald Ferreira dos Santos, presidente do Conselho Nacional de Saúde, disse: “Este espaço é para todo o Brasil aprender com as mulheres. Não é à toa, não é de graça, que democracia é substantivo feminino”. Fernanda Rêgo, da Secretaria executiva do Conselho, homenageou as organizadoras da 1ª Conferência Nacional da Mulher, entre outras pioneiras da luta pela saúde pública da mulher.

conferência 2Homenagens

“A ingratidão é uma forma de injustiça”, disse Francisca, “devemos ser gratas e gratos a todas as pessoas que lutaram pela estruturação do sistema Único de Saúde”. As pioneiras da luta ocuparam uma mesa lateral e foram aplaudidas vigorosamente.

Coube a Carmen Lúcia Luiz fazer um histórico do resgate da participação feminina da luta das mulheres por uma concepção ampla da demanda feminina em saúde, que salta da concentração do aspecto materno-infantil até a reivindicação de uma demanda que envolve integralidade e também equidade.

“Sem conseguir essa diversidade, não alcançaremos a tão propalada equidade”, disse Rita.

Mestre de cerimônias, a jornalista Maria Paula de Andrade leu a nota da senadora Vanessa Grazziotin, Procuradora da Mulher do Senado, que encerrou a solenidade.

Fotos: Lunde Braghini/Procuradoria Especial da Mulher do Senado e Laura Fernandes/CNS

ProMul (Reprodução autorizada mediante citação da Procuradoria Especial da Mulher do Senado)