Ativistas e especialistas participam do Diálogos Mulheres Negras

21/06/2018 16h35

folder“Qual é a cor do sujeito se ele é sempre o suspeito? Não ao extermínio do povo preto! Qual é a cor do sujeito se ele é sempre o suspeito? Não ao extermínio do povo preto!”.

Com essas palavras cantadas em forma de protesto, Júlia Nara, rapper periférica – como se autointitula – encerrou o Diálogos Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50: contra o Racismo e a Violência e pelo Bem Viver. A atividade organizada pela ONU Mulheres Brasil em parceria com a Embaixada do Reino dos Países Baixos aconteceu nessa quarta-feira, 20 de junho, no Auditório da Finatec, na Universidade de Brasília.

Já na abertura do evento a mestre de cerimônias, Kênia Maria, atriz, escritora, roteirista e Defensora dos Direitos das Mulheres Negras da ONU, desejou que o debate fosse “proveitoso e iluminador sobre as estratégias do Movimento de Mulheres Negras para enfrentar o racismo, o sexismo e outras formas de opressão”.

O objetivo do evento segundo Kênia foi “ampliar e facilitar os debates político, técnico, público e acadêmico entre mulheres negras e agentes-chave e conferir visibilidade aos 30 anos do Movimento de Mulheres Negras Brasileiras”, destacou.

Saudação

Nadine Gasman, representante da Onu Mulheres Brasil, explicou que a atividade realizada na UnB encerrou três dias de trabalho do Comitê Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 em 2030 em conjunto com a ONU Mulheres; o Grupo Temático de Gênero da Onu Brasil; o Escritório do Coordenador Residente da Onu no Brasil; a Secretaria de Políticas para Mulheres (SPM); a Secretaria de Políticas pela Igualdade Racial (SEPPIR); o IBGE e o IPEA.

Ingrid Ohana Moura, representante de coletivos de Mulheres Negras da UnB, reivindicou cotas raciais na pós-graduação. “A única coisa que separa as mulheres negras de qualquer outra pessoa é oportunidade”, disse a estudante ao parafrasear a atriz negra norte americana Viola Davis durante seu discurso no Emmy em 2015.

Creuza Oliveira, da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad) e integrante do Grupo Assessor da Sociedade Civil Brasil (GASC) Brasil da ONU Mulheres, disse que “as oportunidades não são iguais para as mulheres negras de todo mundo”.

“Eu sou a primeira reitora mulher da UnB em 56 anos da universidade. Tenho uma obrigação de deixar um legado!, afirmou Márcia Abrahão Moura, reitora da Universidade de Brasília.

Roderick Wols, ministro Conselheiro da Embaixada do Reino dos Países Baixos, finalizou as falas de abertura. “Estamos juntos no combate ao racismo e ao sexismo”, disse.

BeneditaPainéis

“Mulheres Negras: 30 anos de direitos e ação política contra o racismo e o machismo no Brasil e influência na América Latina” foi o tema do primeiro painel da programação. Nele participaram Givânia Silva, membra do Comitê Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 em 2030 e doutoranda em Sociologia na UnB; Benedita da Silva, deputada federal e constituinte (1988) e Rosario de los Santos, coordenadora do Cone Sul da Rede de Mulheres Negras Afro-latinoamericanas, Afro-caribenhas e da Diáspora, com mediação da professora drª. Lourdes Teodoro, do Instituto de Artes da Universidade de Brasília.

“Não temos mais aquelas correntes e não vamos mais aceitar narrativas escravagistas! ”, protestou Benedita da Silva, deputada federal. “Chega de Marielles mortas! Queremos Marielles vivas”, bradou Benedita, primeira mulher negra a chegar ao Senado Federal, em referência a vereadora carioca assassinada no Rio de Janeiro em março.

 

participantesAgendas internacionais

“Três agendas de trabalho das Nações Unidas são oportunas para as dimensões de gênero e raça na centralidade da resposta brasileira para o desenvolvimento sustentável”, disse Kênia, ao convidar as debatedoras do segundo painel, sobre “Mulheres Negras na agenda internacional: oportunidades e desafios para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e a Década Internacional de Afrodescendentes no Brasil”.

“A Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável; a iniciativa global “Por um Planeta 5050 em 2030: Um passo decisivo pela Igualdade de Gênero” e a Década Internacional de Afrodescendentes formam esse conjunto de estratégias focadas pela articulação da liderança de mulheres negras, explicou.

“A noite não adormece nos olhos das mulheres, a lua, fêmea semelhante nossa, em vigília atenta vigia a nossa memória”, leu Maria Inês Barbosa, professora doutora da Universidade Federal do Mato Grosso, primeira a falar no segundo painel. Trata-se de um trecho de uma poesia de Conceição Evaristo, em memória de Beatriz Nascimento, ativista do Movimento Negro. Maria Inês fez um panorama da incidência política das mulheres negras nas agendas internacionais como a I Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e as Formas Conexas de Intolerância (Durban, 2001) e a Conferência Regional das Américas (Brasília, 2006).

Também participaram do painel mediado por Deise Benedito, mestranda em Direitos Humanos na Faculdade de Direito da Universidade de Brasília e perita do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura do Ministério da Justiça: Nadine Gasman e Ana Lúcia Pereira, membra do Comitê Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 em 2030 e profª. drª da Universidade Federal do Tocantins.

Juventude

O terceiro e último painel do evento teve como tema: “Mulheres Negras Movem o Brasil: Encontro Nacional de Mulheres Negras 30 Anos - contra o Racismo e a Violência e pelo Bem”. As painelistas conversaram sobre as articulações para o encontro de mulheres negras que acontecerá em dezembro desse ano em Goiânia-GO.

A moderação do painel foi feita por Marilene Cardoso Dias, coordenadora-geral do Sindicato de Trabalhadoras e Trabalhadores da Universidade de Brasília e teve a participação das membras do Comitê Mulheres Negras rumo a um Planeta 50-50 em 2030: Ivana Leal, membra pelo Movimento Negro Unificado (MNU), Clátia Vieira, Fórum Nacional de Mulheres Negras, e Thânisia Cruz, da Articulação Nacional de Negras Jovens Feministas (ANJF).

Thânisia Cruz falou dos encontros regionais que vem sendo organizados no Distrito Federal e Entorno e da importância da união de esforços das jovens negras com as mulheres ativistas pioneiras do movimento negro. “Nossos passos vêm de longe”, defendeu.

Descrição das fotos:

Foto 1 - Banner de divulgação do evento

Foto 2 - Mesa do painel Mulheres Negras: 30 anos de direitos e ação política contra o racismo e o machismo no Brasil e influência na América Latina

Foto 3 - Flora Egécia, cineasta negra brasiliense, Kênia Maria, atriz e defensora das Mulheres Negras e Ramíla Moura, jornalista e assessora de comunicação da ProMul.

Ramíla Moura - ProMul/Reprodução autorizada mediante citação da ProMul