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A edificação sustentável

Em 2010, o projeto arquitetônico da estufa do Viveiro inovou ao incorporar materiais e técnicas sustentáveis.



O termo "viveiro" tem origem no latim "vivarium", que se refere a espaço destinado ao cultivo de plantas para reprodução, preservação ou replantio. E foi exatamente com esses objetivos que o Viveiro do Senado foi concebido inicialmente: para atender às demandas funcionais da Casa na manutenção de suas áreas verdes.

No entanto, desde sua constituição, já era evidente que aquela seria uma área singular, não somente pelo cultivo sistemático de plantas por uma instituição cuja tarefa primordial é a de legislar. Em contraste com as demais instalações do Senado, erguidas entre 1957 e 2012, o Viveiro tem como ponto irradiação um edifício erguido no ano de 2010 por meio do uso de técnicas e materiais menos típicos que o concreto armado, por exemplo, sendo inovador em sua forma e concepção.

As características adotadas no projeto conceberam uma arquitetura que levou em consideração conceitos como bioclimatismo, gestão das águas, geração de energia solar, reutilização de materiais e arquitetura com terra — o que fica patente na plástica da construção.

O bioclimatismo busca associar a obra arquitetônica, no tipo e na forma, ao seu microclima, aproveitando recursos naturais como o vento e os diversos graus de insolação com o fim de obter a intensidade térmica almejada para o seu interior. Disso decorre tanto o conforto diuturno dos ocupantes quanto eficiência energética, em razão da economia de eletricidade. Dispensa-se, a propósito, o uso de aparelhos de ar condicionado. O bioclimatismo, portanto, efetiva um dos ingredientes básicos da sustentabilidade.

A implantação do projeto deu forma a um viveiro construído em sua maior parte com tijolos fabricados de terra do próprio local (solo-cimento) e paredes pintadas com tintas livres de metais pesados. A madeira utilizada para pilares de sustentação e vigas veio de reflorestamento. Tubos de ferro de demolição e carretéis em papelão colhidos na Gráfica do Senado são parte da sustentação do telhado, que se serviu de placas duplas de metal preenchidas no sistema sanduíche com material isolante. Os vidros temperados foram resultado do processo de reaproveitamento de materiais anteriormente presentes em outras estruturas da Casa.

A composteira original do Viveiro também beneficiou-se de técnica menos agressiva ao meio ambiente: paredes em superadobe, ou seja, erguidas por empilhamento de terra do mesmo terreno, ensacada e compactada para funcionar como tijolos.

O sistema sustentável aplicado adotou em sua concepção primeva a geração de energia com células fotovoltaicas, aquecimento solar da água, aproveitamento da água da chuva e irrigação com vaporizadores. Inauguramos, assim, o conceito de construção sustentável na Esplanada dos Ministérios e fomos a primeira instituição na chamada área cívica de Brasília a adotar energia solar e demonstrar a viabilidade de uma edificação que dialoga com os preceitos necessários à contemporaneidade, no sentido arquitetônico que um projeto deve apresentar.

Porém, a estrutura física não faria tanto sentido sem o entorno, e a função que ali se instalava. As mudas produzidas nas estufas contíguas ao edifício passaram a ser doadas a outras instituições visando a recuperação de terrenos degradados. Os plantios compuseram uma forma de diminuir a pegada de carbono do Senado, observadas as emissões de CO2 pela Casa nos anos de 2013 e 2014.

Com o passar do tempo, a paisagem passou por transformações significativas. Como afirmou o geógrafo Milton Santos, "o mundo é formado não apenas pelo que já existe, mas pelo que efetivamente pode existir". E foi exatamente isso que ocorreu no viveiro. As espécies vegetais, tanto plantadas quanto trazidas por morcegos e aves, contribuíram para que a área de 10 mil metros quadrados se transformasse em uma verdadeira floresta, ou melhor, em uma agrofloresta.

O cultivo mínimo de bananeiras, urucum, mamão, carambola, cajá-manga, pitanga, mangueira, romã, seriguela, melão, abóbora, fruta-pão e outras espécies convive com o plantio ou o surgimento de espécies silvestres. A principal força desse arranjo é a diversidade biológica, que dificulta a ocorrência de pragas e doenças, graças a ocorrência de muitas espécies florestais entre as espécies domesticadas.

De forma singular, o viveiro cria uma atmosfera de contraste para o visitante desavisado, um convite que desperta curiosidade pelo ambiente natural e interesse pela arquitetura construída. É um espaço de produção de mudas de espécies ornamentais a partir da compostagem de resíduos orgânicos recolhidos no Senado reciclados sob ambiente de agrofloresta urbana. Desse modo, a área possibilita aos visitantes a contemplação da natureza e o despertar de consciência ecológica ampliada.

Em face da necessidade de manutenção, a sede do Viveiro sofreu pequenas alterações em 2024, especialmente ao se transformar em centro de educação ambiental para acolhimento de visitantes e escolas agendadas dentro do modelo Sala Verde. A integração do Programa de Gerenciamento de Resíduos do Senado à biodiversidade existente credenciou o espaço ao selo do projeto Salas Verdes, do Ministério do Meio Ambiente. As coleções botânicas catalogadas enriquecem a experiência da visita.

O que destacamos, contudo, em razão do conjunto da obra idealizada e do projeto concluído, é o aspecto inovador à época de sua construção e a possibilidade de entender que a perspectiva do tempo tem significado para o ambiente, assim como nossas ações, em razão da proteção que oferecemos para criação, recomposição e manutenção de áreas verdes. A escolha de instalações sustentáveis foi uma opção que gerou menor impacto ambiental e garantiu que uma quantidade menor de resíduos fosse descartada. Essa atitude contribuiu para que pudéssemos refletir não somente o presente, mas também um futuro saudável.

Projeto Original: Secretaria de Infraestrutura do Senado Federal – SINFRA.