Larissa Bortoni
Ana Rosa é de Irecê (BA). Mora, porém, em uma das cidades da periferia de Brasília. Vive sozinha. Ana Rosa tem 49 anos. Teve três filhos, que pouco a visitam, especialmente uma filha. Ana Rosa conta que ela não dá as caras por não ter paciência para lidar com gente doida. Ana Rosa se refere a si como “gente doida”. Reclama que os vizinhos a maltratam.

Quando aparece na calçada, gritam: “Lá vem a doida”.

 

Mas não é apenas a vizinhança que tira o sossego da baiana. O incômodo maior é a voz. Apesar de incontáveis vezes terem lhe assegurado que a voz não é real, mas sintoma da doença, Ana Rosa ainda duvida. A voz quer machucar Ana Rosa.

Quer matar Ana Rosa. Seguindo as ordens dos murmúrios, a mulher atentou contra a própria existência diversas vezes.

 

Leonardo é um rapaz de 24 anos. Nasceu em Ceilândia, outra cidade da periferia de Brasília. Tenta se formar em gestão empresarial, mas se queixa de não dar conta de concentrar-se nos estudos. Credita aos efeitos dos remédios, vários ao longo do dia.

 

A esperança é que as drogas desarmem a tristeza que tomou conta dele. Não consegue explicar de onde vem tanta melancolia. Então, Leonardo se convence de que só a morte pode dar jeito. Uma vez tentou jogar-se de um viaduto. Salvo pelos bombeiros. Mais recentemente foi com um facão. Uma das irmãs o impediu.

 

Ana Rosa e Leonardo sofrem, como muitos brasileiros, com transtornos mentais. Quantos são? Nem o Ministério da Saúde sabe ao certo. Segundo o coordenador de Saúde Mental do ministério, Roberto Tykanori, estudos indicam 6 milhões.

 

— Há pesquisas que vão para números da ordem de 55% ou 65%. Devemos parar e refletir. Se 65% da população tem transtorno mental, qual o problema dos outros 35%? A grande maioria tem algum tipo de transtorno.


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