Toda loucura não é protegida

Da Redação | 09/12/2014, 00h00

Larissa Bortoni


O aumento no número de atendimentos e as boas intenções do legislador não garantem apoio unânime à Lei Antimanicomial. Para o presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Antônio Geraldo, o equívoco do programa do Ministério da Saúde é a fundamentação em ideologia, e não em dados científicos. O resultado, diz o médico, é que o doente não recebe na rede pública um tratamento da mesma qualidade da iniciativa privada.

Ele diz que é difícil marcar consulta com psiquiatra em ambulatórios — nem todo Caps tem esse médico; quando tem, não trabalha todos os dias da semana — e que faltam remédios em farmácias populares.

 

Antônio Geraldo assegura que a extinção de leitos hospitalares, e não apenas na área da psiquiatria, só trouxe benefícios ao sistema privado, que recebe a demanda não atendida pelos hospitais públicos.

 

— Esses pacientes estão nas ruas. Há estudos mostrando isso e a própria mídia mostra. Nas estradas perambulando, nas cadeias, trancafiados em quartos, acorrentados e sem tratamento. Isso não é cidadania.

 

O poeta Ferreira Gullar teve dois filhos com esquizofrenia. Um deles já morreu. Outro está em tratamento com remédios e mora no sítio de um amigo. Gullar nunca se furtou às críticas à Lei Antimanicomial.

 

Na percepção de Gullar, a extinção dos leitos psiquiátricos não passa de mais um fator de apartação social. Argumenta que as famílias ricas continuam a internar os pacientes nos momentos de crise. Aos pobres, resta deixar o doente em casa, correndo os riscos relacionados a surtos, ou mandá-los para a rua.

 

Médico e senador, Paulo Davim (PV-RN) se aflige com o fechamento de hospitais psiquiátricos. Segundo ele, não é razoável a radicalização. Defende a necessidade de leitos psiquiátricos, apesar de admitir um sistema que não seja centrado em hospitais. Reforça que há doenças que necessitam de um tipo de intervenção que não é oferecido pelos Caps.

 

Nas crises psiquiátricas, o doente, diz Davim, deve receber internação e remédios. Só superados e controlados os surtos, é que é possível o atendimento nos centros.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)