Pesquisas eleitorais são confiáveis?

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Em tempos de eleição, pesquisas eleitorais são amplamente noticiadas pela mídia tradicional e debatidas nas redes sociais, aumentando o interesse das pessoas em expressões como margem de erro e amostra.  Esses e outros termos deixam muitas dúvidas em quem não está acostumado a conceitos estatísticos, que são fundamentais para entender os resultados de qualquer pesquisa de opinião, seja ela eleitoral ou de outro tipo. Nesse texto, o DataSenado apresenta algumas dessas expressões para ajudar o leitor a analisar os resultados das pesquisas divulgadas e se manter informado.

 

Transparência em primeiro lugar

O primeiro passo para identificar pesquisas idôneas é verificar o grau de transparência da metodologia. A pesquisa deve divulgar informações básicas, tais como: o número de pessoas entrevistadas, o perfil delas e como elas foram selecionadas; período e forma da coleta; e como as estimativas foram calculadas para alcançar o resultado final. Ou seja, deve conter no mínimo informações sobre a amostra, a coleta, a forma de ponderação e a margem de erro.

 

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Por que a definição da amostra é tão importante?

O principal motivo para se utilizar amostras em pesquisas eleitorais é tornar viável sua realização. Entrevistar todos os eleitores seria muito caro e demorado. Por outro lado, para garantir a confiabilidade dos dados, é necessário que no grupo de entrevistados haja representantes dos vários perfis da população como um todo. Por isso, fatores como idade, escolaridade, gênero, cor e raça, entre outros, devem ser levados em consideração.

Pesquisas eleitorais são uma tentativa de captar a intenção de voto do cidadão, em um momento específico, por meio de um número limitado de entrevistas. É, portanto, um esforço de medir o todo a partir de uma parte.

Uma analogia comum em pesquisa é que, da mesma forma que se prova uma única colher de sopa para se sentir o sabor de um caldeirão completo, basta uma parcela da população-alvo para se conhecer a opinião da população como um todo. Mas não é qualquer parte. Para determinar o perfil dos entrevistados, é fundamental que se faça um bom delineamento amostral, que nada mais é do que o planejamento detalhado do processo de seleção dos entrevistados.

 

Quais os tipos de amostra?

Além da variabilidade de respondentes, o fator aleatoriedade é imprescindível. Mas não deve ser um mero sorteio dentre os eleitores do país, já que a amostra deve contemplar pessoas ricas e pobres, homens e mulheres, jovens e idosos, entre outros.

No Brasil, empresas de pesquisa costumam utilizar sobretudo o sistema de quotas. Essas empresas selecionam respondentes até atingir o número necessário para a quota pré-estabelecida. Por exemplo, numa amostra de 100 respondentes, 52 pessoas devem ser mulheres, considerando que 52% da população brasileira é feminina.

Uma vez atingida a quota, para-se de entrevistar pessoas daquele perfil. Com isso, o fator aleatoriedade é comprometido.

“a amostra por quotas não permite ao pesquisador calcular qual a probabilidade de as pessoas serem selecionadas. Parece sutil, mas isso impacta nos cálculos de forma relevante. A forma mais segura, do ponto de vista técnico, de fazer amostragem é por meio de seleções totalmente aleatórias, método que garante a possibilidade de fazer estimativas com erros corretamente estimáveis. ”

Marcos Ruben Oliveira, coordenador e estatístico responsável pelo DataSenado


Modo de coleta

Outro fator que impacta nos resultados da pesquisa é o meio de coleta. Pesquisas face a face, telefônicas ou on-line têm sido as mais comuns e cada uma tem suas vantagens e desvantagens.

Pesquisa face a face é aquela em que o entrevistador encontra fisicamente o entrevistado. Tem como vantagem evitar qualquer ruído na comunicação e, de forma geral, aumenta o grau de compreensão do respondente em relação ao questionário. Uma desvantagem desse modo de coleta quando associado à amostragem por quotas é o possível viés de seleção que o entrevistador pode criar involuntariamente ao, por exemplo, selecionar pessoas que parecem mais dispostas a conversar do que outras que parecem apressadas ou pouco disponíveis. Outro possível viés de seleção é que, como o encontro é presencial, pessoas moradoras de condomínios fechados ou em áreas consideradas perigosas não são acessadas, o que exclui alguns perfis da amostra.

Já a pesquisa telefônica não tem essa desvantagem. O entrevistador não consegue antecipar quem vai atender o telefone, nem é impedido de conversar com pessoas que moram em locais de difícil acesso. Mas como o respondente só pode contar com a voz do entrevistador para compreender o questionário, a desvantagem desse tipo de coleta são os possíveis mal-entendidos, além da necessidade de ser mais breve do que em pesquisas presenciais, o que limita a possibilidade de aprofundar os temas pesquisados. Outra desvantagem está na crescente taxa de não resposta, problema que pode ser amenizado com o tratamento adequado dos dados, como por exemplo é feito nas pesquisas DataSenado (ver www.senado.leg.br/datasenado para mais detalhes).

A pesquisa on-line, por fim, tem como desvantagem não alcançar todas as pessoas desejadas, já que, segundo a PNAD Contínua Anual de 2021, cerca de 15% da população brasileira com 10 anos ou mais não usa a internet. Mas a maior vantagem desse tipo de método de coleta é que o respondente se sente totalmente livre para responder como quiser, sem tentar acertar a resposta que ele supõe a socialmente desejada, ou que o entrevistador gostaria de ouvir.

“Não existe método de coleta perfeito, mas conhecendo as limitações de cada uma delas, o usuário da pesquisa tem uma leitura mais clara dos dados informados, dentro do contexto retratado. ”

Elga Mara Lopes Teixeira, Diretora Secretaria de Transparência


O que é ponderação estatística?

Findo o trabalho de campo, as observações coletadas recebem pesos para que seja possível expandir os resultados obtidos para a população. Esse processo é chamado de ponderação.

Nessa etapa os dados são ponderados levando em conta fatores como a probabilidade de seleção, a taxa de resposta, a distribuição demográfica da população em estudo, entre outros, a depender da metodologia. Com isso, cada indivíduo recebe um peso, que leva em conta o seu perfil, permitindo assim que os resultados sejam válidos para a população total.

 

Margem de erro

Por fim, um último conceito importante para a compreensão de pesquisas eleitorais é a margem de erro, que está diretamente atrelada ao nível de confiança de uma determinada pesquisa, mas que tem significados distintos.

A margem de erro representa o erro esperado considerando o nível de confiança determinado. Então por exemplo, se numa dada pesquisa, diz-se que 24% dos eleitores pretendem votar em um candidato A, com uma margem de erro de 3% e nível de confiança de 95%, pode-se inferir com 95% de chance de acertar que a real votação que o candidato A obteria, caso a eleição ocorresse na mesma data da pesquisa, seria algo entre 21 e 27% de votos dos eleitores (24±3%). Em outras palavras, se fossem feitas 100 amostras seguindo exatamente o mesmo método, mas com pessoas diferentes escolhidas aleatoriamente, e para cada uma dessas amostras se calculasse a margem de erro, espera-se que 95 dessas amostras acertem o resultado dentro da margem e 5 errem o resultado.

 

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