Agência Senado lança ferramenta de pesquisa nas Cartas da Constituinte

18/10/2024 16h07

Entre 1986 e 1987, o Senado, em parceria com os Correios e as Organizações Globo, criou uma campanha para que brasileiros de todo o país expressassem o que eles desejavam para nova Constituição Federal. Foram 72 mil cartas recebidas, digitalizadas e catalogadas à época pelo Prodasen. Agora, elas estão disponíveis para pesquisa em uma reportagem especial da Agência Senado: A Constituição dos Sonhos.

O projeto levou quase dois anos e envolveu profissionais de diversos setores do Senado, todos movidos pelo desejo de que as cartas pudessem ser fonte para pesquisadores.

Tudo começou em 2018, quando Florian Madruga, do Núcleo de Apoio ao Comitê Gestor do Site do Senado Federal (NACGSF), conheceu as cartas através do livro A Constituição Desejada. Logo começou a desenvolver um projeto com aquele material precioso.

— Surgiu a ideia de produzir uma reportagem inspirada no jornalismo de dados. A proposta era que a reportagem disponibilizasse um conjunto de funcionalidades e ferramentas para que os leitores consultassem as cartas ou baixassem a base de dados completa — conta.

Em janeiro de 2023, Florian procurou a Agência Senado, que se entusiasmou com o projeto. Ao longo de quase dois anos, trabalharam juntos para formatar os dados e disponibilizar a pesquisa. É o que conta Silvio Burle, coordenador-geral da Agência Senado.

— A gente já sabia da existência desse banco digitalizado. Já tínhamos feito matéria em 2013, quando produzimos uma edição especial do Jornal do Senado para comemorar os 25 anos da Constituição de 1988. Então, quando o Florian nos apresentou o projeto, vimos de imediato a possibilidade de revisitar essa história fantástica de participação popular na Constituinte.

Desta vez, a reportagem não se concentraria nas pessoas que escreveram as cartas, mas na riqueza de informações que poderiam ser exploradas através da ferramenta de busca.

— Eu percebi que isso casava com a avaliação feita pelo Stéphane Monclaire, autor de A Constituição Desejada. Ele ressaltava justamente a riqueza desse acervo por permitir vários tipos de abordagem, dependendo do objetivo do pesquisador — lembra.

Desafios técnicos

Além de Silvio, outros profissionais dos serviços de arte, publicações especiais e edição da Agência Senado se envolveram no projeto. Eles foram responsáveis pela produção dos textos, infográficos, vídeo e pela edição de todo o material.

O projeto também contou com o uso de inteligência artificial (IA) para agrupar as cartas por temas. O trabalho foi desenvolvido por João Lima, chefe do Serviço de Soluções para Informação Legislativa e Jurídica (Seleju).

— O estudo utilizou inteligência artificial para analisar cartas em quatro passos principais: primeiro, transformou os textos em vetores, depois, reduziu a dimensionalidade para facilitar a visualização. Em seguida, agrupou cartas com conteúdos similares e rotulou os grupos com base nos temas predominantes — explica.

O webdesigner da Coordenação de Tecnologia da Informação (CoTI), Luiz Henrique Gonzaga Machado, foi um dos responsáveis pela visualização gráfica dos dados.

— A gente se preocupou em como mostrar esses dados. Eram vários temas que, através da IA, foram agrupados, identificados e rotulados. A gente trouxe para a matéria alguns temas que achamos interessantes, como “detetive particular”, somando a excelência de conteúdo com o entendimento dos dados.

Servidores do Senado se reencontram com suas cartas

Ricardo Albuquerque, hoje subchefe de gabinete do senador Jayme Campos (União-MT), tinha apenas 15 anos quando, assim como outros jovens, mandou sua carta para o Senado.

— Nas escolas e nos movimentos estudantis em que participávamos, encontramos um ambiente ideal que nos imbuía desse sentimento de colaborar com a feitura da Carta Maior. O sentimento era de responsabilidade e compromisso sob a maior de todas as conquistas: a liberdade — conta.

Já Telma América Venturelli, pedagoga e servidora da Coordenação de Educação Superior (Coesup) do ILB, não conseguiu segurar a emoção ao reler a carta que escreveu há 38 anos. À época, ela reivindicava o direito dos servidores públicos de terem associações representativas e sindicatos por classe funcional.

— Eu tinha 21 anos. Era servidora concursada do GDF quando passei na UnB naquele ano e precisei desistir de trabalhar porque era impossível conciliar os dois. Se tivesse um sindicato, eu teria podido recorrer e conseguir uma jornada de trabalho adaptada. Fico feliz que a minha reivindicação foi atendida — lembra.

Faça a sua pesquisa

E você, já fez a sua pesquisa no banco de dados? Você pode procurar sobrenomes conhecidos ou até mesmo a cidade de onde você veio. Compartilhe suas descobertas aqui nos comentários e troque histórias com seus colegas.

Créditos:

Produzido pela equipe da Comunicação Interna do Senado

Visitas ao Arquivo

O público pode ver de perto os documentos originais que ficam sob a guarda do Arquivo do Senado. Para fazer um agendamento, basta enviar um e-mail para arquivo@senado.leg.br. É possível solicitar pesquisas pelo mesmo endereço.